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Indo além da sustentabilidade, é hora da inovação regenerativa
Reportagem Seriada

Indo além da sustentabilidade, é hora da inovação regenerativa

Ana Costa, vice-presidente de Sustentabilidade, Jurídico, Reputação e Comunicação Corporativa de Natura & Co América Latina fala sobre novo conceito da Natura com foco no meio ambiente, nas relações humanas e no consumo circular

Indo além da sustentabilidade, é hora da inovação regenerativa

Ana Costa, vice-presidente de Sustentabilidade, Jurídico, Reputação e Comunicação Corporativa de Natura & Co América Latina fala sobre novo conceito da Natura com foco no meio ambiente, nas relações humanas e no consumo circular
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As questões que envolvem justiça climática, os desmatamentos florestais, em especial da Região Amazônica no Brasil, a agenda verde e os outros temas como biosocioeconomia que estão em voga nas pautas empresariais e da mídia atualmente já fazem parte do dia a dia da Natura há muitas décadas.

Tanto é que a empresa é reconhecida pela relação com o meio ambiente nacionalmente e, no Ceará, conforme mostra a pesquisa Anuário Datafolha Top Of Mind, 2023-2024, na categoria Área social ou ambiental tanto para as classes A/B, como para a população geral.

O pioneirismo nos temas trouxe tanto bônus, como ônus, que serviram de aprendizado e correção de rotas ao longo dos anos, como conta a Ana Costa, vice-presidente de Sustentabilidade, Jurídico, Reputação e Comunicação Corporativa da Natura & Co América Latina.

A executiva, formada em Direito, que está na Natura há pouco mais de quatro anos, fala sobre o novo momento da pauta na empresa que usa a terminologia regeneração, conceito que transcende a definição de sustentabilidade.

Ana Costa, vice-presidente de Sustentabilidade, Jurídico, Reputação e Comunicação Corporativa de Natura ENTITY_amp_ENTITYCo América Latina   NATURA.  Foto: Roberto Setton | Divulgação(Foto: Roberto Setton/Divulgação Natura)
Foto: Roberto Setton/Divulgação Natura Ana Costa, vice-presidente de Sustentabilidade, Jurídico, Reputação e Comunicação Corporativa de Natura ENTITY_amp_ENTITYCo América Latina NATURA. Foto: Roberto Setton | Divulgação

O termo remete à fonte de restauração da vida, de indivíduos, comunidades, da natureza e da relação simbiótica entre eles. A vice-presidente, que também atuou por mais de sete anos em outra empresa do grupo, a Avon, fala sobre os papeis da empresa e das políticas públicas no desenvolvimento humano e frente às questões ambientais, sociais e de governança, ESG.

E, ainda, das relações que estabelecem com as comunidades, consultoras e clientes, da revisão da Visão 2030, que norteia os pilares de regeneração da marca, e das ações nacionais da marca para a COP 30 e outras datas. Também comenta da relação da Natura e da Avon com o Ceará e do papel que exerce no conselho da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIPHEC).

A entrevista foi concedida com exclusividade ao O POVO durante a celebração de 10 anos do Ecoparque, no fim do mês de abril, na cidade de Benevides, no Pará. Com área total de 172 hectares, a indústria é o elo entre a companhia e a biodiversidade da região da Amazônia, que conta com mais de 10 mil famílias agroextrativistas nas cadeias da sociobiodiversidade. 

Atualmente, 94% da demanda de sabonetes da Natura &Co América Latina, das marcas Natura, Avon e The Body Shop são feitas lá que produziu, em 2023, 505 milhões de unidades. Nos dez anos, foram mais de 3,2 bilhões de unidades. Confira a entrevista.

 


O POVO - A senhora nasceu no Rio de Janeiro. Quais as principais lembranças e referências de lá na sua formação e por que escolheu cursar Direito?

Ana Costa - Eu nasci e cresci no Rio, sou carioca, amante do espírito carioca, daquela coisa mais informal, da praia, sempre foi a minha vida. De classe média, minha mãe era dona de casa, meu pai era securitário e eu fui a última neta da família.

