Como uma noiva de véu azul, Fortaleza é encoberta pelo mar e sobe ao altar todos os dias com a beleza de sua metade inseparável. A imensidão do oceano se mistura com o sol que aquece a pele, a brisa que refresca a alma e ► o som das imponentes ondas, que desafiam os mais corajosos a se aventurarem nas águas do Atlântico.
A relação da Capital cearense com o mar é mais do que apenas um encontro casual de elementos naturais: a cidade respira ele, mora nele e vive dele.
É dessa união que surgem as principais atividades econômicas, desde a pesca até o turismo, e se formam as praias que são fonte de inspiração para artistas ou refúgio para quem busca descanso e lazer, desde um simples banho até os diversos esportes.
Mas a cidade de quase três séculos que hoje se inclina para admirar o litoral, um dia já viveu de costas para ele. Embora seja difícil imaginar um cenário em que a praia não esteja relacionada à água de coco, esse lugar só se transformou em ponto turístico na história recente.
Foi em direção ao sertão que Fortaleza se voltou inicialmente — onde o algodão era cultivado e o gado era criado para a produção de charque. Antes de ser alvo de disputa entre os colonizadores holandeses e portugueses, a costa era habitada por tribos indígenas que viviam de atividades como a pesca e já costumavam tomar banho em rios e lagos.
Com a chegada dos europeus, no início do século XVII, esse se tornou o temido território do desconhecido que somente pescadores e navegantes tinham coragem de enfrentar, por muito tempo associado ao tráfego marítimo, comércio e à proliferação de doenças trazidas pelos estrangeiros.
Elevada à categoria de vila em 13 de abril de 1726, Fortaleza se consolida como importante rota de comércio e um pequeno povoado cresce em torno do forte que lhe rendeu o nome de batismo, impulsionado pelo fluxo intenso de pessoas que fugiam das secas no interior.
A colonização torna o Porto de Fortaleza um ponto de compra e venda de escravos para a produção de açúcar e algodão. Em 1823, um ano após a Independência do Brasil, é elevada à categoria de cidade e capital da província do Ceará.
Já no século XIX, os segmentos dominantes da sociedade não admitiam o mar como propício à moradia e lazer. O litoral era tratado como espaço para despejo de esgoto, inadequado à vida cotidiana.
Lá haviam estivadores, jangadeiros, pescadores, portuários e remanescentes das secas que decidiram ir para os arrabaldes da cidade, já que a elite política tinha uma postura de higienização.
A França foi um dos países pioneiros no processo de descoberta do mar para fins de balneabilidade, e a influência francesa durante a belle époque, que resultou em algumas das belas edificações históricas da cidade, foi também responsável pela instalação das primeiras moradias próximo à costa.
O surgimento das colônias de férias, uma consequência do direito ao período de descanso conquistado pelos trabalhadores, popularizou-se a construção das casas de praia e os banhos de mar como fontes de lazer. É quando começam a ser instalados hotéis, cassinos e clubes de regatas.
A Praia de Iracema inaugurou esse período de supremacia do mar e da praia para fins de lazer. O litoral também atraiu sedes de clubes sociais como o Ideal Clube, o Náutico Atlético Cearense, o Clube dos Diários, a AABB e o Comercial Clube.
É o que explica Paulo Linhares, autor do livro ‘Cidade de água e sal: por uma antropologia do litoral do Nordeste sem cana e sem açúcar’.
A construção dessas edificações é um exemplo de como a cidade se moldou voltada para o sertão, conforme mostra o antropólogo: “Digamos que a cidade é construída de costas para o mar. Se você pegar os clubes sociais como Náutico, todos foram construídos de costas para o mar, porque não tinha essa relação”.
Embora a ideia de frequentar a praia e tomar banho de mar seja muito antiga, essa sociabilidade urbana é relativamente nova. No Rio de Janeiro, Copacabana se tornou referência para as famílias de alto padrão que buscavam o turismo de praia.
Linhares afirma que somente nos anos 50 é que Fortaleza seguiu esse caminho, e com a construção da Avenida Beira-Mar, a grande varanda da cidade, é que se “virou” definitivamente. “Depois de várias mudanças, ganhou novo perfil: ficou mais elegante e requintada. O Edifício São Pedro, inaugurado em 1951 como Iracema Plaza Hotel, foi o primeiro da orla marítima da Praia de Iracema”, conta.
Os primeiros edifícios erguidos na Avenida marcaram o início da verticalização fora da área central. Assim eles surgiram: Marinho de Andrade, Jalcy Beira-Mar, Pérola, Jacqueline, Arpoador, Hotel Imperial Othon Palace, Palácio Atlântico, Hotel Beira-Mar e muitos outros.
Apesar disso, o litoral de Fortaleza não era valorizado para fins de moradia dos empresários, políticos e profissionais liberais, que preferiam as imediações do Centro até o bairro Jacarecanga para suas residências.
