Com a cabeça 100% ativa e muita experiência de vida, aos 78 anos, o fundador da Mota Machado, Francisco Assis Machado Neto, mais conhecido como Assis Machado, não pensa em parar ou se aposentar. E engana-se quem acha que ele visa uma sucessão.
Com muita bagagem, que adquiriu ao longo dos anos, especialmente com as lições do pai empreendedor e a vivência independente no internato no Rio de Janeiro ainda garoto, aos 13 anos, sabia que queria trilhar seu próprio caminho profissional e ter sucesso. Pois a cada etapa de vida, relata que os estudos, o foco e a determinação o fizeram crescer.
A engenharia veio despretensiosamente, talvez pela percepção e a vontade de criar e cuidar da cidade, mas só chegou com muito esforço. Após a primeira tentativa frustrada de entrar na Universidade Federal do Ceará (UFC), foi em Campina Grande, na Paraíba, que as portas se abriram, passando em primeiro lugar.
Lá viveu por dois anos, estudando e fazendo estágio e sua transferência no trabalho o possibilitou a cursar a tão sonhada UFC.
Com governança, a ética e a transparência que sempre frisa cultivar em seu DNA, uniu forças com a amada companheira Maryanne, que está ao seu lado desde os 15 anos e lá se vão 56 anos de casamento, com três filhos e oito netos.
Por experiências não tão boas de antepassados que combinaram negócios, a família preferiu deixar os filhos livres para seguir seu próprio caminho, mas o destino os entrelaçou também na vida profissional.
Primeiro Adalberto que foi convidado pelo tio Jaime, então sócio de Assis à época na empresa, para participar ativamente dos negócios, já que seu pai estava cuidado da vida pública. Resultado? Vinte anos de empresa onde pode colocar em prática a faculdade de Engenharia que cursou por admiração ao pai.
Já Karina passou rapidamente pela Mota Machado, por dois anos, e resolveu seguir cuidando da família. E a outra filha Rafaela, que com o tino empreendedor nas veias igual ao pai, começou a carreira mais tarde por se dedicar ao filho que nascera com deficiência.
Isso não a impediu que acompanhasse os negócios da família e rendera um convite, vindo da diretora financeira, para compor a gestão da empresa. Hoje, ao lado do pai, está na linha de frente trazendo mais inovação, tecnologia, sustentabilidade e governança.
Ao O POVO, o fundador da Mota Machado abre seu baú de lembranças pessoais, fala da convivência familiar com a esposa, filhos e netos, revisita a vida política que teve ao lado do ex-senador Tasso Jereissati no Governo do Ceará e fala sobre mercado imobiliário e planos futuros na vida pessoal e profissional.
O POVO – Como foi sua infância em Fortaleza e a relação com seus pais?
Assis Machado – Meu pai e minha mãe tiveram cinco filhos, eu era o segundo e foi uma coisa muito em família. O núcleo do meu avó paterno morava bem próximo, eram casas próximas as outras. Tínhamos a vida em família, na nossa casa, mas também a da família mais ampla, na casa do meu avô.
Todo dia, às 17h, estávamos na casa dele. Tinha um cajueiro muito famoso lá que ficávamos ao redor. A carga horária de trabalho era diferente naquela época, começava 7h e ia até 11h. As pessoas voltavam para casa para almoçar e iam de novo. Depois voltavam às 17h e a gente ficava tudo reunido naquele ambiente familiar.
A infância foi ligada a isso. Meu avó tinha um sítio em Maranguape que eu adorava ir com ele e minha avó, só o casalzinho. A infância foi muito dedicada ao lar, em casa mesmo. Isso é nato da família, meu pai e minha mãe fizeram isso, todos os domingos a gente almoçava lá quando eles eram vivos e, agora, e eu também estou fazendo isso com meus filhos e netos.
Espero que eles não reclamem como eu naquela época reclamava, pois, às vezes, queria ir para a praia e tinha que voltar para almoçar com eles. A única maneira de reunir família é comida. Se você não colocar comida na mesa, no prato, você não junta as pessoas. Principalmente hoje que as atividades são mais intensas com aulas e milhões de compromissos.
Tem que ter um dia sagrado e eu insisto muito com a Maryanne (esposa) e sempre estão todos. Domingo aqui é casa cheia.
O POVO – O que seus pais passaram de mais relevante para o senhor?
Assis - Uma coisa que veio muito deles é a convivência familiar. A gente teve uma vida muito em família, vimos isso tanto no núcleo dos meus pais, como no núcleo de uns tios, irmãos do meu pai. Assim como estou hoje próximos dos meus filhos.
Morávamos ali na avenida Santos Dumont, onde está sendo construída aquela estação do metrô. Eu gosto da convivência familiar, gosto de reunir os meninos aqui todo domingo, foi uma coisa que veio de lá.
Outra coisa que julgo importante na minha formação é o estilo de vida do meu pai, um empresário, uma pessoa muito simples e muito ética. Uma pessoa muito correta. É uma coisa que me move a querer fazer certo, o certo é sempre o melhor caminho.
O POVO – Comente sobre a sua adolescência e por que decidiu cursar Engenharia?