Cresci num ambiente com muito amor e muito carinho e tendo que ralar desde cedo. Quando eu comecei a fazer faculdade, era faculdade pública ou faculdade pública, não tinha outra opção. E eu sempre fui muito ligada a humanas, sempre era aquela que dava aula de história.

Agora matemática e física nunca foram meu forte. Em determinado momento eu fiquei na dúvida entre Jornalismo e Direito, e aí resolvi fazer os dois, passei nas duas. Era a UFF-Niterói, que é do outro lado da ponte Rio-Niterói, a Universidade Federal Fluminense, e a UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) para Comunicação.

Só que uma era de manhã e uma era à noite. E eu cheguei a cursar as duas durante um período mas não deu, quando comecei a estagiar eu vi que não era possível. E por que o direito?

Eu acho que eu sempre gostei da questão da justiça, e eu gosto de gente, então essa parte humana sempre talvez tenha me pegado mais do que qualquer coisa.

E fiquei na dúvida entre as duas, e acabei, por amor mesmo, achei uma delícia, por mais estranho que isso possa parecer, seguir pelo Direito, mas ainda sinto que eu sou uma jornalista frustrada, e por isso que hoje eu fico super feliz de estar com a área de comunicação também.

O POVO - Como foi migrar a carreira para área de beleza entrando na Avon depois de trabalhar na Ipiranga, Oi, Chevron e Xerox? Quais os principais desafios na fusão da empresa com a Natura?

Ana - Eu brinco que eu descobri um outro mundo. Eu cheguei no grande transatlântico da beleza. Quando eu cheguei na Avon, eu vinha de indústrias e mercados muito masculinos e muito de tecnologia e infraestrutura. Então a diversidade não era tão grande e os temas eram mais áridos também.

Quando eu cheguei na Avon falei 'gente cheguei aqui e me encontrei'. Era uma empresa que falava de direito das mulheres, que falava de equidade de gênero, que tinha uma questão da cosmética em si que é apaixonante, da inovação alinhada à cosmética.

Então, para mim, foi um Oásis de felicidade. E depois quando teve a compra da Avon pela Natura, que era uma coisa na época inimaginável, eram duas concorrentes muito fortes, quase viscerais, mas que tinham valores muito alinhados.

Não só de conhecimento de mercado, eram mercados que eu conhecia e dominava bem, mas também principalmente dessa questão complementar, enquanto a Avon tinha uma questão social muito forte pelos Institutos, causa da mulher, diversidade, violência doméstica e etc.

Seguindo a parte social, de regeneração e sustentabilidade. E a natura muito por um lado mais ambiental. Então foi super complementar e eu comecei a entrar na parte ambiental também de forma complementar.

E hoje eu vejo que uma coisa não existe sem a outra, por isso que a gente fala tanto de justiça climática, eu acho que essa fusão foi super complementar, não só nas causas mas no negócio também

O POVO - Há pouco menos de um ano no cargo de vice-presidente de Sustentabilidade, Jurídico, Reputação e Comunicação da Natura &Co América Latina como é sua rotina e quais os principais desafios?

Ana - Eu comecei como advogada, então esse é meu DNA, tem essa parte mais técnica. Mas eu sempre gostei dessa parte de reputação, do humano, do cuidado. Tudo isso que, para mim, é o coração de uma empresa, foi muito natural. Você ser jurídico, você já cuida da reputação de alguma forma.

E depois isso foi expandindo. Quando você fala de comunicação, você fala da maneira de se comunicar e cuidar. Não tem forma melhor de você cuidar da reputação do que através da comunicação. Está tudo muito interligado, como deveria ser.

E recentemente, há menos de um ano, outro grande presente que eu ganhei foi Sustentabilidade. Na Natura, a gente acredita que sustentabilidade é uma área transversal. Ela pode e deve estar em qualquer liderança e qualquer vice-presidência, independente do nome do cargo. Por quê?

