Se existe um tema crucial, a ser discutido em qualquer corrida eleitoral, é o meio ambiente e o clima. Nenhuma cidade está imune aos efeitos da crise climática e do descaso ambiental, mas a pauta raramente é levantada em debates eleitorais ou aprofundada durante as campanhas.
Fortaleza é atravessada por diversos tópicos ambientais: na zona costeira, o avanço do mar preocupa e a destruição dos manguezais, das áreas de restinga e das dunas fixas e móveis vulnerabilizam a Cidade. Por causa do aquecimento global, as chuvas são mais intensas e, aliadas à impermeabilização do solo e do soterramento de rios, bairros (principalmente os periféricos) são alagados anualmente.
No período seco, a umidade é cada vez menos e o calor mais intenso. Isso sem contar os desafios urbanos de arborização, saneamento básico e manejo dos resíduos sólidos. Como os candidatos à prefeitura de Fortaleza tratam esses assuntos? Será que eles reconhecem estes como urgências da Capital?
Para responder essa pergunta, O POVO+ analisou os planos de governo dos nove candidatos, publicados no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), à procura de propostas relacionadas ao cenário de urgência indicado pelo climatologista Alexandre Costa, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), e pela tecnóloga ambiental Luana Costa e Silva, doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente e professora na Universidade Federal do Ceará (UFC).
Para o climatologista, Fortaleza precisa agir em duas grandes questões: a mitigação das emissões de gás carbônico (CO2) e a adaptação às mudanças climáticas. Já a tecnóloga ambiental destaca que os programas e legislações ambientais de Fortaleza, como o Plano Diretor, a Política Ambiental, o Plano Fortaleza 2040 e o Programa Fortaleza Cidade, devem sair de iniciativas “tímidas” para recursos efetivos na transformação da urbe.
Os especialistas citam diversos aspectos fundamentais para a pauta ambiental fortalezense. Primeiro, seria atuar na redução de emissão de CO2 na atmosfera. Para isso, o transporte público coletivo de Fortaleza deve ser expandido em modais e deve almejar a descarbonização. O objetivo seria reduzir a quantidade de veículos particulares por meio de um sistema público convidativo e de uma cidade “mais amigável para pedestres e ciclistas, pontua Alexandre.
“Mas não é só construir ou ampliar ciclovias”, reforça Luana. “Elas precisam ser atrativas ao uso e, sinceramente, o sol em Fortaleza, embora seja atração turística, não é nem um pouco convidativo diariamente. Precisamos que, em sua maioria, tenha sombra e isso podemos conseguir com árvores.”
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A arborização da cidade, portanto, é outro assunto crucial. Seja para favorecer a mobilidade urbana, seja para adaptar a cidade às ondas de calor previstas com o aumento da temperatura global, garantir que Fortaleza tenha árvores para além de alguns poucos parques urbanos deve ser prioridade. “Precisamos de uma política de arborização nativa e de cuidado também. É preciso ter incentivo ao cuidado às árvores, não adianta só plantar mudas”, destaca o climatologista.
A questão dos resíduos sólidos e do saneamento básico também são pontos sensíveis. “A revolta da população com a taxa do lixo se intensifica à medida que se constata que a situação não mudou significativamente. Programas como ecopontos não são efetivos ao passo que a população não está preparada para recebê-los e participar, o que poderia mudar com projetos de Educação Ambiental continuados”, analisa a tecnóloga ambiental.
No que tange o saneamento básico, a doutora ressalta que, em Fortaleza, 387.022 pessoas ainda não têm acesso à água e 902.361 fortalezenses não possuem esgotamento sanitário. A situação piora com a drenagem inadequada e os alagamentos em épocas de chuva.
Ao todo, os especialistas indicaram sete pontos cruciais para a pauta ambiental. Segundo eles, Fortaleza tem um péssimo histórico na gestão ambiental, com um acúmulo de projetos promissores ensaiados, mas nunca adequadamente implementados. “As obras de infraestrutura têm muita supressão vegetal, que é um eufemismo para devastação. Ou seja, o poder público contribui para o cenário…”, reflete Alexandre. “Isso e a leniência com a especulação imobiliária.”
O meio ambiente é transversal a qualquer tema. É possível que os candidatos proponham soluções com efeitos ambientais positivos, mas é ainda mais necessário que eles reconheçam essas consequências ao fazê-lo. Falar sobre saneamento básico e mobilidade urbana, por exemplo, sem mencionar perspectivas ambientais pode indicar que os candidatos estão alheios ao entrelaçamento das pautas — portanto, não foram consideradas pela análise da reportagem como propostas “unicamente” de cunho ambiental,mas como temas transversais.
O POVO+ leu os planos de governos dos candidatos, disponibilizados no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e analisou se as propostas ambientais estão de acordo com os cenários urgentes mencionados pelos pesquisadores. Os temas mobilidade urbana e saneamento básico foram considerados temas transversais e averiguamos se eles foram citados nos planos de governo com ponto de vista ambiental.
Usamos um sistema de avaliação por cores (entenda abaixo). Cada círculo corresponde a um dos sete pontos principais citados pelos pesquisadores, além dos dois pontos transversais. Ao clicar na foto dos candidatos, você tem acesso à análise das propostas.
Este site contém reportagens sobre as eleições municipais de 2024 em Fortaleza, no Ceará e no Brasil, abordando diversas temáticas