O interesse pela ocupação das áreas de praia por grupos sociais de alto padrão financeiro é recente, fato que explica, em parte, a ocupação dessa área por uma população mais pobre, constituída de migrantes e sucessivas levas de flagelados das secas.
“Esse processo de mudança na relação da cidade com o mar é influenciado pela ocupação do espaço urbano de acordo com a classe social. A cidade se situava no sentido de leste para oeste, e a elite residia em Jacarecanga, enquanto os trabalhadores ficavam na saída para o sertão. Quando a elite mudou-se para a Aldeota, houve uma valorização do espaço marítimo”, ressalta o antropólogo.
Assim a Capital se dividiu socialmente, com uma separação de classes que se reflete na relação das pessoas com o mar: há uma praia para a população de baixa renda e outra para a população de renda mais alta.
É o que destaca o professor José Borzacchiello, do departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Fortaleza muda de idade, completa 297 anos e mostra-se bem diferente daquela cidadezinha franzina de outrora. Os mares continuam ornando a sua orla com a mesma beleza. Suas ondas num vai e vem constante arrebentam formando uma enorme rede com varanda branca. Essa beleza esfuziante seduz seus moradores, encanta os turistas.
Fortaleza é esta mescla de sertão molhado pelo mar com marcas de areia por onde passa. Sua brancura atravessa os tempos, a dos armazéns de algodão da segunda metade do século, agora retrasado, a das dunas brancas descobertas quando da transposição do Jacarecanga e a cidade se expandiu oeste afora pelo Pirambu e Barra do Ceará. Em seguida, foi o Pajeú.
Daí espraiou-se pelo areal da Aldeota, Praia do Futuro, Cocó. A cidade substituiu tudo muito rápido. Como num passe de mágica, desaparece a luminosidade de suas casinhas brancas e simples. São substituídas por edifícios luxuosos, também brancos, em sua maioria. Com o Cocó, habituamo-nos ao verde. A cidade ficou parcialmente mais ecológica com a fibra de seu povo que, de forma altiva, mostrou sua resistência envolvendo-se em movimentos sociais reivindicatórios.
Enquanto a Jacarecanga crescia longe do mar, a Praia de Iracema, até então local de pescadores adquiria novas funções urbanas. A Praia típica de jangadeiros com suas casas de palha, com suas areias muito limpas e repletas de coqueiros, desperta a cobiça dos mais abastados. O pioneiro foi o coronel Porto, recifense, que em 1926 inaugura o que mais tarde seria o restaurante Estoril. Os moradores do bairro descobriram ali, os prazeres dos banhos nas águas salgadas dos verdes mares.
Em pouco tempo o bairro se urbaniza com casas e sobrados. A partir da Segunda Guerra Mundial, com a presença dos soldados americanos na cidade, o bairro torna-se boêmio, fama que se mantém até os dias atuais.
A Avenida Beira-Mar é a grande varanda da cidade. Depois de várias mudanças, ganhou novo perfil com o projeto de engorda de praia. Ficou mais elegante e requintada. O Edifício São Pedro, inaugurado em 1951, foi o primeiro da orla marítima da Praia de Iracema.
Fortaleza é uma cidade inusitada. É também a capital do sertão à beira mar. Destaca-se, pois ao mesmo tempo cresceu e inscreveu-se de forma incisiva na realidade urbana do país, alçando-se a uma posição que até agora só era ocupada por centros urbanos mais tradicionais.
Em 1890, Fortaleza contava com 40.902 habitantes. Em 1920 esse total já era de 78.536. O grande salto é registrado no Censo de 1940, quando o estado passa para 180.165 acusando um crescimento de 129,4 % em relação ao Censo anterior. Começa um período de forte incremento demográfico que culmina em 2019, segundo estimativa do IBGE que contabilizou 2.669.342 habitantes, consolidando-se como a quinta maior cidade brasileira.
Na mesma estimativa, a Região Metropolitana de Fortaleza contava com 4 019 213 habitantes, ocupando a 7ª posição no País. Essa inserção se expressa na presença constante de brasileiros de outras regiões, na instalação de empresas nacionais e estrangeiras que a procuram e nela encontram local adequado para seus investimentos.
Enquanto a cidade vai engolindo terra à sua volta, altera o seu perfil, elege novos lugares. É nessa passagem que o seu centro tradicional vai perdendo prestígio. E lembrar que ele já teve seus dias de glória. É lamentável constatar o estado de deterioração de seu mobiliário urbano de qualidade, com estátuas, monumentos, bancos, grades, caixas d’água, balaustradas, entregues ao abandono. É grande o número de estabelecimentos comerciais e de serviços que abandonaram suas atividades, mantendo suas portas cerradas. Esse quadro se acentuou com a pandemia que maltratou muito o centro da cidade.
Moradores em situação de vulnerabilidade social ocupam seus espaços públicos. É expressiva a quantidade de vendedores ambulantes e de camelódromos que competem com os comerciantes e, ao mesmo tempo, transforma o centro num dos espaços mais animados da Capital.