Porque ela está no DNA e é transversal a todas as atividades. Então isso foi um presente, e com uma agenda super bacana, que também representa reputação e que junta tudo. O mais bacana quando junta todas essas áreas, para mim é uma área de grande responsabilidade corporativa.

Que pega a parte de fazer o correto, de como se faz, de preservar reputação, gerir riscos e ser sustentável e regenerativo ao longo dos anos com tudo aquilo que a gente faz.

O POVO – A Natura já está em uma fase avançada da regeneração, superior à sustentabilidade, mas o Brasil ainda está em uma fase inicial da agenda ESG e de sustentabilidade. Como a senhora vê a pauta no Brasil?

Ana – Acho que o começar (por parte das empresas) já é bom. Temos algumas que estão engatinhando ainda, mas sempre teremos esferas e maturidades diferentes e acho que é uma caminhada.

Mas gerar a consciência nos CNPJs, essa consciência de que as empresas têm uma responsabilidade social, quando tem um mandato para operação, é muito importante. A gente está vivendo agora coisas muito sérias de aquecimento global, enchentes e de guerras...

São tantas coisas. Pois o mundo foi para um lado que a gente fala gente os desafios socioambientais que surgiram agora também são mais complexos, não só do ponto de vista de negócios.

Até nas relações humanas você tem uma polarização, temos o imediatismo de redes sociais, tivemos a pandemia. E tudo isso faz você repensar que ‘será o que eu estava fazendo eu quero sustentar hoje ou eu tenho que reconstruir, eu tenho que renovar, eu tenho que regenerar?’.

A regeneração era muito vista em economia e em sistemas agroflorestais, por conta da questão agrícola, mas é mais do que isso é regenerar as relações humanas.

É regenerar tudo, por isso que eu falo que é tão importante ter a humanidade no fundo da regeneração, porque a regeneração na verdade é o regenerar a relação do indivíduo com ele mesmo, com o planeta, com a sociedade e com tudo que está em volta da gente para a gente construir um futuro melhor.

Então eu não me questiono aquele ali estar ainda começando, estar falando ainda em sustentabilidade, porque aí você vai para um lugar também de uma arrogância que eu não acho legal.

E que bom que tem mais gente nesse caminho e cada um vai ter o seu passo, cada um vai trabalhar e está todo mundo na mesma estrada.

Isso eu acho bacana da gente pensar e é essa a mentalidade que eu tento colocar nisso, que a gente foi criando e conversando um pouco antes, mas quanto mais gente vier melhor, não tem patente a causa, quanto mais melhor.

O POVO – E a sua visão internacional sobre a causa?

Ana - Quando a gente fala de contexto internacional é preciso botar o Brasil no lugar onde ele tem que estar. Temos aqui a bioeconomia, a biodiversidade, tem aqui o pulmão do mundo e todos os olhares estão para cá. Temos a COP 30 aqui (evento será em Belém, no Pará, em novembro de 2025).

Temos que ver como a gente também tem a influência não só dentro, nas nossas fronteiras, nos nossos limites territoriais, pois nós também temos de fazer isso para fora. É fazer essas relações internacionais que podem gerar investimentos para dentro de casa.

E todos esses instrumentos COP 30, G20 e outros, que a gente tem para discutir. É gerar essa consciência para quem está dentro e para quem está fora do País.

Ana Costa, vice-presidente de Sustentabilidade, Jurídico, Reputação e Comunicação Corporativa de Natura ENTITY_amp_ENTITYCo América Latina   NATURA.  Foto: Roberto Setton | Divulgação
Ana Costa, vice-presidente de Sustentabilidade, Jurídico, Reputação e Comunicação Corporativa de Natura ENTITY_amp_ENTITYCo América Latina NATURA. Foto: Roberto Setton | Divulgação Crédito: Roberto Setton/Divulgação Natura

O POVO – Nessa agenda toda, qual a importância da transparência, dentro da questão de governança, e da reputação? A Natura foi reconhecida como a empresa com melhor reputação corporativa do país pelo décimo ano consecutivo, segundo o Monitor Empresarial de Reputação Corporativa (Merco).