Assis – Na adolescência tinha aquela motivação, pois naquela época a Engenharia era um sonho. Acho até que é a necessidade de infraestrutura que existia no Estado, no Brasil, tornava a Engenharia uma motivação grande para as pessoas se dedicarem, não tinha computação, não tinha nada disso era Engenharia em tudo. E acho que isso me despertou essa vontade.
Mas antes disso estudei no (Colégio) Christus a vida toda, fiz parte da primeira turma que se formou lá no terceiro científico, mas eu tive um intervalo de três anos que fui estudar em um internato em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, em um colégio da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Um grupo veio ao Ceará e fez uma seleção aqui, eu tinha 13 para 14 anos, foi uma motivação induzida pelos meus pais e pareceu uma coisa bacana.
O POVO – E como foi essa experiência?
Assis - Era um colégio modelo com professores de todo o Brasil. Gostei muito, foi um aprendizado. Acho que a vida da gente, em todos os momentos que passamos, vamos acumulando aprendizados. E lá foi um aprendizado de independência, de viver sozinho.
Fiquei interno três anos e tínhamos a possibilidade de visitar cidades diferentes. No dia que eu cheguei lá, peguei a roupa do corpo, guardei e recebi uma farda. O colégio tinha um banco e o dinheiro que levei eu abri uma conta e ficava retirando para a saidinha do fim de semana.
Foram processos educativos, muita disciplina e o estudo era muito puxado. Era coisa assim de termos 24 horas intensas de estudo e tinha uma parte de formação de liderança também. Lá eram dois prédios, um do ginásio e outro do científico, e no ano seguinte que entrei eu já era o que chamávamos dos líderes do colégio.
Eu era um dos responsável pelos menores, à noite dava plantão nos dormitórios. Foi uma série de aprendizados bem diferentes da rotina se eu tivesse aqui em um colégio estudando normalmente.
Como era um colégio da FGV, eles abriram muitas portas e nós tínhamos excursões do Grupo de Estudos da Indústria Automobilística. Naquela época a indústria estava nascendo e fomos para São Paulo. Aí era farra misturada com tudo. Foi um período de formação muito intensa.
O POVO – Nessa época o senhor já pensava que queria cursar Engenharia ou ainda não?
Assis - Não. Acho que a influência da Engenharia foi mais local. De lá voltei e retornei para o Colégio Christus.
Não sei dizer pontualmente de onde veio a coisa de ser engenheiro, pois foi natural. O ambiente, a convivência com as pessoas, acho que foi uma coisa muito indireta.
O POVO – O senhor fez parte da faculdade na Paraíba. Comente a experiência...
Assis - Fiz o vestibular aqui em Fortaleza na Universidade Federal do Ceará (UFC) e não passei, porque a escola de Engenharia aqui era muito difícil.
O núcleo de professores e ex-alunos era muito duro e no ano anterior que eu prestei o vestibular foram todos reprovados no primeiro ano e ficou sem vaga para a nova turma.
Fizeram um vestibular extremamente duro para não passar ninguém. Ninguém passou, mas como tudo na vida tem as influências e questões políticas houve uma pressão muito grande dos pais e familiares, na época o diretor era o José Lins de Albuquerque que depois foi ministro.
Aí houve uma pressão das famílias muito grande e eles fizeram uma segunda chamada. Mas sabe aquela coisa vou fazer obrigado, mas vocês vão ver como vai ser. Passaram pouquíssimos, só aqueles super dotados. Mas aí apareceu uma oportunidade e eu disse: "Não vou perder o ano."
Hoje a gente acha que perder um ano na vida não vale nada, mas naquela época não. E aí eu fui para Campina Grande, lá estava surgindo a Universidade da Paraíba e fui sozinho, sem familiares. Minha autonomia de colégio interno já me ajudou muito nesse processo.
Fui e tive a felicidade de tirar o primeiro lugar no vestibular (se emocionou nessa parte da entrevista). Passei dois anos lá em Campina Grande, foi uma experiência de vida muito intensa. Morar sozinho, em república, alugar apartamentinho de quarto e sala só para estudar e trabalhar.
O POVO – E já estava namorando com sua esposa nessa época? Se viam nesse período?
Assis – Sim, já estávamos. Eu tinha 15 anos quando começamos a namorar e casamos quando eu estava no quinto ano da faculdade, já de volta a Fortaleza. Comemoramos 56 anos de casados esse ano em fevereiro.
Viu como eu sou resiliente? (Diz aos risos e a esposa ao lado falou e 'E eu também'.)
Não nos víamos, pois naquela época as coisas eram mais difíceis.
O POVO – O senhor já trabalhava na época da faculdade?
Assis – Era estagiário do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). Eu estudava e trabalha. Essa também foi uma experiência de vida muito boa.
O POVO - E como surgiu a oportunidade de voltar?
Assis – O desejo de voltar para Fortaleza era enorme. Eu só precisava alguma coisa que justificasse isso porque a universidade criava muitas barreiras para fazer a transferência.
Aí como eu estava estagiando no Dnocs eu consegui a transferência pelo estágio. Voltei e continuei fazendo o estágio no Dnocs e concluí a faculdade aqui.