O Centro permanece extremamente dinâmico e se consolida como centro da periferia. A cidade apresentou a partir dos anos sessenta, acentuado crescimento demográfico, um dos fatores explicativos de sua expansão recente com acentuado aumento do número de favelas, construção de enormes conjuntos habitacionais, formação de extensas áreas periféricas.
A população da metrópole constituída de 19 municípios, já ultrapassa os quatro milhões de habitantes. A antiga franja pobre de seu espaço metropolitano alterou substancialmente o seu perfil, condomínios de luxo, shoppings centers disputam espaço com extensas áreas ocupadas por bairros proletários e conjuntos habitacionais.
É a nova realidade espacial da cidade que conheceu uma expansão urbana sem igual, e que explica essa nova configuração metropolitana. São várias as empresas que migraram em busca de novas localizações e provocaram a polinucleação da cidade, fragilizando o centro tradicional.
Fortaleza completa mais um aniversário e temos muito que comemorar. São 297 anos dessa cidade surgida na margem esquerda do Rio Pajeú, bem ali, nas imediações da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção.
A cidade mirrada e inexpressiva ganhou porte despontando como uma das mais importantes do país. A cidade garbosa, uma das preferidas pelos turistas, ostenta uma orla belíssima, recentemente ampliada com um ambicioso programa de engorda de praia que super valorizou a parte mais conhecida como Beira Mar. Essa tradição de aformosear alguns setores da cidade data de muito tempo. Quando a cidade não extrapolava o seu Centro, a Praça do Ferreira era o seu principal ponto de atração com a sua coluna da hora, lojas de prestígios, hotéis, restaurantes e o elegante Cinema São Luiz.
As pessoas se encontravam no centro. Lá estava o Palácio dos Leões, sede do poder executivo, a Assembléia Legislativa, o Fórum, hotéis, restaurantes e muitos serviços. Os armazéns de tecidos ostentavam os últimos lançamentos e eram muito concorridos. Os cinemas garantiam diversão certa. O Passeio Público era puro glamour.
O bairro mais sofisticado era a Jacarecanga com seus palacetes e casas luxuosas. Quando os banhos de mar se incorporam nos costumes da cidade, a Praia da Iracema fica reconhecida. Nela surge um prédio, hoje em total estado de abandono, que vai dar lugar a um hotel - o Iracema Plaza e a um edifício de apartamento, o São Pedro.
A cidade cresceu em todas as direções dando origem a novos bairros. Transpôs o Riacho Pajeú e novos loteamentos deram origem à Aldeota. Com a abertura da Avenida Beira Mar, o bairro Meireles se firma e imprime prestígio naquela porção da orla. Em pouco tempo, funções importantes da área central se transferiam para a Aldeota – Palácio Abolição, bancos, escritórios de profissionais liberais, consultórios, serviços públicos. Em seguida chegaram os supermercados e os shoppings centers.
São atividades que logo transformaram a Aldeota e em pouco tempo casa foram demolidas dando lugar a edifícios de apartamento, reforçando essa nova forma de morar na cidade. Eram pequenos sobrados no início, depois edifícios de três pavimentos sob pilotis. De uma hora para a outra a cidade viu-se pontilhada de edifícios de onze, doze, dezesseis, vinte e dois andares. Hoje vê-se alguns com mais de trinta andares e outros com cinquenta.
Até agora falo mais da Fortaleza oficial, da cidade formal. Entretanto, a cidade maior, a que congrega milhões de fortalezenses, é desprovida de luxo e de glamour. É a cidade dos prestadores de serviços, dos comerciários, gente que acorda muito cedo e que depende dos transportes públicos, usa a bicicleta para trabalhar e não só para passear. Essa parcela tem poucas opções de lazer.
Mesmo assim ela vibra com cada aniversário da cidade, participa de maratonas, torce pelos seus principais times, anima o comércio do centro e dos bairros populares, cumprem seus ritos religiosos, curte a cidade.
“O Meireles só recentemente se consolida como local de moradias de luxo. O mar, além do frescor da brisa permanente que ameniza as temperaturas da cidade, transformou-se em paisagem valorizada de modo que a publicidade dos edifícios em construção na orla focalizam a vista para o mar como um item de valorização do imóvel que está sendo vendido”, indica.
De acordo com o geógrafo, esse movimento da intensificação da atividade turística e especulação imobiliária é uma ameaça constante aos fortalezenses mais pobres que moram nessa faixa do município, que “temem a cada anúncio de novo investimento pensado para aquela área”.
Aos poucos, o desenvolvimento da metrópole ao longo de 297 anos tornou a vista para o mar um cenário cobiçado, e ter a praia como quintal ou varanda virou privilégio. Mas o oceano abraça o litoral de leste a oeste — e, de forma democrática, se estende tanto para os de PIB mais alto como para aqueles cuja paisagem marítima parece ser a maior riqueza.