Ana – Li uma vez que a governança é quem dirige o ônibus e é muito isso, você tem que ter um tripé, social, ambiental e governança. E é a governança que vai conectar e não tem como você falar de reputação, se você não falar de transparência.

E a governança é justamente para garantir que essa transparência exista em todo esse ciclo virtuoso. A Natura é uma empresa de capital aberto, esse ano fará 20 anos da abertura, e isso faz com que a gente tenha controles, um nível de exposição grande e de ter que justificar tudo o que a gente faz, pois somos super expostos.

Isso é uma responsabilidade muito grande, mas não tem como não ter a reputação que a gente tem se a gente não tem uma boa governança ou se a gente não tem transparência nisso tudo. Seja qualquer tipo de empresa, familiar ou não, você tem que ter uma governança.

Tem que ter essa transparência naquilo que você faz sem pensar naquilo que vai ser público ou não, mesmo que seja só dentro de casa. E quando você tem capital aberto, não tem como, é inevitável que o você fala tem que ser conectado com o que você publica e com o que você faz.

Não tem agenda oculta e até os erros, pois vão ter erros no meio do caminho também, eles também se tornam muito mais evidentes. Mas é essa transparência que gera credibilidade do setor privado.

O POVO - Qual a expectativa com a realização da COP 30 no Brasil? E o que a Natura está preparando?

Ana - Com a realização da COP 30 no Brasil há uma expectativa significativa de que o país possa destacar sua agenda agroambiental e atrair atenção para políticas de combate ao desmatamento, mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

Como uma das principais economias do mundo e com a maior parte da Amazônia em seu território, o Brasil tem a oportunidade de ser uma referência e contribuir ativamente com exemplos positivos de como transformar desafios contemporâneos em oportunidades de negócios.

Durante as COPs, a Natura já tem sido reconhecida como um exemplo de práticas regenerativas. Em 2023, em Dubai, nos unimos a uma coalizão de líderes para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C e apresentamos propostas pela busca por regeneração e o impacto positivo na sociedade e no meio ambiente.

Além disso, apoiamos diversas campanhas em 2023 relacionadas à transição para uma economia mais limpa e sustentável.

O POVO - Hoje, como vê a questão do mercado de carbono e outras soluções econômicas e oportunidades verdes?

Ana - A questão do mercado de carbono e outras soluções econômicas e oportunidades verdes é fundamental no contexto das mudanças climáticas globais. É crucial reconhecer que essas mudanças afetam as populações de forma desigual, com os grupos mais vulneráveis sendo os mais impactados, mesmo contribuindo menos para as emissões de carbono.

Portanto, é necessário que as políticas e regulamentações do mercado de carbono considerem e remunerem de forma justa as comunidades locais, especialmente aquelas que desempenham um papel significativo na conservação ambiental, como povos indígenas, comunidades tradicionais e agricultores familiares na Região Amazônica.

Participar ativamente das discussões sobre a regulação do mercado de carbono brasileiro e global é uma oportunidade para alavancar a descarbonização de setores econômicos, impulsionar novas tecnologias e impactar positivamente o mercado voluntário de carbono.

É crucial que essa regulação seja inclusiva e incorpore mecanismos que promovam a redução ou remoção de carbono, ao mesmo tempo em que geram renda para as comunidades locais.

No caso específico da Natura &Co, o compromisso com a transição climática é evidente em suas metas ambiciosas, como tornar-se Net Zero e reduzir as emissões de acordo com critérios científicos alinhados ao cenário de 1,5°C.

Logística dentro do Ecoparque da Natura no Pará, na unidade na cidade de Benevides(Foto: Mariana Almeida/ Cabron Studios/Divulgação Natura)
Foto: Mariana Almeida/ Cabron Studios/Divulgação Natura Logística dentro do Ecoparque da Natura no Pará, na unidade na cidade de Benevides

A execução do Plano de Ação para a Transição Climática (CTAP) demonstra um esforço coletivo para abordar a descarbonização do negócio em diversos fluxos de trabalho, incluindo operações, materiais de embalagem, distribuição e transporte, entre outros.