O POVO - Nesse tempo o senhor já tinha o contato com a construção civil?
Assis - Naquela época a escola era muito técnica, não tinha ainda a visão de cidade para se trabalhar. As ofertas, naquela época, para quem fazia engenharia eram trabalhar no setor público ou pegar seu companheiro de faculdade e montar uma construtora.
Na época no setor público era Dnocs, Rede Ferroviária Federal (Reffsa) e Petrobras...
O POVO – O que o senhor fazia no Dnocs?
Assis – Trabalhava no Departamento de Projetos de Barragens. O Ceará sempre foi muito carente de acumulação de água, então tinha um departamento, a nossa sala de trabalho se chamava sala técnica e naquela época tinha um convênio.
As coisas eram mais certinhas do que hoje. Quem tivesse uma propriedade rural em algum lugar e desejasse construir uma barragem para acumular água o governo lhe dava um apoio financeiro, lhe dava projeto e você complementava aquilo e construía a sua barragem.
Fiz muitos e muitos projetos. Devem ter muitas barragens por aí projetadas por mim. Foi muito interessante, porque foi uma coisa muito perto da Engenharia mesmo propriamente dita.
Depois que eu me formei eu continuei no Dnocs. Não era mais estagiário, estava casado e precisava ganhar mais algum dinheirinho.
O POVO – O que destacaria do seu aprendizado?
Assis – Na época das férias eles mandavam a gente para estagiar no Interior. Então tinham os grandes projetos de barragens no Estado e a gente ia visitá-los. Tem essas lembranças no livro do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE).
Eu fui estagiar na barragem do Banabuiú, tinha um engenheiro lá experiente e passei com ele um mês. Certo dia ele disse: 'Amanhã acordaremos cedo no rumo da mata'. Fomos num jipe pesquisar um outro local para fazer uma barragem, que hoje chama-se Pedra Branca.
Andamos bastante no meio da mata na região de Quixadá que era bem rústica. Andamos, andamos, andamos e a barriga começou a reclamar, perguntei se não tinha nada para comermos, paramos numa budeguinha do Interior e almoçamos guaraná quente com bolacha.
Isso também me ajudou a ver que na vida tem muitas coisas a serem enfrentadas, que não era só o conforto da minha casa com a minha mãe ou a minha mulher fazendo as coisas.
O Dnocs foi essa escola para mim e depois fiquei como engenheiro lá. Foi nesse momento que brotou a questão da Mota Machado.
O POVO – Como foi o começo?
Assis – O pai da minha esposa, senhor Mota, tinha uma serraria e lidava muito com construção de casa e gostava. Já meu pai, Jaime, era empresário e tinha muita influência e penetração. Os dois me apoiaram naquela vontade que eu tive de criar uma empresa.
Para eu não começar sozinho o senhor Mota e o papai entraram como os meus sócios na época, em 1968. Começamos a fazer uma casinha aqui e outra acolá, começamos com o terreno que minha esposa ganhou do pai.
Aí teve um momento, coisa da minha formação, que gostava de fazer as coisas certinhas, e não queria que ninguém pegasse na minha munheca, e aí eu percebi que estava me dedicando a minha construtora e ainda era funcionário público. Pensei não está certo e pedi demissão do Dnocs.
Podia até estar bem aposentado (risos novamente). E assim, depois da demissão fui começar a vida na Mota Machado, saindo de um conforto do emprego público para arriscar e empreender. Maryanne era a única funcionária, que parou de trabalhar quando estava grávida da segunda filha Rafaela, já tinha o Adalberto.
O POVO – Quais as outras recordações desse início?
Assis – Nós tivemos na Mota Machado várias fases. A inicial que construímos essas casinhas que o senhor Mota me ajudou muito nisso e papai abria a porta de um banco ali, pois eu precisava de um dinheirinho e tinha que financiar. Eu ia no banco falava com o Júlio Rodrigues e assinava uma promissória.
O início foi assim, depois aumentamos e a gente resolveu ampliar nossa atividade e começamos a fazer obras públicas. Fizemos a agência do Banco do Brasil em Pentecoste, fizemos uns prédios no campus da Universidade do Maranhão, em São Luís, outros prédios na Universidade de Sergipe, casas do exército em Natal, enfim, começamos a diversificar.
Comecei a analisar e ver que participar de obra pública é um trauma. Perdíamos dias e noites fazendo uma proposta chegava lá perdia aquela proposta, quando você não perdia acontecia algo no meio do caminho. Percebi que não era um caminho que a gente ia prosperar muito e comecei a acreditar muito no nosso potencial de desenvolver e criar.
Nós temos esse potencial e portas para abrir, pensei vamos tirar o foco da obra pública e ficar só com incorporação. É da incorporação que você cria, você pensa, você vai buscar o mercado, vai escutar o cliente. É tudo mais dinâmico. A gente tem essa característica nata de empreender e ser empreendedor.
E, em determinado momento, nós resolvemos acabar com a questão das obras públicas e ficar apenas com incorporações de casas. Eu me apego muito nas boas atitudes das pessoas, dou valor pelas atitudes boas.
O POVO – Tem alguma passagem que gostaria de relembrar?