A Barra do Ceará é um pedaço histórico e emblemático de Fortaleza: considerado o marco zero da cidade, foi lá onde desembarcaram os primeiros colonizadores, ainda no século XVII. Composto por uma rica diversidade ambiental, com praias, dunas, mangues e rios, o bairro é testemunho vivo de uma história que é passada de geração em geração — como na família de Victória Monteiro.
Para a jovem de 23 anos, a vista privilegiada que lhe acompanha desde o nascimento é casa, trabalho e lazer. “Daqui nasceu o que me move hoje em dia, que é a paixão pela natureza”, diz Victória, que é estudante de Ciências Ambientais da UFC e trabalha como educadora ambiental no Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte da Barra do Ceará (Cuca Barra).
“Viver nesse bairro é um legado e um ativismo. É onde comecei a me interessar pelas questões ambientais, porque sempre tive contato com esse ambiente rico, tanto historicamente quanto biologicamente, com o rio, o mar, a floresta de mangue e as dunas”, declara.
O afeto pelo lugar motiva Victória a inspirar outras pessoas onde quer que vá: “Sempre tento levar a Barra, falar que aqui foi onde tudo começou, o ponto de partida para o desenvolvimento de Fortaleza, e que para além disso a gente é muito biodiverso”.
Para ela, a região não sofre tanto com a especulação imobiliária, mas carece de investimentos do poder público que valorizem a natureza e permitam que a própria comunidade possa usufruir.
“O que é bom, porque as pessoas que historicamente sempre estiveram ali conseguem se manter. Mas também é ruim porque falta investimento. A gente viveu por muito tempo que largado às traças”, diz.
“Muitas vezes as pessoas aqui da favela são privadas desses momentos de lazer e momentos turísticos. Como ser humano, não ter esse vínculo com o seu território e com aquilo que está ao seu redor é muito ruim. Trazer novos investimentos e empreendimentos também faz com que as pessoas sintam orgulho de morar na Barra do Ceará e queiram estar e se divertir aqui”, afirma.
“Minha mãe nunca gostou muito de me deixar brincar na rua, mas uma das memórias que eu tenho é de todas as tardes, nesse mesmo horário, ela chegava do trabalho e sentava comigo ali na areia, quando ainda não tinha o calçadão. Para mim, isso me fez criar um vínculo muito forte com a praia”, recorda.
Victória não esconde a emoção ao falar da região onde cresceu e se descobriu como pessoa e profissional: “É uma praia que você vê, ela nem parece uma praia urbana. Você parece estar em outro lugar. A vista ali do Marco Zero é linda demais, mas as pessoas saem daqui para a Praia do Futuro, Praia de Iracema, sendo que a gente tem isso aqui. Que é a nossa riqueza, que é o nosso lugar”.
“Como ser humano, não ter esse vínculo com o seu território e com aquilo que está ao seu redor é muito ruim. Esse aqui é o meu ambiente de trabalho, meu ambiente de estudo, meu ambiente de lazer. É meu tudo”. Victória Monteiro, cientista
Não muito distante dali, na comunidade Vila do Mar, no Grande Pirambu, Nonato Azevedo atravessa a rua e observa a correnteza do oceano como quem escolhe as melhores ondas, sempre abraçado com sua fiel escudeira: a prancha.
Nascido e criado na beira da praia, onde toda a família se estabeleceu, o surfista de 39 anos tem conexão com o mar desde a infância. De início, aquele ambiente foi uma forma humilde de sobrevivência — a pesca era uma saída para matar a fome e garantir o sustento.
Com muito trabalho e as melhorias urbanas, Nonato conta que pôde passar a desfrutar do lugar também para práticas esportivas, e foi aí que lhe despertou uma nova paixão: o surfe.
Atleta premiado, o surfista participa de competições e tem a seu favor uma grande vantagem: quando precisa treinar, sua casa está a poucos metros da água.
“Praticamente vivemos do mar, alguns através do esporte, outros através da pesca, outros de mergulhos, passeios, e muitos outros meios. Acho que nós sabemos aproveitar um pouco melhor porque praticamente sempre vivemos dele”, defende.
Para Nonato, morar em frente ao mar está no sangue e é uma constante na sua vida. Quando sai para outras atividades, se sente um peixe fora d'água, sente falta e quer logo voltar para casa. “Queriam colocar a gente pra bem longe, mas a gente nasceu e se criou aqui. A gente brigou, batalhou e vai sempre lutar pelo nosso espaço aqui, em frente ao mar”, assegura.
Mesmo com a demora de décadas, o surfista acredita que as mudanças na infraestrutura na orla têm sido positivas, com pavimentação, saneamento, construção de quebra-molas e instalação de uma areninha. “Melhorou muito mesmo, principalmente com a questão do esgoto a céu aberto”, comenta.