A abordagem da remuneração dos colaboradores com base no desempenho em relação à redução da intensidade de emissão de carbono também reflete um compromisso sério com a sustentabilidade e a transição para uma economia de baixo carbono.

Além disso, o engajamento dos fornecedores e da cadeia de valor é essencial para alcançar as metas estabelecidas e acelerar a transição para uma economia mais verde e sustentável.

O POVO - Em 2025 serão 25 anos de companhia na Floresta Amazônica. O que isso representa para uma empresa genuinamente brasileira. Tanto do ponto de vista econômico como socioambiental?

Ana - Para uma empresa genuinamente brasileira como a Natura, completar 25 anos de atuação na Floresta Amazônica em 2025 representa um marco significativo tanto do ponto de vista econômico quanto socioambiental.

Do ponto de vista econômico, essa longa presença na Amazônia demonstra um compromisso sólido com a região e suas comunidades, criando oportunidades econômicas sustentáveis que valorizam os recursos naturais de forma responsável.

Isso pode incluir investimentos em pesquisa e desenvolvimento de produtos sustentáveis, apoio a cadeias produtivas locais e geração de empregos que respeitam os ecossistemas locais.

Socioambientalmente, essa trajetória de 25 anos na Amazônia representa um compromisso profundo com a conservação da biodiversidade, a proteção dos recursos naturais e o respeito às comunidades indígenas e tradicionais que dependem desses ecossistemas para sua subsistência e cultura.

A presença contínua da Natura na região também pode significar parcerias e iniciativas que visam mitigar os impactos ambientais, promover a educação ambiental e fortalecer a economia local de maneira sustentável.

Esses esforços são especialmente relevantes considerando os desafios enfrentados pela Amazônia, como o desmatamento, as mudanças climáticas e a pressão crescente sobre seus recursos naturais.

Ao investir e se comprometer a proteger e preservar a Amazônia, a Natura não apenas fortalece sua posição como uma empresa comprometida com a sustentabilidade, mas também contribui para o bem-estar das gerações presentes e futuras, tanto localmente quanto globalmente.

O POVO – Como a senhora vê as parcerias, sejam entre empresas no setor privado ou mesmo com órgãos dos setores públicos em todas as esferas, para melhorar os índices de Educação ou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), e impactar positivamente na sociedade?

Ana - Não tem como você gerar impacto sem políticas públicas consistentes, você tem que ter políticas públicas que incentivem esse impacto e essa mudança que você quer. O setor privado por mais que apoie não vai fazer sozinho, então tem que ter essa parceria. Tudo é parceria.

A gente tem um ecossistema de relações, a gente acredita em relações. Então a gente também tem que fazer essas parcerias público-privadas para quando a gente fala de Educação, pois tem poderes que são constituídos por constituição do governo seja ele Federal, Estadual ou Municipal. 

Não tem como a gente fugir disso, mas a gente também não pode ficar à mercê ou a tangente, excluído dessa discussão. Então, essas parcerias são os que fazem a construção das políticas públicas.

É preciso estar dialogando, construindo pontes e não muros e estar dialogando para ter uma política pública que faça gerar um índice de progresso social e um índice de desenvolvimento humano, que trata de Educação.

E que trata daquilo que a gente acredita na parte ambiental, do combate à violência contra a mulher ou empoderamento que já se fala há tempo, de trabalho e renda digna.

O POVO – Em que estágio a Natura está em relação a Agenda 2030 da empresa?

Ana – Por isso que é importante ter a governança para poder acompanhar isso e para que os compromissos não sejam só compromissos e se tornam realidade, para que se possa construir na jornada.

A gente relançou no ano passado, em setembro, a Visão 2030, no Dia da Amazônia, depois de termos aprendido muito e estudado muito. Quando a gente é pioneiro em muita coisa faz a gente aprender bastante e tem o ônus e o bônus.

A Visão foi feita em três pilares, o de defender a crise climática, proteger a Amazônia; de circularidade e regenerar; e defender os Direitos Humanos, sermos mais humanos.

