Relatório da ONU Mulheres e da União Interparlamentar (UIP) revela que o Brasil permanece, em 2025, entre os países com menor representação feminina na política. O país ocupa a 133ª colocação no ranking global de presença de mulheres nos parlamentos, ficando atrás de países como Arábia Saudita, Somália, Cazaquistão e Burkina Faso. É a pior representação legislativa feminina da América Latina.
Proporção de mulheres nos parlamentos pelo mundo
Apenas 18,1% das cadeiras na Câmara dos Deputados são ocupadas por mulheres (93 deputadas), e no Senado, elas representam 19,8% (16 senadoras). Esses índices colocam o país entre os piores do mundo em termos de igualdade de gênero na política legislativa.
No Executivo, os dados são um pouco mais positivos: 10 dos 31 ministérios são comandados por mulheres, o equivalente a 32,3%. Ainda assim, o país segue distante da meta de paridade de gênero e está na 53ª posição na lista de presença feminina nos cargos de liderança no Executivo. Há nove países que já alcançaram gabinetes com 50% ou mais de ministras, como Finlândia, Nicarágua e Espanha.
Proporção de mulheres em ministérios pelo mundo
Atualmente, apenas 25 países têm mulheres ocupando os mais altos cargos da liderança nacional, como chefes de Estado ou de Governo — sendo 12 deles na Europa.
Apesar de avanços pontuais, como a eleição de presidentas em países como México e Macedônia do Norte, 106 países nunca foram liderados por uma mulher.
Mulheres em ministérios
Ruanda é o país com maior representatividade feminina parlamentar no mundo, com 61,3% dos assentos do parlamento ocupados por mulheres, mostra o relatório. Apesar do conservadorismo na sociedade ruandesa, uma lei, introduzida em 2003, criou uma cota de 30% para mulheres em todos os órgãos públicos. Desde então, esse limite tem sido regularmente ultrapassado no Parlamento.
Mulheres nos parlamentos
Em segundo lugar, está Cuba, com 55,7% do parlamento ocupado por mulheres. Os Emirados Árabes Unidos, mesmo com seus altos índices de violência contra a mulher, conseguiram paridade em seu parlamento: metade das cadeiras são ocupadas por mulheres, o que coloca o país em quinto lugar no ranking.
Na América do Sul, a Bolívia está em primeiro lugar em representatividade feminina no parlamento, com 46,2% dos legisladores mulheres.
Em relação à composição ministerial, Nicarágua (com 64,3% de ministras), Finlândia (com 61,1%) e Islândia (com 60%) lideram a lista.
Os dados analisados levam em conta a situação de 189 países em 1º de janeiro de 2025.
O relatório Mulheres na Política: 2025 destaca avanço tímido na representatividade feminina global. Em 2025, a presença de mulheres nos parlamentos subiu apenas 0,3 ponto percentual em relação ao ano anterior, chegando a 27,2%. Já nos ministérios, houve recuo: a proporção caiu de 23,3% para 22,9%.
Para Sima Bahous, diretora-executiva da ONU Mulheres, o progresso está estagnado e, em algumas regiões, retrocede. "Trinta anos após a Declaração de Pequim, a promessa de igualdade de gênero na liderança política segue não cumprida. Não podemos aceitar que metade da população continue excluída da tomada de decisões", afirmou, em referência ao compromisso global assinado em Pequim para alcançar igualdade de gênero.
Mulheres nas mais altas posições de Estado
A presidente da UIP, Tulia Ackson, classificou o ritmo de avanço como "glacial" e defendeu medidas urgentes.
O secretário-geral da entidade, Martin Chungong, destacou que a participação masculina ativa é essencial para superar as barreiras institucionais. O mapa também aponta que a desigualdade não se limita à quantidade, mas também às áreas de atuação.
Enquanto mulheres lideram pastas sociais e de direitos humanos, os homens dominam ministérios de relações exteriores, defesa e finanças.
Proporção de mulheres em ministérios por tipo de pasta
A UIP e a ONU Mulheres reforçam que reformas eleitorais, cotas e vontade política são caminhos fundamentais para acelerar a equidade. Para Bahous, "o tempo das soluções paliativas acabou. É hora de garantir que as mulheres tenham assento em todas as mesas onde o poder é exercido." (DW)
Mulheres nas mais altas posições de Estado pelo mundo
Tramita no Congresso Nacional do Brasil proposta que reserva 20% das vagas nos legislativos federal, estaduais e municipais para as mulheres. A regra valeria por 20 anos.