Infelizmente, segundo Azevedo, ainda falta consciência e zelo por parte da própria comunidade em alguns aspectos: “Algumas pessoas não sabem usufruir bem do que elas têm e acabam causando poluição visual, jogando lixo na praia e deixando animais soltos na orla. A falta de fiscalização e de conscientização se torna um grande problema”.
Apesar disso, Nonato não se imagina em outro lugar junto da esposa e dos dois filhos, de 7 e 13 anos, além dos três cachorros que animam a casa. Assim, o surfista leva a vida leve como um peixe, que precisa ser fluido e flexível nos movimentos para se adaptar rapidamente às mudanças de direção e intensidade da onda, aproveitando as correntes e as marés para navegar com a habilidade e a agilidade que lhe são natas.
“Queriam colocar a gente pra bem longe, mas a gente nasceu e se criou aqui. A gente brigou, batalhou e vai sempre lutar pelo nosso espaço aqui, em frente ao mar." Nonato Azevedo, surfista
Michel Vibration faz questão de reafirmar sua identidade ao se apresentar: "sou um homem negro envolvido diretamente com o direitos humanos e políticas afirmativas, apaixonado pela natureza e em especial pelo mar, que sempre foi abrigo durante todos os anos de luta e resistência".
Articulador comunitário, produtor cultural, microempreendedor e arte educador, Michel foi criado em frente à praia Formosa, no Arraial Moura Brasil, conhecido como favela do Oitão Preto. "Artevista" desde a infância, como ele mesmo se denomina, atravessa, há 31 anos, as estatísticas e os estereótipos que estruturalmente afetam as periferias de Fortaleza.
"Morar próximo ao mar já foi exclusão por muito tempo. Lembro bem do tempo em que a linha férrea ainda cortava o bairro e não havia um interesse social/econômico. Hoje, uso e abuso dessa relação de A'Mar o Mar. Tristezas choro no mar, alegrias celebro no mar. Crescendo na beirada da praia a gente entende que o movimento da vida não é diferente do que ele faz: maré cheia, maré seca, dias calmos, dias bravos", profere.
"Nasci e me criei na beira da praia, em paralelo com o centro da cidade e todo o meio cultural, com outras grandes periferias próximas, entendendo nossas raízes e percebendo que tudo faz uma conexão gigante. Sempre que trouxe pessoas para apresentar ou para executar alguma atividade as falas foram as mesmas: 'deve ser muito bom morar aqui'", relembra.
Quando reflete sobre as memórias afetivas que tem, Michel exclama que todas elas estão ligadas ao mar, "das melhores às piores": "Abro o portão e dou de cara com a praia. Talvez, se não fosse o mar, não haveria história para contar".
"Falar de mar é ter linhas infinitas de falas que acalmam, infinitas histórias de resistências que lutam e existem para a oralidade sobreviver, as mãos enrugadas, cadeiras nas calçadas, de narrativas ancestrais sobre as ruas engolidas, ele só tomou o que sempre pertenceu a ele. Hoje a tentativa é de tomar o que é nosso, o que com tanta luta a gente ressignificou", acentua.
Hoje criminalizada por muitos, como relata ele, a praia Formosa sempre foi uma oportunidade de construir percursos urbanos no entorno do Centro da cidade.
Ao comentar sobre a aproximação do poder público por meio do esporte, saúde e educação, com equipamentos como o recentemente inaugurado Complexo Estação das Artes, Michel questiona: "Importante ter o aparelhamento, termos ao nosso redor, mas o que vem sendo feito para que tenhamos uma ocupação mais legítima?".
"Vivemos anos difíceis há pouco, de políticas que foram quase extintas, mas acredito que temos algumas gotas de esperança. O caminho é acreditar mais nas metodologias de educação popular nas escolas, nas metodologias de saúde popular, trazendo e resgatando os cuidados com atendimentos mais humanizados e menos biomédico, uma cultura preta, periférica, valorizada e sendo pautada nos equipamentos, promovendo acessos e serviços que deem o devido protagonismo. Uma cultura menos elitizada", finaliza.
Para o geógrafo Sérgio Rocha, morar próximo ao mar significa qualidade de vida e legitimidade, mas nem sempre foi assim. Morador da mesma casa desde que nasceu, na comunidade centenária do
“A região do litoral como um todo, mas o meu lugar, o Poço da Draga, em especial, é extremamente relevante para a história de Fortaleza. Aqui é onde se encontra a ponte velha e vários outros equipamentos que foram fundamentais para o crescimento da cidade, como a Alfândega, que hoje é a Caixa Cultural, os galpões de estoque de mercadorias e o primeiro hotel, que foi o São Pedro”, reivindica.
Para o líder comunitário, o Poço hoje é um espaço de moradia, lazer e trabalho para muitos habitantes locais. Rocha ressalta, no entanto, que o litoral é muitas vezes visado e cobiçado para ganhos econômicos, o que pode ameaçar sua preservação.