Pega a humanidade, pega o social e pega essa parte da Amazônia e tudo aquilo que a gente pode fazer de economia de carbono e como combater a crise climática, como se sustentar com esses riscos climáticos todos que a gente tem.

E a questão da circularidade e da regeneração, que é aquilo que a gente gera, inclusive de resíduo e de que forma a gente trata. Pega a cadeia como um todo, desde a comunidade ao descarte daquilo que a gente que faz, a questão do plástico. Temos as questões ambiental, social e a governança que permeia isso tudo.

O POVO - Como a marca enxerga o Nordeste e quais ações têm sido feitas nesse sentido? No Ceará, em 2023 patrocinaram o São João de Maracanaú e esse ano trocaram o nome da Praia do Futuro. Quais ações estão sendo planejadas ainda em 2024 e nos próximos anos?

Ana - A Natura valoriza o Nordeste não apenas como um mercado estratégico, mas também como um lugar de profunda conexão emocional e cultural. A região possui um potencial afetivo e generoso que se reflete na presença marcante da Natura nos lares nordestinos. 

As iniciativas recentes, como o patrocínio do São João de Maracanaú em 2023 e a renomeação da Praia do Futuro em Fortaleza, ilustram nosso compromisso em participar de momentos especiais que promovem conexões significativas.

Em ação para enaltecer a diversidade e valorização do corpo real, Natura e a Prefeitura de Fortaleza trocam o nome da Praia do Futuro para Praia do Hoje(Foto: felipe mota ferreira/ Divulgação Natura)
Foto: felipe mota ferreira/ Divulgação Natura Em ação para enaltecer a diversidade e valorização do corpo real, Natura e a Prefeitura de Fortaleza trocam o nome da Praia do Futuro para Praia do Hoje

Olhando para frente, estamos empenhados em fortalecer ainda mais nossos laços com os estados nordestinos. Planejamos lançar novas ações e parcerias estratégicas que aprofundem nossa presença na região.

Muito em breve, inclusive, revelaremos as cidades que terão o patrocínio da Natura, ampliando nossa participação em momentos especiais.

O POVO – A Natura tem planos específicos para o Ceará?

Ana – Não tem nenhum plano de indústria, mas a gente continua pesquisando e investindo para saber aonde a gente pode ancorar a nossa economia regenerativa não só no Ceará, mas nas Regiões Norte e Nordeste que sempre vão estar no coração e na demanda da empresa, até porque onde a gente vê a questão da contribuição para melhorar o IDH, para contribuição do progresso social.

Mas temos o Instituto Natura que atua no Ceará por meio das iniciativas de Educação de qualidade e de tempo integral na primeira infância, por meio da linha Crer Para Ver (única linha não cosmética e de beleza da marca, que comercializa acessórios e itens de decoração tem 100% do lucro revertido para Educação).

E o Instituto Avon que tem ações do Ceará no combate à violência doméstica e na questão de saúde da mulher, que são dois dos maiores entraves que têm no desenvolvimento. Lá temos a Maria da Penha maravilhosa. Ninguém solta a mão de ninguém.

O POVO - Qual o perfil do consumidor da Natura &Co no Nordeste e no Ceará?

Ana - É interessante perceber que todos os estados nordestinos juntos somam mais de 50 milhões de habitantes. Mas, acredite, em 2023, foram dados mais de 70 milhões de presentes unitários.

É como se cada pessoa tivesse recebido pelo menos um presente! Se isso não é um sinal de generosidade, não sei o que seria.

Em especial os cearenses são reconhecidos pela sua hospitalidade calorosa e acolhedora, sendo mestres em fazer com que os visitantes se sintam em casa, sempre recebendo-os com um sorriso sincero. Essa característica é um ponto importante de conexão com a marca Natura, pois compartilhamos desta mesma alegria.

Como consta em nossa Razão de Ser, acreditamos no conceito de "Bem Estar Bem". Isso engloba não apenas a relação harmoniosa e agradável do indivíduo consigo mesmo, mas também a conexão empática, bem-sucedida e prazerosa com os outros e com a natureza.

