Fortaleza registrou um avanço inédito na diminuição da abstenção no 1º turno das eleições municipais de 2024, tornando-se a capital brasileira com o menor índice de eleitores ausentes: 15,52%, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Há quatro anos, essa porcentagem superou os 21%. Apesar da queda, os números poderiam ser ainda menores se os candidatos fossem diferentes.
De acordo com pesquisa Datafolha, contratada pelo O POVO, é possível identificar os motivos e traçar o perfil dos eleitores que se abstiveram do pleito realizado em 6 de outubro. As razões para a ausência dos fortalezenses nas urnas são variadas, incluindo aqueles que estavam fora da Cidade no dia do primeiro turno, os que estavam trabalhando, os que precisavam cuidar dos filhos ou os que estavam doentes.
O que chamou a atenção na pesquisa, no entanto, foi o fato de que 23% dos eleitores apontaram a falta de interesse pelos candidatos, pela eleição ou até mesmo a ausência de um candidato de sua preferência como a principal razão para não votarem. Esse percentual revela que, embora a presença nas urnas tenha aumentado de 2020 para 2024, a motivação política não acompanhou o mesmo ritmo.
O desinteresse pela eleição foi um fator decisivo, especialmente entre os homens. De acordo com os dados do Datafolha, 32% dos eleitores que alegaram sua ausência no 1º turno são do gênero masculino. Esse comportamento contrasta com o grupo feminino, onde apenas 9% das mulheres mencionaram essa mesma razão, evidenciando uma diferença de percepção entre os gêneros em relação ao cenário político atual.
Conforme dados do TSE, analisados na reportagem “Quem são os eleitores que deixaram de votar nas eleições brasileiras?”, publicada pelo O POVO+, a porcentagem de homens que se abstiveram em 2020 foi de 22,26%. Na mesma reportagem, é possível observar também informações sobre faixa etária e escolaridade.
Na análise de agora, nota-se um desinteresse particularmente acentuado entre os eleitores mais velhos. Entre aqueles que não votaram no 1º turno por não considerarem o pleito estimulante, 40% tinham idade entre 45 e 59 anos. Por razões semelhantes, 33% são de eleitores entre 35 e 44 anos.
Quando analisado o recorte por escolaridade, a pesquisa revela que o desinteresse pela eleição é maior entre eleitores com ensino médio completo, com 35% dos que se abstiveram citando essa justificativa. Os números também mostram que 12% desse público são formados por aqueles que possuem apenas o ensino fundamental. Em contrapartida, não há registros de eleitores com ensino superior completo que tenham alegado falta de interesse para não votar.
Os números do Datafolha apontam ainda que a abstenção por desinteresse é maior nos grupos de eleitores com renda mais baixa. Daqueles que recebem até dois salários mínimos, 28% alegaram a falta de interesse. Pouco mais abaixo, com 21%, está a parcela que recebe mensalmente de dois a cinco salários mínimos.
Além do desinteresse, outras razões, como viagens, obrigações de trabalho e problemas de saúde, influenciaram a decisão de muitos eleitores de não comparecer às urnas. De acordo com o Datafolha, 30% dos entrevistados alegaram que estavam viajando ou fora de Fortaleza no dia 6 de outubro.
Dos eleitores que não puderam comparecer às urnas no dia 6 de outubro por estarem em viagem, o perfil delineado pelo Datafolha revela que 46% são mulheres, a maioria (56%) está na faixa etária de 25 a 34 anos, 60% possuem ensino superior e 50% têm uma renda mensal de 2 a 5 salários mínimos.
Além disso, 10% dos eleitores informaram que estavam trabalhando no dia da eleição, o que os impediu de exercer o voto. Esse motivo foi ainda mais recorrente entre os homens, com 16% declarando que as demandas do trabalho impediram sua participação.
Questões de saúde foram mencionadas por 3% dos eleitores como justificativa para a abstenção. Esse percentual é o mesmo daqueles que não puderam ir às urnas porque precisavam cuidar de filhos, pais ou outros parentes. Outras motivações para justificar a ausência foram apontadas por 30% do eleitorado faltante, evidenciando a diversidade de razões que influenciam na não-participação nas eleições.
A pesquisa Datafolha foi contratada pelo Grupo de Comunicação O POVO e está registrada no Tribunal Superior Eleitoral com o número CE-03752/2024. A pesquisa foi realizada de 8 e 9 de outubro de 2024 com 826 pessoas entrevistadas pessoalmente. O intervalo de confiança é de 95%. A margem de erro é de 3 pontos percentuais.
A seleção de quem responderia ao questionário foi feita em duas etapas. Primeiro, foram sorteadas as regiões e os bairros que fizeram parte da amostra. No segundo momento, foram sorteados os pontos de abordagem onde foram feitas as entrevistas.
Por fim, os entrevistados foram selecionados aleatoriamente para responder ao questionário, de acordo com cotas de sexo e faixa etária, de acordo com os dados fornecidos por TSE (agosto/2024), IBGE (Pnad 2023 e Censo 2022) e dados primários de outros levantamentos do instituto.
Série traz reportagens sobres resultados, análises e repercussões de pesquisas eleitorais para eleições 2024 em Fortaleza, Ceará e Brasil