Assis – Sim. Nessa época lembro que comprei um terreno do Ivens Dias Branco, na avenida Santos Dumont, e na época só se fazia casas e eu ia fazer várias. Dei o sinal e paguei a entrada para ele.
Aí começamos a mexer no terreno e era tudo aterro e quem é engenheiro sabe que não dá para construir casa assim, pois tem que buscar a fundação lá embaixo com dois ou três metros. Seriam fundações caríssimas. Não deu certo essa compra.
Fui lá no senhor Ivens e comentei o que aconteceu e que o terreno não servia para nós, pois ele foi aterrado, ele disse que não sabia e que não tinha problema, me devolveria o sinal, mas ele não era obrigado. Ele me devolveu integralmente. Ivens sempre foi uma pessoa muito correta nos negócios.
O POVO – O que o motivou a empreender?
Assis – Sempre tive esse proposito dentro de mim e essa vontade de empreender, crescer e desenvolver. No começo foi tudo muito diversificado e ao longo do tempo fomos nos motivando, com uma equipe diferenciada e que poderíamos explorar mercados diferentes.
Foi quando tomamos o foco de concentrar na construção de casas e apartamentos e fomos numa crescente.
O Brasil tem momentos muitos cíclicos com altos e baixos e nós também tivemos altos e baixos e sempre saímos do outro lado, emergimos depois da crise e saímos por cima. Credito isso à robustez da empresa e das pessoas que fazem a empresa.
Quem é que nos leva? Nosso cliente. Criamos uma fortaleza nesse sentido. Construir muitos vão construir igual, mas criar essa força interna de valorizar o cliente e ser transparente com ele faz com que ele se sinta seguro.
A segurança, não sei se é um problema que eu tenho e transfiro para a empresa, eu gosto muito de ter segurança naquilo que estou fazendo, por isso quero passar para ele essa segurança do que estamos fazendo.
As letras miúdas de contrato não podem prevalecer é preciso alguém dizer assina aqui, tem que ter alguém explicando tudo direitinho. Essa cultura interna que criamos é que tem dado robustez e a força para saírmos de todas as crises.
Saímos de uma crise há dois, três anos, ficamos quatro anos sem lançar um empreendimento se quer, mas a gente emerge do outro lado e com essa força interna a gente consegue.
O POVO – Depois você teve seu irmão Jaime, também engenheiro, como sócio?
Assis – Isso. Depois de uns cinco ou seis anos que fundei a Mota Machado, o meu irmão, Jaime, comprou a parte do meu sogro (25%) e do meu pai (25%) e tornou-se meu sócio. Seu Mota ainda ficou um tempo como gerente comercial lá.
Jaime atuava muito dentro de obra e foi nessa época que começamos a formar uma equipe muito boa na Mota Machado, alguns começando como estagiários e foram crescendo.
Em Fortaleza, por exemplo, tivemos o Emanuel Capistrano, que hoje é nosso conselheiro e ajudou muito a Mota Machado e a construção dessa equipe. Na passagem por São Paulo tivemos o Nicácio Lima que depois foi para São Luís.
Filhos - Rafaela, Adalberto e Karina / Netos - Não informados
O POVO – Como foi a entrada do seu filho, Adalberto, nos negócios que também cursou engenharia inspirado no senhor?
Assis - Quando eu me ausentei para seguir na vida pública e na política, o Jaime se sentiu meio sozinho e convidou o Adalberto para ir trabalhar lá no meu lugar. Foi uma época muito promissora com essa equipe.
Ele passou 20 anos na Mota Machado. Depois Adalberto casou, em 1993, e foi cursar MBA nos Estados Unidos e voltou de lá com uma visão bem empreendedora e começou a trabalhar nos seus negócios, inclusive em uma empresa que eu tinha montado, a CMM Engenharia, que hoje ele toca com os sócios, desde 1997.
O POVO – E com as outras filhas como foi a relação com a empresa?
Assis – Karina passou dois anos lá no setor financeiro. Teve o seu primeiro filho e estava lá, quando engravidou do segundo optou por sair, eu dava muito essa liberdade e foi uma questão de prioridade dela, nessa época eu estava no governo.
Nunca disse que meus filhos teriam que ficar lá, sempre utilizei a cultura da liberdade. Quando eu voltei para a Mota Machado (depois da passagem política) o Adalberto foi tocar a empresa dele, mas ficou no Conselho e eu fiquei mais presente.
Nessa época, a Rafaela também começou a participar do Conselho e, por coincidência, como eu não escolhi o Adalberto, não escolhi a Rafaela. Foi a Monia Heuser, nossa diretora financeira, que falou: 'Por que a Rafaela não fica como diretora aqui?'
Eu concordei e achei muito bom, porque eu sinto necessidade, embora eu tenha esse compartilhamento do que empresa é empresa e o que é privado é privado, é importante de a gente ter um pouco do nosso DNA lá dentro. Rafaela tem essa participação e papel lá, assumiu em 2021.
A gente sente que o tempo passa, não adianta lutar contra a velhice. O meu pensar é muito bom ainda, mas a coordenação com o pensar com o fazer já é diferente. A presença dela ocupa essa lacuna.