Acreditamos que essa harmonia e empatia estão intrinsecamente ligadas à nossa identidade como empresa e à maneira como nos relacionamos com nossos colaboradores, consultoras, clientes e comunidades onde atuamos.

O POVO - Quais as principais agendas enquanto presidente da Associação Brasileira de Empresas de Vendas (ABEVD) de 2016 a 2020?

Ana - A atividade da venda direta é muito nobre e está conectada ao empreendedorismo. Daquela venda porta a porta que foi crescendo e crescendo, já foi venda direta hoje é social selling. Está ligado ao empoderamento, a uma verba digna, a vender produtos.

Mas, naquela época, havia uma questão muito grande das pirâmides financeiras que surgiram de empresas totalmente desprovidas de qualquer licitude em que se iludia o público com o ganho fácil e que não tinha um produto ou um serviço atrelado, mas unicamente conectado a recrutamento e pagamento por isso.

Acho que a grande missão na época foi preservar e separar o que era venda direta dessas outras atividades. Então essa foi minha agenda durante esse período, muito mais de blindagem e de explicação do que era a venda direta e da modernização dela.

O POVO - Como é o seu trabalho no conselho da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIPHEC)? Quais os principais gargalos e necessidades do setor hoje?

Ana - O trabalho no conselho da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) é bastante abrangente. Estou envolvida em questões tributárias, na agenda regulatória e legislativa do setor.

Os desafios tributários estão sendo endereçados pela reforma em andamento. Mas, vejo especialmente oportunidades claras de modernização, simplificação e maior celeridade, especialmente em relação à nossa agenda ambiental, dado que somos um setor bastante avançado em sociobiodiversidade, carbono e outras demandas verdes.

Considero nosso setor uma verdadeira potência. As grandes empresas brasileiras têm uma vantagem significativa devido à nossa biodiversidade e à demografia da população do país. Isso nos permite atender a uma ampla gama de necessidades e características, o que é um diferencial importante no mercado.

Estou comprometida em enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades que se apresentam, contribuindo para o desenvolvimento sustentável e competitivo do setor de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos no Brasil.

Benecifiamento de sementes para a Natura na sede da Cooperativa de Fruticultores de Abaetetuba (Cofruta)
Benecifiamento de sementes para a Natura na sede da Cooperativa de Fruticultores de Abaetetuba (Cofruta) Crédito: Mariana Almeida/ Cabron Studios/Divulgação Natura

O POVO – Voltando à questão da vanguarda da Natura, a senhora cita em suas falas sobre inovabilidade. Qual a visão de futuro que enxergam?

Ana – A inovabilidade eu li, gostei tanto e repeti, não, o direito autoral não é meu (risos). Existe um tripé de inovação, sustentabilidade e diversidade, você não tem como inovar se você não tem diversidade e você não tem como ter resultados sustentáveis se você não inova.

Esse é o grande desafio, com todo mundo falando dessa agenda é saber como é que a gente nova, como é que a gente gera um legado. Propósito é muito bacana, mas como a gente que era um legado. Como é que a gente deseja ter um legado para mudar aquilo que a gente já construiu, para sempre aprimorar.

A gente tem que se aprimorar e se desafiar para isso também. Eu acho lindo a palavra inovabilidade que é inovar através da sustentabilidade, não tem outra maneira com diversidade.

Hoje eu chamo de inovação regenerativa, essa eu posso dizer que é minha, que é como a gente inova também regenerando, transformando...E gerando sortimento naquilo que a gente tem, gerando vida, restaurando aquilo que precisa ser restaurado. A inovação tem que trazer isso também.

Então é como a gente sai de um lugar de sustentabilidade, que é bacana, que fez a gente chegar até aqui, mas que consegue, também, mudar, consegue não só sustentar, mas transformar e restaurar aqueles danos que já foram causados e que a gente não tem como mudar. É como a gente traz essa pauta.