“Muitas famílias advindas do segmento dominante da sociedade começaram a vislumbrar o litoral por conveniência, e não por empatia, depois de adquirirem na Europa o conhecimento de que o mar é terapêutico e bom para a saúde”, reitera.
Na avaliação do geógrafo, atualmente essa região é vista como propícia aos anseios do mesmo segmento que outrora negava, mas com outras perspectivas, principalmente voltadas a interesses econômicos através do turismo.
“Ninguém queria o litoral, nós ocupamos, moramos e resistimos nele. Agora há várias intenções de fazer daqui um canteiro de obras, não para moradia num ambiente, mas sobretudo pelo ganho financeiro através de novas estruturas, rearranjo urbano e equipamentos”, frisa.
“Tenho uma memória afetiva muito forte dos pulos da ponte e do hábito ininterrupto nosso de ir à praia com os isopores, sabe”, conta.
Criado em meio à coletividade, Sérgio tem laços fortes com a população, que sempre indica seu nome quando o assunto é a história do lugar. “Ele tem um trabalho de memória muito bonito, você vai gostar”, fala uma moradora.
De fato, Rocha é uma enciclopédia humana que carrega na mão um mapa de Fortaleza — que valoriza a identidade e nunca esquece das origens.
“Morar tão próximo ao mar significa qualidade de vida e legitimidade. Nós usufruímos do litoral como moradia, trabalho e lazer. Ninguém queria o litoral, nós ocupamos, moramos e resistimos nele”. Sérgio Rocha, geógrafo
O mar é um símbolo poderoso de emoção e profundidade, e assim também é o amor entre duas mulheres. Nome consolidado na lista de profissionais de eventos da Capital, a decoradora de eventos baiana Gil Santos deixou sua terra-natal há onze anos para viver uma grande paixão.
Hoje a designer divide a vida com a atual esposa, a banqueira cearense Denise Bezerra, com quem mora há oito anos em um apartamento na Avenida Beira-Mar, na Praia de Iracema, um dos metros-quadrados mais caros do País.
Além de assinar trabalhos importantes para artistas renomados como Daniela Mercury e Flora Gil, ela é responsável pelo visual de grandes eventos na cidade, como a edição de 2023 da Farofa da Gkay em 2023, no Marina Park Hotel.
Mãe da influenciadora digital Fê Sena e do pequeno Bento, a decoradora conta que busca a vista para o mar em todos os lugares que mora, como no apartamento que possui em Miami, na casa que possui na Taíba e no apartamento do Corredor da Vitória, em Salvador.
O horizonte azul faz parte da rotina de Gil, que acorda todos os dias e vai à varanda saudar Iemanjá, agradecendo pela conexão que sente com a cidade e por morar em frente ao mar.
“Eu sou muito grata por morar em Fortaleza, uma cidade que me acolheu. Hoje eu tenho um nome forte aqui no ramo de eventos graças ao cearense e a essa cidade Fortaleza. Eu amo o lugar que escolhi para morar, tenho um amor profundo por Fortaleza”, confidencia.
A proximidade com o mar também influencia em outros aspectos de sua vida: “Eu trabalho na Beira-Mar, a uma quadra da minha casa, eu ando na Beira-Mar, o meu filho pequeno brinca na Beira-Mar, então isso é muito significativo para mim”.
Gil elogia as reformas da Avenida e afirma que os reparos trouxeram parques e áreas de lazer para as crianças, o que tornou o local ainda mais agradável para quem vive ou visita a cidade.
No perfil do Instagram @santosgil, a designer compartilha detalhes do seu dia a dia, desde o matrimônio com Denise, que foi um dos primeiros casamentos gays de Salvador, até o cotidiano com os filhos e o trabalho em grandes eventos.
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Natália Jales, 37, é uma contadora que deixou a profissão para se dedicar à mentoria de mulheres e ao trabalho como coaching. Em busca de mais qualidade de vida, ela seguiu a vontade que sempre teve de morar perto do mar e finalmente decidiu se mudar para a Avenida Beira-Mar, na altura da Praia do Mucuripe, bem próximo ao Mercado dos Peixes.
Com apenas uma semana e ainda desfazendo as malas, a mentora não disfarça a empolgação ao dizer o quanto a experiência tem sido positiva.
“É maravilhoso porque você acorda e já olha para o mar, desce para caminhar, e tem vários passeios que você pode aproveitar para fazer aqui na Beira-Mar, coisas que até quando eu morava mais distante, na Maraponga, eu vinha pra cá só para fazer, porque eu sempre gostei”, relata.
A localização da Beira-Mar tem sido excelente para os projetos e relacionamentos de Natália, que tem vínculos fortes com amizades na igreja que frequenta e se sente realizada em sua nova casa.
“Eu tenho muita conexão com Deus quando eu vou pra lá tomar banho, passear, fazer qualquer coisa no mar. Acho lindo demais, quando está forte a maré então fica aquele barulho, eu acho incrível, porque é algo que Deus deixou pra gente, na natureza. E está tudo livre, zero reais de investimento para usufruir disso”, reflete.