E a gente agora com a mente mais aberta, com a participação dela, que ajudou muito nisso, já estou tendo um comportamento diferente com a terceira geração.
O POVO – De que forma?
Assis – Hoje, ao invés de mantermos eles à margem, a gente está com projetos de colocar a terceira geração dentro.
Que acho isso muito legal isso. E me lembro, ainda, que antes mesmo, quando Jaime ainda era meu sócio (ele saiu da sociedade há cinco anos) nas reuniões mensais convidavas os três filhos para participarem.
Brincava não quero que vocês mexam muito na panela não, mas quero que vocês saibam o que está dentro da panela cozinhando.
O POVO – Por que essa preocupação grande em separar?
Assis - Eu tenho muito cuidado com essa coisa de família, pois já tinha vivido umas épocas traumáticas com meus ancestrais, pai e tio, que tinham se desentendido por cauda de negócios, então, com o Jaime eu fiz muita questão de que a gente tivesse o mínimo possível de arranhões, porque temos que preservar a família.
Dizer que não teve arranhões... Teve, mas muitos pequenos que cicatrizaram muito rápido. Hoje, nós temos excelente relacionamento eu com eles e entre os primos. Acho que essa maneira de construirmos as coisas que dão certo.
O POVO – O senhor foi presidente do Centro Industrial do Ceará (CIC). Como foi a vivência?
Assis - O CIC naquela época, vivíamos na época a revolução, era a única entidade que se dispunha a discutir a coisa da revolução e a enfrentar esse era um regime de restrições.
Mas o CIC foi também um produtor de eventos que promoveu muitas discussões, trouxe muita gente de São Paulo, muitos empresários de renome para fazer eventos aqui e a gente fazia nesses eventos, nossos questionamentos em busca da liberdade de fala.
O CIC foi um propulsor de tudo isso. Tivemos muitos presidentes, como o muito honroso Beni Veras, já falecido. Beni era uma cabeça privilegiadíssima. Sacava umas coisas bacanas.
Então ele era o nosso guru, era nosso articulador ali. Tivemos o Tasso Jereissati, o Sérgio Alcântara, o Amarílio Macedo, eu... E na minha época (1985/1987) já foi um pouco de transição, o ciclo começou a dar frutos. Quais foram os frutos do CIC?
Foram abrir portas para que o empresariado se lançasse. Foi nessa época então que foi despertado, o então governador era o Gonzaga Mota, o Totó, e ele era um cara muito inteligente, mas com umas atitudes temporâneas.
E ele foi atrás do Tasso para ser candidato a governador e a gente pensou: 'Que loucura!' Não tinha nenhuma familiaridade com política, mas entramos naquilo enfrentamos os famosos coronéis, como diziam.
Tasso foi vitorioso e o que muito me orgulha é de ter participado de uma época política de renovação no Ceará, foi um marco. Muita gente boa por aí, fazendo coisa boa, mas isso foi um marco. E eu fiz parte desse processo.
O POVO – Em uma entrevista ao O POVO, em 1985, quando assumiu o CIC, o senhor disse “é melhor errar lutando do que sermos punidos pelo pecado da omissão. Os erros na luta a história perdoará, mas a omissão jamais”. Continua com a mesma visão de sempre se posicionar sobre os assuntos?
Assis – A gente não pode ser omisso. Tem que ter a coragem de se desprender, o interesse público tem que prevalecer, se tivesse um vestibular para ver se você pode ser homem público ou não, se passar você poderia ser candidato a qualquer coisa.
O que nos atrapalha na vida pública é que a maioria hoje não tem esse espírito público. Uns podem ser muito cultos e outros zero de cultura, mas não é esse o peso. O peso é o olhar para sociedade.
O governo do Tasso era muito bom porque a gente não precisava dessa coisa toda, tinham os secretários, tinha um núcleo duro, e a gente tocava de ouvidos, a gente tinha que fazer o que é certo.
Foi um momento que me ajudou muito na minha formação também. Era um jovem de 40 e poucos anos e o governo do Tasso foi uma escola e eu me sentia co-governador.
O POVO – O senhor teve participação ativa partidária no PSDB e nessa mesma época o Ceará se tornou referência com o governo Tasso Jereissati para outros estados...
Assis – Sim, fui até presidente do PSDB. Nessa época do Tasso o Ceará se tornou uma grande referência e começou a visto de outra forma. Você estava não sei onde, em Santa Catarina ou Paraná e ouvia falar que ele começou a desenvolver, começou a crescer como uma potência.
É que realmente foi uma transformação muito grande e muito forte. Inventou a roda? Não. Foram coisas simples como, por exemplo, os agentes de saúde que revelaram esse cuidado com quem mais precisa, com os mais humildes. Chega uma pessoazinha com a balancinha no Interior todo rodando pesando as crianças.
Teve também o equilíbrio fiscal que se manteve independente de quem estava no governo, foi mantido e o Ceará se equilibrou.
Eu lembro quando assumi como secretário, estava na Secretaria de Obras, e as estradas nossas estavam péssimas, precisava comprar asfalto e não tinha crédito, a Petrobras não vendia nada para a gente.