Lá atrás, na Eco 92, (evento das Organizações Unidas que teve no Rio de Janeiro para falar do clima) era novo se falar em sustentabilidade, como agora de regeneração. Mas isso não é nosso, é uma pauta internacional conhecida, mas alguém tem que pegar, chamar para si, e falar vamos mapear aquilo que precisa ser restaurado.

Dentro do modelo de negócios, também, você tem que falar de autorregeneração, o que eu preciso regenerar também dentro das minhas atividades, das relações que eu tenho e dos modelos de negócio que eu construí até agora para gerar mais impacto positivo. Então esse é o conceito de regeneração que eu adoro.

O POVO – Como é passar para a sociedade, de forma geral, das comunidades às consultoras, clientes e não clientes, esses propósitos de sustentabilidade e regeneração?

Ana – Isso é um bom ponto, pois não adianta nada termos um discurso para um determinado público, a gente tem que adequar esse discurso e falar mais sobre os temas. Isso é cidadania e é o consumo regenerativo ou consumo consciente ou outro nome que possa ter.

Sempre precisamos pensar na forma de despertar e de como traduzir tudo o que a gente faz nos nossos produtos. Como a linha Ekos que que traduz isso lindamente, mas acho que quanto mais a gente fala sobre como uma pessoa pode usar um refil e ver o impacto que gera, por exemplo.

E a gente tem que ter em mente também que às vezes é muito difícil para a consumidora pensar em compensação para o planeta. Então vamos pensar no nosso entorno, na nossa casa, na nossa escola e na nossa cidade.

Se a gente conseguir traduzir isso para o nosso entorno, para nossa comunidade é muito mais fácil pensar grande.

Essa é a nossa missão, por isso que a gente trabalha tanto os entornos de onde a gente decide ancorar nosso propósito, como no Ecoparque (indústria que a marca tem em Benevides no Pará, que celebrou 10 anos de funcionamento em abril deste ano).

Essa é uma coisa que a gente tem que evoluir e continuar regenerando, letramento, cidadania seja o nome que for, mas de cada vez mais traduzir e isso na relação com o consumidor e consultor.

O POVO – De que forma o Ecoparque une os valores da marca de relações humanas, preservação da natureza, agronegócio....

Ana – Quando a gente projetou o sonho do João Paulo (Brotto Gonçalves Ferreira, presidente da natura), que ele desenhou em um guardanapo de papel há 10 anos, ele pensou em tantas coisas e a gente fez tanta coisa.

O número de comunidades que alcançamos nas parcerias, o IPS (Índice de Progresso Social (IPS) que chegamos, o número de bioingredientes que a gente descobriu.... tanta coisa maravilhosa. Esse é o nosso papel, projetar esse sonho para mais vezes.

Nos questionavam há dez anos Benevides? Sim! E hoje a cidade vive um novo contexto e a gente é reconhecido por isso. É a materialização da inovação regenerativa para mim.

O POVO - Qual o seu principal desejo em relação às questões de sustentabilidade no mundo, especialmente no Brasil?

Ana - Tudo o que a gente fez em sustentabilidade é ótimo, temos muito orgulho e quanto mais gente vier pra essa agenda melhor. Mas tenho falado muito de sairmos de sustentabilidade para regeneração. Para restaurar a vida, restaurar a relação entre as pessoas, entre a natureza e entre elas.

Então esse é o meu principal desejo, que a gente possa falar em auto-regeneração, que não existe restaurar o planeta se a gente não restaura nosso negócio e se a gente não restaurar nossa liderança. Por isso que eu acho que é importante a gente ter a humildade de saber que tudo começa de dentro para fora.

De quando a gente vê um direito humano violado, como a gente consegue reparar e restaurar, de quando a gente vê uma queimada, de quando a gente vê a natureza sofrendo, como a gente consegue fazer alguma coisa. Por ação, só existe regeneração, por isso termina com ação o nome, se a gente tiver uma atitude.

Então que cada vez mais empresas e pessoas tenham essa vontade e se sintam convidados a tomar uma ação em relação a preservação do que a gente tem de mais valioso no Brasil e no Mundo que é a nossa natureza e a nossa relação humana.

 

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