Segundo o projeto de lei complementar (PLP) que cria novo Código Eleitoral, só poderiam entrar na cota de 20% candidatas que tenham, no mínimo, conquistado 10% do quociente eleitoral definido em cada eleição. O quociente eleitoral é uma média calculada com base no número de votos válidos e de vagas disputadas e usada para evitar que pessoas com poucos votos assumam uma cadeia no Legislativo.
O PLP 112/2021 ainda estabelece novas regras para prestação de contas de campanhas; impõe quarentena de quatro anos para policiais, juízes e militares se candidatarem e regulamenta a propaganda eleitoral na internet.
O projeto também fixa prazo de inelegibilidade de oito anos para condenados pela Lei da Ficha Limpa; estipula regras para fiscalização das urnas eletrônicas; proíbe disparo em massa de mensagens nas redes sociais e cria regras mais rígidas para divulgação de pesquisas de intenção de votos, apesar de liberar a divulgação de pesquisa no dia anterior do pleito, o que hoje é proibido.
Médias de mulheres no parlamento pelo mundo
O relator da matéria, senador Marcelo Castro (MDB-PI), defendeu a reserva de 20% de cadeiras nos parlamentos, argumentando que mais de 700 municípios no país não têm representação feminina no legislativo e outras 1,6 mil cidades só têm uma mulher nas câmaras de vereadores.
“Toda reunião que houver tratando de política, em qualquer município do Brasil, terá no mínimo duas mulheres. Essas mulheres servirão de exemplo para as outras mulheres. Elas terão um mandato, terão visibilidade, terão assessoria, terão emenda parlamentar”, justificou.
O senador Dr. Hiran (PP-RR) afirmou que não há apoio para esse tipo de mudança e defendeu apenas outros estímulos para participação feminina na política, como reserva de recursos para campanha.
“A opinião pública não conseguirá entender que um estado com 10 vagas para deputados federais tenha duas mulheres que não tiveram votação significativa e elas representem a sociedade que votou em homens com votação muito maior. Isso é muito complicado e fere o princípio da representatividade de muitos de nós aqui”, destacou.
O senador Espiridião Amim (PP-SC) disse que a mudança fere o princípio da representação de uma pessoa, que é o voto. Ao mesmo tempo, sustentou que é preciso estimular a mulher a ter maior participação na política.
“Isso é um déficit cultural. Quem é que quer cota para alguma coisa? Ninguém quer, mas precisa. É preciso para o negro, para as minorias. Por quê? Porque eles não estavam acostumados a disputar eleição. A mulher também não”, disse.
A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) defendeu a mudança, alegando que diversos países na América Latina têm representatividade feminina na política maior que o Brasil.
“Quando eu fui eleita deputada federal, eu fui a única mulher eleita do Maranhão, em 2014”, afirmou.
A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) defendeu que deveria haver paridade na política, 50% para homens e 50% para mulheres, mas disse que a proposta é um avanço.
“Gostaria de citar alguns países da América Latina que já têm paridade: México, Nicarágua, Cuba, um país todo fechado tem paridade e nós aqui, com toda essa democracia, não temos paridade. A Bolívia, o Chile e a Argentina têm paridade. E o Brasil, maior país da América Latina, não consegue nem discutir a paridade”, afirmou.
Outra proposta é a de reverter a obrigatoriedade que existe atualmente aos partidos de reservar 30% das vagas de candidaturas para mulheres. As normas vigentes ainda determinam que 30% dos recursos usados nas campanhas sejam destinados a essas candidatas, regra que seria mantida pela proposta do relator.
“O fim da cota obrigatória de candidaturas, mantida a cota para candidatas de 30% dos recursos de campanha, constitucionalmente assegurada, permitirá que cada partido ou federação defina o percentual de candidatas e de candidatos, segundo a viabilidade de eleição dos respectivos candidatos a cada cargo e em cada circunscrição”, justificou Marcelo Castro.
A senadora Zenaide Maia (Podemos-RN) disse que a conquista de candidaturas mínimas não deve ser revista.
“Ninguém me convence dessa história de dizer que tem dificuldade de botar mulheres candidatas e vão tirar esses 30%. Aliás, eu não sei por que essa fixação em retirar esses 30% que a gente conseguiu, fica difícil de a gente entender isso”, criticou. (Agência Brasil)