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Quais são as maravilhas de Fortaleza
Reportagem Seriada

Quais são as maravilhas de Fortaleza

No aniversário de 298 anos da Capital, O POVO+ e convidados apontam dez maravilhas espalhadas pela Cidade — de belezas construídas ao longo de quase três séculos a paisagens atribuídas ao Grande Arquiteto
Episódio 2

Quais são as maravilhas de Fortaleza

No aniversário de 298 anos da Capital, O POVO+ e convidados apontam dez maravilhas espalhadas pela Cidade — de belezas construídas ao longo de quase três séculos a paisagens atribuídas ao Grande Arquiteto Episódio 2
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Quais são as maravilhas que habitam a memória dos habitantes de Fortaleza? Seriam as belezas naturais que percorrem a Cidade com o Cocó, o rio bordado de verde, ou com a diversidade do mar como quintal que se reflete pela orla desde a Barra do Ceará até a Sabiaguaba?

A praia do Titanzinho, com o Farol do Mucuripe ao fundo(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE A praia do Titanzinho, com o Farol do Mucuripe ao fundo

Seriam os prédios históricos que acompanham as mudanças do povoado que foi elevado a vila em 13 de abril de 1726 e, 298 anos depois, é considerado a maior capital do Nordeste, com outros tipos de prédios que serão o patrimônio histórico do futuro?

Na qualidade de Teatro-Monumento, o Theatro José de Alencar é uma referência artística e turística nacional que desempenha importantes papéis na vida cultural cearense(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Na qualidade de Teatro-Monumento, o Theatro José de Alencar é uma referência artística e turística nacional que desempenha importantes papéis na vida cultural cearense

Seriam as contradições entre zona nobre e periferia que tanto podem ser vistas do alto do Mirante Santa Terezinha, no Mucuripe, como da ocupação Carlos Marighella, no Mondubim?

Seriam seus museus, parques e praças, cafeterias, livrarias, bibliotecas, mercados públicos, polos gastronômicos, teatros, cinemas? Ou seria a vivacidade do seu povo, que movimenta e dá vida a todos esses lugares?

Ponte Metálica, do Poço da Draga. Antes do Porto do Mucuripe existir, a chamada "Ponte Velha" de onde hoje os jovens saltam era o principal ponto de chegada de pessoas e mercadorias em Fortaleza     (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Ponte Metálica, do Poço da Draga. Antes do Porto do Mucuripe existir, a chamada "Ponte Velha" de onde hoje os jovens saltam era o principal ponto de chegada de pessoas e mercadorias em Fortaleza

Inspirado na lista das sete maravilhas do mundo modernoO POVO+ convidou trabalhadores autônomos, donas de casa, estudantes, motoristas de aplicativo, designers, historiadores, geógrafos, arquitetos e urbanistas, advogados, turismólogos, professores, jornalistas e fotógrafos fortalezenses para fazerem a sua curadoria — e apresenta, em comemoração ao aniversário da Capital, dez maravilhas espalhadas por Fortaleza.

A Cidade constrói e reconstrói a si mesma com as cores, os traços e o jeito de quem lhe dá vida. Por isso mesmo, as maravilhas selecionadas estão longe de representar ou contemplar toda a diversidade e potência compartilhadas entre as mais de 2 milhões de pessoas que nela vivem.

Mesmo assim, essa é uma amostra que reflete o olhar afetuoso dos fortalezenses para o que está diante de si além dos pontos turísticos apreciados por quem vem de fora — de belezas construídas ao longo de quase três séculos a paisagens atribuídas ao Grande Arquiteto.

A Cidade forma um texto a ser lido. Nas histórias é possível acompanhar as transformações do espaço urbano: o farol erguido por escravos que orientava os navegantes, a floresta que crescia livre e se viu cercada, a ponte lançada sobre o rio, a estrada que corta a duna, a divisão dos terrenos, o que está e o que não está nos textos, nas fotografias, nos museus ou nos livros.

A “esquina de Fortaleza”, como nós apelidamos essa região, é o lugar onde um dos maiores patrimônios culturais é o surfe, junto da pesca artesanal e da resistência de um povo que merece e deve morar perto do mar. Farol do Mucuripe é comunidade, cultura e simboliza uma cidade de memória viva que conhece e valoriza o que possui. — Diêgo di Paula, guia de turismo e fundador do Acervo Mucuripe

Muito mais que um campo de futebol, a Arena Castelão surge como um espaço que reúne a identidade de multidões. O boêmio e universitário Benfica é citado com frequência por ser um dos polos culturais mais movimentados.

a Floresta do Curió é um espaço de respiro pouco conhecido cujo nome remete, primeiro, aos estigmas de violência que marcam essa região.

Da praça dos Mártires (Passeio Público), no Centro, a mais antiga da Cidade, ao Parque Rachel de Queiroz, no Presidente Kennedy, um dos projetos mais recentes, as maravilhas de Fortaleza também são redutos de movimento com cultura e gastronomia que estão em bairros como Cidade 2000, Jóquei Clube, Lago Jacarey, Maraponga, Mondubim e Parquelândia.