E eu fui lá no Rio de Janeiro, na Petrobras, explicar. Levei nosso secretário da fazenda, Lima Matos, aí fomos lá e explicamos: "Vamos fazer assim, assado". Eu disse, disse e ele olhou para mim e falou que já tinha ouvido esse discurso de vários outros governos, por que que iria acreditar agora?
Respondi: "Eu só posso lhe pedir que acredite". E realmente já tinham sintomas de muitas coisas acontecendo de forma diferente, conseguimos credibilidade nisso. E foi uma montagem individual que foi crescendo, crescendo, crescendo e conseguimos fazer. Escalonando mesmo. Foi uma época muito rica. Eu aprendi muito.
O POVO – E a vivência pessoal com o Tasso Jereissati como foi? O que destacaria?
Assis – Tasso é um líder. Você vê até hoje... (pausa e nova emoção) Já no apagar das luzes dele você vê o reconhecimento que as pessoas têm por ele. Ouvi depoimentos de senadores que ficaram lá dizendo que nós perdemos um grande senador.
Ele marca, ele é um líder, ele é diferente, não é aquele líder que está no batizado e está no casamento está aqui e acolá, não é do feitio dele o populismo, mas ele é uma pessoa das crenças mais conscientes e mais profundas do que tem de fazer. É realmente um líder.
O POVO – Em 1992, o senhor também falou ao O POVO, depois que foi candidato e perdeu a eleição para Prefeitura de Fortaleza: “Já não sou mais o mesmo Assis de antes da campanha eleitoral”. O que mudou naquela época? E agora como vê aquele momento?
Assis - A campanha não só para mim, mas para toda a minha família, para os filhos, a gente vivenciou Fortaleza, a gente andou a cidade toda. A gente teve que bater em todas as portas, correr tudo. E a gente viu uma necessidade e uma carência enorme dessa população.
Se você realmente percorrer Fortaleza você vê o quanto é preciso termos bons executivos ali conduzido. Pois os recursos são finitos e são poucos, mas as carências são enormes. A campanha nos mostrou mais essa realidade.
A gente concebeu o que era o muro que separava o Leste do Oeste da Cidade. Fortaleza tem uma faixa muito pobre. Aquilo que você aprendeu fica, parece uma transfusão de sangue que você toma e aquilo vai ficando. Eu vou acumulando o que aprendi na escola, na família, na engenharia, na política.
O POVO – Como o senhor se relaciona com a política atualmente?
Assis – Hoje eu me interesso por política, mas ela está vivendo um momento ruim. Eu analiso e gosto de ouvir as pessoas para me atualizar, mas eu acho que os interesses estão muito difusos. Eu vejo excesso de populismo, tem muito visão partidária e não pode ser demagogo na política.
Existem pilares que você não pode se afastar. O equilíbrio das contas é como na sua casa, você não pode gastar mais do que ganha. Eu não estou vendo essa preocupação do Governo Federal com isso. No Governo Estadual ainda não dá para medir muita coisa não.
Acho que algumas coisas começaram, assim, com exagero da estrutura e acho que as coisas tendem à modernidade com a simplificação. Você tem que ir facilitando os processos e nós estamos em um processo inverso, copiando o federal.
Não conheço para julgar as pessoas e seria leviano da minha parte falar algo, a montagem que não me parece a coisa mais adequada para o Ceará. A política, hoje, vejo como um sonho, pois não estou vendo líderes novos que despontem.
O POVO – Voltando para a parte empresarial. Nesses 55 anos de Mota Machado qual o maior aprendizado?
Assis – Vale a pena fazer certo, você nunca se arrepende. O melhor caminho do sucesso é fazer as coisas certas, corretas. Nós temos uma empresa que obviamente precisa dar lucro e o balanço precisa ser positivo, mas esse não pode ser o foco principal.
Não pode ser a única energia que move isso, tem que ter outros valores, como ética, respeito ao cliente, essas coisas devem prevalecer na formatação de um caminhar. Creio muito nisso e investimos muito nisso nos processos internos.
Cliente em primeiro lugar, estamos na era do ESG, prefiro dizer em português, ASG – ambiental, social e governança. São coisas que o tempo mostra que precisamos estar sintonizados com isso.
O POVO – A Mota Machado sempre está entre as marcas mais lembradas na pesquisa Anuário Datafolha Top of Mind realizada publicação da Fundação Demócrito Rocha (FDR), com apoio do O POVO. O que representa para a empresa e como utiliza essa menção?
Assis - Eu acho que isso é uma espécie, assim, de reconhecimento, de consolidação do nosso trabalho. A gratificação que a gente tem, a alegria não é só pelo fato de ser premiado é pelo que esse prêmio representa: a certeza e o resultado de um bom trabalho.
Tem esse prêmio e tem também outro, no ano passado, que foi uma das grandes alegrias que eu tive, foi ser a melhor construtora do Ceará. Nós recebemos do Sinduscon-CE (Sindicato das Construtoras do Ceará). Eu realmente me soltei de alegria, foi lá no Theatro José de Alencar, foi uma coisa belíssima.