“Nossa vida é feita de ciclos, estações, então nesse momento agora que eu estou vivendo hoje foi realmente o melhor lugar que eu poderia estar”, avalia.
A mudança para a Beira-Mar não só trouxe felicidade para Natália, mas também demonstra que é possível conciliar trabalho e lazer em uma cidade com uma grande conexão com o mar.
“O meu trabalho é digital, onde eu estiver com a ferramenta já é possível trabalhar, o mercado digital proporciona isso. Então em questão de deslocamento é tranquilo porque eu trabalho num café, aqui mesmo no apartamento, então é qualidade de vida”, evidencia.
Natália tem se organizado para encaixar essas atividades em sua rotina e aproveitar tudo o que a região tem a oferecer e compartilha sua rotina em seu perfil no Instagram, @nataliajales, onde mostra que é possível conciliar qualidade de vida e trabalho.
“Eu tenho muita conexão com Deus quando eu vou pra lá. É algo que Deus deixou pra gente, na natureza. E está tudo livre, zero reais de investimento para usufruir disso”. Natália Jales, contadora e mentora
O Cais do Porto, em Fortaleza, esconde algumas joias raras da cidade. Uma delas é Francisco Luciano, ou simplesmente Lulu, que reside bem numa esquina e é um dos moradores mais antigos de uma pequena comunidade na ponta do mar: o Titanzinho.
O que parece a descoberta de um oásis para uns, é uma vista corriqueira para outros. A medida em que se sobe em direção à casa do Sr. Lulu, a pequena faixa azul no horizonte se aproxima até chegar a um ponto alto que mais parece cenário de filme.
Na companhia do cachorrinho Billy, ele caminha com a ajuda de sua bengala para sentar na calçada em mais um fim de tarde na rua Pontamar (que não tem esse nome à toa). Na frente do pequeno comércio que fica colado na casa, um grupo de crianças se junta para observar a pescadora que tenta fisgar algum peixe.
A mansidão da voz entrega: Lulu cresceu na Praia Mansa, comunidade que desapareceu após o remanejamento para a construção do Terminal Marítimo de Passageiros. Ele conta que sua mãe, Mariazinha, foi líder comunitária e teve uma grande influência na reconstrução do bairro.
“Essa área ainda era praticamente deserta. Ela conseguiu construir mil casas em regime de mutirão para a população. Hoje, o bairro está bem diferente. Onde tinha apenas três ruas, agora tem uma ocupação intensa, com muitas casas e comércios. E aqui nós ficamos, aqui as famílias foram se reconstruindo”, lembra.
Sr. Lulu sempre gostou de vendas e tinha um pequeno comércio na Praia Mansa, negócio que teve que fechar por dificuldades financeiras. Começou a trabalhar como agente comunitário de saúde da Prefeitura, onde ficou por 21 anos até se aposentar em virtude de um problema na coluna.
Aos 62 anos, o aposentado relembra com saudade dos tempos de juventude: “Eu quando era bom, quando era mais jovem, eu surfava, eu pescava, tomava banho, jogava bola na praia, tudo de bom que tem aqui era aproveitado. Isso aí é uma lembrança que a gente não esquece nunca”.
Lulu também destaca que a pavimentação da calçada é uma obra esperada pela comunidade, mas lamenta que o material utilizado não é de boa qualidade. Quando se trata de benefícios para o bairro, Sr. Lulu sempre destaca a figura da sua mãe, Mariazinha, como uma grande mentora da comunidade.
Para ele, quem conhece o bairro sabe que foi ela quem liderou a transformação da área, e espera que continue a evoluir, com novas melhorias e mais benefícios para seus moradores: “Morar aqui é maravilhoso, pra mim não tem lugar melhor. Logo eu que vi quando tudo começou. Minha vida toda foi aqui, hoje ainda estou e pretendo continuar”.
“Morar aqui é maravilhoso, pra mim não tem lugar melhor. Logo eu que vi quando tudo começou. Minha vida toda foi aqui, hoje ainda estou e pretendo continuar”. Sr. Lulu, um dos moradores mais antigos do Titanzinho
Junior, ou Tintanaprancha, como é conhecido na Praia do Futuro, é um artista que encontrou nas pranchas de surfe sua tela em branco e na praia seu quintal. Com talento para a pintura desde criança, só precisou de uma oportunidade para começar a viver da arte.
"Desde pequeno eu gostava de desenhar e, com o passar do tempo, esse desejo só aumentava. Na adolescência, trabalhei como cumim nas barracas de praia, com dezoito consegui meu primeiro emprego de carteira assinada, mas sempre carregava comigo esse sonho", demonstra.
