Carol Kossling é jornalista e pedagoga. Tem especialização em Assessoria de Comunicação pela Unifor e MBA em Marketing pela Faculdade CDL. Pautou sua carreira no eixo SP/CE. Fez parte da equipe de reportagem do Anuário Ceará e da editoria de Economia do O POVO. Atualmente é Editora de Projetos do Grupo de Comunicação O POVO
Modelo de negócio desenvolvido pela Natura na região Amazônica contribui para gestão de impacto positivo, alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, como ODS 13 (Ação Climática), ODS no 15 (Vida na Terra)
Ainda adolescente me lembro da realização da ECO-92 no Brasil, no Rio de Janeiro. À época, aos 13 anos, registrei no meu diário o evento que ficou conhecido como a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento.
Foi quando surgiu a Agenda 21 focada nos pilares de conservação ambiental, justiça social e crescimento econômico. Décadas se passaram e essas questões se tornaram ainda mais urgente com as crises climáticas.
O Brasil continua em destaque nas pautas internacionais em virtude da dimensão que possui da Amazônia e do conjunto de ecossistemas, sendo considerada a região de maior biodiversidade do planeta e o maior bioma do Brasil. Na agenda mundial está a COP-30, em Belém no Pará, entre 10 e 21 de novembro de 2025.
Vanguarda
Uma empresa brasileira que sempre esteve de olha na presenvação da Amazônia é a Natura, marca que se destaca na área de sustentabilidade e lidera, no Ceará, a pesquisa Anuário Datafolha Top of Mind 2023-20224 na categoria Área social ou ambiental, tanto para as classes A/B, como na população geral.
Há 24 anos, a Natura vislumbrou o potencial dos biomas da região e desenvolveu parcerias com as comunidades no local e criou um modelo de negócios de impacto. A iniciativa em operação há mais de duas décadas visa a conservação da Amazônia e ao mesmo tempo fomenta o desenvolvimento econômico e social com mais de 10 mil famílias agroextrativistas.
Em março deste ano, o estudo “There Is No Planet B: Aligning Stakeholder Interests to Preserve the Amazon Rainforest”, divulgado na Management Science, destaca as soluções regenerativas promovidas pela Natura, que no ano passado adotou o conceito de regeneração como centro de sua estratégia sustentabilidade. Atualmente, a empresa estima impacto superior a 2 milhões de hectaresem área conservada de floresta.
Dados comparados demonstraram em que a ela atua com os parceiros, levou à preservação de aproximadamente 18 mil km² entre 2000 e 2018. Outras análises mais robustas mostram que o total de área preservada corresponde a 730 mil hectares de floresta, o que se iguala a 676 mil campos de futebol e representa uma economia de cerca de 58 milhões de toneladas de carbono.
Com as ações, a empresa conseguiu promover a conservação e a regeneração da Amazônia ao oferecer uma opção econômica viável para os pequenos produtores rurais manterem a floresta em pé, ao mesmo tempo em que ganham dinheiro com produtos renováveis nativos do bioma. A heterogeneidade de uso dos bioativos tipicamente amazônicos, em vez de produtos agrícolas convencionais, se mostrou decisiva para que algumas comunidades conservem a floresta e outras também a regenerem.
Agroextrativismo
Quem vive isso na prática é agroextrativista e presidente da Cooperativa de Fruticultores de Abaetetuba (Cofruta), Vanildo Quaresma, que está na ponta da cadeia produtiva, pois ele colhe diretamente da sua fazenda localizada no rio Maratauíra, em Abaetetuba, no Pará, sementes de frutos da floresta que se transformarão em óleos, manteigas e essências para os produtos cosméticos da Natura e, ainda, de outras empresas nacionais e internacionais.
Com a escassez da cana-de-açúcar e a decadêcia dos 62 engenhos na região, a saída foi a regeneração da floresta com novas sementes e novos frutos. Do consumo próprio de sucos, geleias e polpas surgiu a ideia da cooperativa com as famílias vizinhas. Hoje, é possível achar o açaí, o tukumã, a andiroba, a ucuuba, o buriti, o murumuru, entre outros, e novos são pesquisados para que possa ser feito um cultivo entre safras e a biosocioeconomia não pare no local.
"Começamos o trabalho com a organização do sindicato dos trabalhadores rurais em busca de treinamentos para trabalhar com outras matérias-primas. Criamos um centro e depois uma associação para poder pegar recursos do Banco da Amazônia. Tivemos dificuldade no início para as adaptações, mas deu certo organizar os projetos. Após começarmos a produzir fomos atrás do mercado e organizamos a Cofruta", relembra.
Primeiro começaram a trabalhar com polpas de frutas de açaí, taperebá, cupuaçu, maracujá. Tiveram que aumentar a produção para negociar para fora do município, assim, começaram a participar de feiras e tiveram o primeiro contato com a Natura por volta de 2008. "No início mandávamos sugestões de produtos pelo correio, até ele virem até Benevides. Começamos vendendo amendoa do murumuru, depois andiroba...", orgulha-se.
Antes Quaresma conta que vendiam no local uma árvore com cerca de 60 metros de ucuuba para fazer cabos de vassoura. "Costumávamos vender a árvore inteira por R$ 30. Hoje, colhemos as sementes, deixamos algumas no chão, como nos ensinaram, vendemos e recebemos mais do que R$ 30”, ele diz.
Atualmente, a Natura mantém relação com 94 cadeias de fornecimento que colhem bioativos dentro dos limites de respeito à floresta. Ao todos são 10.191 famílias em 44 comunidades da Amazônia. Em 2023, a empresa injetou R$ 42,8 milhões em recursos nas comunidades locais que auxiliam em pesquisas e desenvolvimento de maquinários para além da sementes as cooperativas comercializem a manteiga e os óleos agregando ainda mais valor ao produtos e na cadeia produtiva.
*A colunista viajou para o Pará a convite da Natura.
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