Se o “Gigante da Boa Vista” não existisse, parte da identidade da Cidade também não existiria. Sua história e representatividade trazem consigo uma identidade própria, não somente por sediar jogos e eventos importantes, mas pela capacidade de unir pessoas de diferentes classes e culturas, acolhendo do público local a povos de outras nações. — Rodrigo Vieira, motorista de aplicativo e torcedor do Fortaleza Esporte Clube

Como também ficou evidente no especial Fortaleza das Mulheres, publicado em março do O POVO+ em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, há lugares que não são necessariamente físicos, mas podem ser encontrados em outras pessoas, porque elas estão atadas ao que narram.

As imagens, falas e memórias resgatadas e alimentadas a cada novo encontro entre os habitantes da Capital são como linha e agulha a costurar vidas ao tecido urbano, até que torna-se visível a estampa feita sobre ele.

Há 298 anos, Fortaleza é costurada por seus retalhos urbanos e se estende como uma colcha sobre nós.

Confira as maravilhas de Fortaleza

Clique na seta no canto superior esquerdo do mapa para ler sobre as 10 maravilhas

 

 

A vivacidade de uma cidade viva: longe das mil maravilhas, mas perto de maravilhar

por Karyne Lane*

Habitar é deixar rastros — nem sempre físicos. Sou testemunha ocular e auricular de como os habitantes de Fortaleza se misturam com esse lugar como paisagens humanas de diferentes pertencimentos, memórias e narrativas — que deixam rastros em mim e se transformam nas ideias e sentimentos que tento comunicar com fidelidade.

Por isso, sabia que não seria uma tarefa fácil escolher lugares que pudessem representar, ainda que minimamente, a diversidade que está além do físico na Capital — principalmente para mim, que depois de adulta descobri ser uma “exploradora de terrenos” (expressão de uma amiga) verdadeiramente apaixonada pela Cidade.

 

Uma percepção de certa forma tardia, pois cresci numa Cidade rarefeita. Ao meu redor, quase nunca via uma construção mais alta — salvo as que algum vizinho de família grande resolvia empilhar, mas aquilo nunca me pareceu muito seguro. Minha vida sempre foi ali, calma e pacata entre Parangaba e João XXIII.

Acompanhei a chegada dos shoppings e da infraestrutura que veio junto; a retirada da Feira dos Pássaros, que frequentava com minha avó, para o outro lado da Lagoa da Parangaba; a ameaça constante de nos mudarmos devido à “passagem da pista” quando havia um projeto de expansão da Avenida Augusto dos Anjos — continuação da Avenida José Bastos.

Só hoje percebo o quanto essas questões sempre me interessaram, mesmo numa época em que ainda nem tinha compreensão suficiente para entendê-las, e o quanto estão ligadas ao que continua a me interessar hoje. Repito: há lugares que são pessoas; elas estão atadas ao que narram.

Karyne Lane, jornalista e repórter do O POVO(Foto: Karyne Lane/Acervo pessoal)
Foto: Karyne Lane/Acervo pessoal Karyne Lane, jornalista e repórter do O POVO

Quando — em raros episódios — eu saía de casa, era para ir ao Centro na companhia da minha mãe, que era costureira, nas idas semanais dela para comprar vidrilhos, lantejoulas e linhas.

Os prédios me encantavam, mas aqueles lugares intrigantes ficavam pelo caminho, pois não havia tempo de parar para conhecê-los. Lembro de interessar-me muito pelo tão comentado Dragão; um lugar com esse nome só podia ter o “chama”.

Já adolescente, com outro olhar, costumava ver os edifícios, empreendimentos e estruturas mais complexas quando atravessava os bairros nobres dentro do ônibus a caminho dos afazeres que precisava enfrentar para ter um bom estudo. Ali já se apresentava, para mim, a clara separação (simbólica e concreta) entre ricos e pobres.

Foi somente num passeio da escola que conheci o Dragão do Mar, e somente depois de adulta que descobri Fortaleza. Minha mãe se foi, mas a semente do espírito de andarilha ficou em mim e germinou. “Bater perna” virou o que me move.

Descobri o fascínio em conhecer os lugares distantes de mim — mas os próximos também. De sair, mas depois voltar para o meu lugar com a mochila carregada de colchas de retalhos como as que minha mãe costurava — só que essas não sobre o cetim, e sim sobre o tecido urbano.

Meus amigos brincam com esse “hobbie”, mas uma amiga descobriu e definiu o que sou: uma exploradora de terrenos. Acompanhada ou sozinha, estou sempre a transitar entre eles — dos íngremes aos simetricamente loteados, dos ocupados aos vazios, dos coloridos aos monocromáticos.

Aqui, nos demais dias do ano, é impossível ficar alheia: sou lembrada diariamente que a Cidade não está “às mil maravilhas”. Fortaleza para uns, muralha para outros. Mas neste dia de comemorações, deixo a paixão falar mais alto e me permito maravilhar pela vivacidade de uma cidade viva para celebrar a sua vida. Viva, Fortaleza! Feliz aniversário!

*Karyne Lane é jornalista, repórter do O POVO+ e “exploradora de terrenos”

E você, caro leitor e cara leitora, quais maravilhas de Fortaleza acha que deveriam estar aqui? 

  • Edição O POVO+ Fátima Sudário e Regina Ribeiro
  • Texto e Recursos Digitais Karyne Lane
  • Identidade visual e Design Gil Dicelli e Cristiane Frota
  • Imagens Aurélio Alves, Fábio Lima, Fco Fontenele, Fernanda Barros e Samuel Setubal
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