Após um convite de amigos, Junior começou a se envolver com esse universo. Aprendeu com outros profissionais e, aprimorou suas técnicas e foi se apaixonando cada vez mais pela arte. Alguns anos depois, saiu do supermercado onde trabalhava para se dedicar exclusivamente à pintura de pranchas.
Além de estar em contato direto com pessoas que compartilham sua paixão pelo surfe, Tintanaprancha destaca as belezas naturais da região onde vive.
Mesmo morando em um lugar tão belo, ele nunca se cansa de admirar a vista e acha importante parar e apreciar a beleza que o rodeia. O ar puro e o som das ondas do mar são coisas que ele valoriza e que muitas vezes passam despercebidas pelas pessoas que moram na cidade.
“Hoje vivo em harmonia, o meu quintal é o mar. Respiro ar puro e escuto esse som relaxante. Às vezes perguntam se o som não incomoda, mas já ficou tão natural que a gente nem percebe mais. Você olha, você sente paz. E mesmo já acostumado, ainda paro pra olhar quão belo é”, declara.
Mas Junior não se limita apenas à arte das pranchas. Através do projeto Instituto Educa Surf Social, na comunidade, ele se tornou professor de Artes e passou a ajudar a equipe nas atividades desenvolvidas com as crianças da região.
"Passar o conhecimento adiante é fundamental. Não quero guardar tudo o que sei só para mim, mas sim dividir com outras pessoas, não só a arte, mas também o conhecimento de vida que adquiri. Eu próprio saí de dentro da favela e hoje vivo da arte, graças a Deus", expõe.
Mesmo após tantos anos de trabalho com as pranchas, Júnior ainda se emociona ao olhar para suas obras de arte. Ele sabe que para muitos, pode parecer algo rotineiro ou banal, mas para ele, cada prancha é única e carrega um pouco de sua história, marcada pela descoberta da arte como uma vocação que inspira e incentiva outros jovens.
“Às vezes perguntam se o som não incomoda, mas já ficou tão natural que a gente nem percebe mais. Você olha, você sente paz. E mesmo já acostumado, ainda paro pra olhar quão belo é”. Junior Tintanaprancha, educador e artista
O pescador Roniele Suíra é uma das lideranças da Comunidade Tradicional Boca da Barra, na Sabiaguaba. Ele se apresenta como Silva de Sousa, mas prefere que o chamem de Suíra para reafirmar sua origem e seu povo.
Filho e neto de pescadores, para ele, morar perto do mar vai além da subsistência: é vida, aprendizado, esperança e educação diferenciada.
"É uma relação com a história do meu povo, a cultura, o aprendizado e o sentimento de pertencimento desenvolvido enquanto coletivo, enquanto comunidade e enquanto ser humano, principalmente do ponto de vista ancestral, porque meu povo ocupa esse território desde os tempos mais remotos", defende.
"Minha relação afetiva com o mar está ligada à memória, costumes, crença, espiritualidade e ao sentimento de pertencimento que transcende a identidade de casa", enuncia.
O pescador estaca a importância de se levar em consideração as populações diferenciadas que habitam Fortaleza, não apenas como objetos de pesquisa, mas como protagonistas da história da cidade. A ausência do poder público também contribui para a invisibilidade da comunidade, que não é vista, segundo ele, como parceira no desenvolvimento equilibrado do meio ambiente.
Ele aponta a especulação imobiliária como um dos principais problemas que afetam as comunidades litorâneas e que precisam ser enfrentados: “Nos taxam como protagonistas, usam nossa mão de obra e depois querem nos expulsar do nosso território com o discurso do progresso”.
Sem acesso digno, iluminação pública e sem o amparo do poder público, a comunidade de maresqueiros e pescadores sofre com o abandono. O pescador lamenta a falta de reconhecimento do governo local, que não enxerga a comunidade como uma parte importante para o equilíbrio ambiental e social.
Na percepção de Suíra, "Fortaleza é uma cidade com grande potencial para acolher e incluir, mas que acaba excluindo e abandonando suas comunidades. As pessoas tenham mais espaço para dialogar, acesso à natureza, literatura, teatro e arte".
"A cidade fica muito a desejar nesse aspecto, tendo em vista a limitação imposta pela sociedade, que acaba gerando exclusão e falta de respeito entre as pessoas. Fortaleza precisa ser vista como um espaço de acolhimento, e não apenas como um espaço econômico", pontua.
Para o pescador, é possível avançar como sociedade e construir uma cidade mais organizada e que olhe para as pessoas: "É preciso acabar com a competição e a falsa educação, para que a cidade possa ser um espaço de convivência mais harmonioso e inclusivo para todos".
“Nos taxam como protagonistas, usam nossa mão de obra e depois querem nos expulsar do nosso território com o discurso do progresso”. Roniele Suíra, pescador
"Oie! Aqui é Karyne Lane, repórter do OP+. Pode ficar à vontade para deixar sua opinião sobre esse conteúdo lá embaixo, nos comentários. Ficarei feliz de ler seu ponto de vista :) até a próxima!"