E que eu acho que veio consagrar todo esse esforço que a gente está fazendo de retomada do nosso nível de atividade, tanto pelos valores numéricos, como pelos valores simbólicos que isso representa, porque traduz o zelo que estamos tendo com a qualidade de obra e esse prêmio do Sinduscon-CE tem algumas auditorias que vão até os canteiros das obras e escritórios.
É uma avaliação muito técnica. Eu digo sempre que eu não sonho que a Mota Machado seja a maior, não, e também não seja a melhor, mas sim que esteja entre as melhores. Para mim é uma coisa que satisfaz.
O POVO – Há alguns anos a Mota Machado tomou a decisão de expandir para outros estados. Por que?
Assis - A primeira das expansões foi para São Luís, no Maranhão, há mais de 40 anos, não me recordo exatamente a motivação, mas sei que eu tinha as informações que as coisas estavam acontecendo lá e tinham muitos cearenses por lá, muitas empresas do Ceará de tudo, até de construção também e aquilo nos motivou.
Foi uma coisa que a gente fez também como aqui altos e baixos, mas que agora num estágio muito bom essa filial de São Luís. Eu acho que é um mercado que a gente tem que preservar. Até porque a gente lá já tem também essa ambiência, esse reconhecimento da nossa marca.
O POVO - E o que não deu certo em São Paulo?
Assis - Em São Paulo foi uma aventura, a gente tinha uma outra empresa que trabalhava em outra área e que precisava ter ponto de apoio em São Paulo aí eu tinha que ir com muita frequência e pensei porque a gente não começa alguma coisa aqui?
Começamos e fizemos um empreendimento na própria São Paulo, depois achamos que não estava compatível ao nosso tamanho com o mercado de São Paulo e fomos para Campinas, lá o mercado é espetacular.
Fomos surpreendidos não, mas fomos marcados por uma época de crise muito forte. Foi na época que houve fechamento do Banco Nacional da Habitação (BNH). Acabaram-se os financiamentos e tivemos que começar a nos autofinanciar e eu comecei a entender que a Mota Machado para São Paulo era muito pequena para resistir a tudo aquilo.
Aí resolvemos concentrar o nosso foco onde o resultado está melhor e a nossa presença está melhor. Esse nosso resultado que a gente luta tanto e a qualidade das nossas obras e é preciso ter gente olhando e São Paulo fica fora do eixo. Teresina e São Luís a gente já tem dificuldade que tem que deslocar os diretores.
O POVO – E onde mais a Mota Machado pode chegar?
Assis - Eu ainda não tirei São Paulo da minha cabeça, ainda não, é um sonho ainda. Eu creio que o mercado de São Paulo é muito grande, a gente é pequeno, mas pode ter algo. Eu não descarto.
São Paulo é sempre um aprendizado, mesmo a gente sendo pequeno, mas estar perto dos grandes. Se tiver que repensar eu pensaria primeiro em Campinas. Alguma coisa no Nordeste, mas a competição é muito grande aqui. São Paulo é muito competitivo, mas o mercado é muito grande e tem mais espaços.
O POVO – Como o senhor avalia, atualmente, o mercado imobiliário no Brasil e no Ceará?
Assis – O Brasil tem tantas circunstâncias atuais que vão acontecer ou que não vão, mas o retrato da realidade é que o mercado está muito bom.
Hoje, o mercado está muito bom, acima do que se esperava, mas como ele vai caminhar sozinho não sabemos. Eu escuto muito isso e concordo que a gente tem que sair um pouco da análise da Faria Lima (mercado financeiro de São Paulo) que especula para cá e especula para lá.
O nosso produto é de longa duração, entre conceber e entregar os nossos produto lá se vão cinco anos no mínimo. Se eu fosse fabricante de sapatos tudo bem, mas o meu produto demora cinco anos. Sai crise, entra crise, sai presidente, entra presidente, então aposto muito nisso.
Como os nossos produtos são de longo prazo, estaremos sempre lançando e sempre produzindo e teremos um espaço. Em alguns momentos vão ser melhores e outros piores. Acredito na manutenção de um nível de atividade.
Para a gente ter qualidade precisamos de uma boa mão de obra, se tivermos substituição que vá transferindo as pessoas de obras, sem precisar demitir só vejo vantagens. E o mercado a gente enfrentar dessa forma.
O POVO – O Ceará estaria dentro dessa mesma análise?
Assis – Eu acho que está na mesma. Fortaleza tem uma peculiaridade que nos favorece é que a gente escapa um pouco das grandes concorrentes.
Esse povo do Sul veio uma época para cá, eles querem grandes valores gerais de vendas (VGV) e para eles não interessam fazer um prediozinho aqui onde a Mota Machado faz. Eles querem fazer quatro a cinco torres ao mesmo tempo. Nossa arquitetura de cidade e nosso espaço urbano não tem vazios para eles construírem isso tudo.
Em Fortaleza estamos, digamos assim, mais protegidos dessas invasões de fora. Já São Luís você anda dois minutos de carro e tem áreas enormes para serem construídas.
Isso foi caso recente de empresas de São Paulo que estavam cheias de dinheiro ficaram com obrigações perante os investidores de provocar VGV de qualquer jeito e lançaram muitas coisas sem pesquisa de mercado e saturou um pouco, mas acho que hoje já há até da parte dos bancos uma consciência que não é uma coisa boa saírem aprovando. Tenho muita esperança com Fortaleza e São Luís.
Teresina, que a gente atua, é uma praça melhor, mas estamos consolidando nossa marca. Todo lugar que a gente chega com tempo a gente conquista o cliente com qualidade e transparência.
O POVO – Quais as principais tendências em imóveis no Estado e no Nordeste onde atua?
Assis - Nós temos procurado nos especializar numa faixa média, média alta porque o nosso padrão de qualidade ele é muito exigente. Nós somos exigentes com nós mesmos aqui, nossos engenheiros de obra querem qualidade. Assim, chega em um nível de preço que ele tem que trabalhar num mercado mais alto.
Não é questão de tamanho do imóvel é a capacidade de renda do cliente. Eu posso ter um apartamento de 300 m² ou de 60 m² para pessoas que querem morar bem, eles querem ter uma boa qualidade da obra e eles ganham bem.
Vamos lançar um empreendimento na rua Marcos Macedo, de ótima qualidade, mas de 60 m² e 40 m², e com área externa com academia no rooftop, com área gourmet, coworking, área de lavanderia, delivery room, petplace e piscinas diferentes dos maiores que lançamos, mas com o mesmo padrão.
O POVO – Como a Mota Machado tem tratado a questão do ASG já que no Brasil estamos bem atrasados nesse quesito?
Assis - A gente tem um slogan antigo - igual a você: diferente. Temos que honrar esse nosso slogan. Hoje no mercado não somos os únicos, existem boas construtoras fazendo boas obras, com bons acabamentos e tudo. Nós temos que buscar um diferencial para ser igual a você diferente.
O que a gente está apostando, que é vanguarda, é no ASG. É vanguarda, poucas empresas estão preocupadas com isso. Eu acho que nós mesmo estamos um pouco travados nisso, mas há essa crença de que nós termos que avançar muito nisso.
Estamos indo por um caminho bacana, na área ambiental, entregamos o Rooftop Canuto 100 que é certificado Excellence in Design for Greater Efficiencies (Edge), concedido pelo Banco Mundial, que diz que o nosso padrão de construção é sustentável de acordo com o padrão Edge.
Cada apartamento do empreendimento vai receber seu próprio certificado.
Temos também o Al Mare San Marcos Design, em São Luís, que recebeu o pré-certificado Edge. Ao todo são três pré-certificações Edge e um já com o certificado final. Também temos o Selo Município Verde proferido pela Prefeitura de Fortaleza.
E desde o ano passado começamos um trabalho com a esfera de gestão ambiental que proporcionou uma plataforma rodando em todas as obras que podemos verificar tudo que estamos gerando de emissão de gás carbônico.
Temos uma gestão ambiental em todas as nossas obras. Também colocamos nos padrões de protocolos do GHG Protocol. Estamos numa gestão focada na sustentabilidade para longevidade.
O POVO – E no Social e na Governança?
Assis – No social somos uma empresa Great Place To Work (GPTW) e é muito relevante para nós, pois estamos acima da média, mas ainda não temos média 100 e isso gerou um plano de ação para chegar ao máximo para termos os colaboradores satisfeitos, pois a empresa é feita de pessoas.
E dentro da nossa governança temos conselhos constituídos na Mota Machado que são conselhos consultivos e gestor, que defendo muito esta gestão compartilhada. Temos conselho familiar e temos consultoria externa com a Big Four que faz nossa auditoria.
O POVO – Como a Mota Machado fechou 2022 e as expectativas para 2023?
Assis – O ano de 2022 foi muito bom, continuamos acreditando muito no mercado. Nós tivemos crescimento de dois dígitos, foi melhor um pouco do que se esperava. Acho que isso é o reconhecimento de que a gente está no caminho direitinho, escolhendo bons projetos.
Para 2023 a expectativa continua muito positiva. A gente deve lançar empreendimentos em Fortaleza, três, e um em São Luís. Acreditamos que o ano será bom, também acima de dois dígitos de crescimento. Dos empreendimentos na capital cearense dois são em parcerias com outras empresas.
Fui procurado pela C. Rolim que tem um projeto super luxo no Coco, o Flora, e querem fazer com a gente. Temos muita sinergia nos valores. Já foi oficialmente assinado e vamos lançar no primeiro semestre deste ano. Terá
O POVO – E os outros lançamentos?
Assis – O outro é com a empresa Biosphere, que tem como sócio o ator Cauã Reymond e o empresário Marcos Araújo, que é um novo conceito com a assinatura de um estilo de vida diferente.
Cauã já veio a Fortaleza assinar e lançamos o empreendimento que prevê sustentabilidade, qualidade de vida, boa localização, reúso de água, estrutura para bicicletas e carros elétricos, área de lazer com sala de meditação e ioga. Será na Aldeota. E o terceiro será apenas nosso no bairro de Fátima.
Estamos em um momento de avaliação de como tudo vai ser nessas parcerias. Também temos esse espaço do Inovammos (local que gravamos a segunda parte da entrevista) que é para um novo momento da Mota Machado de conexão, de pensar fora da caixa com inovação e tecnologia.
O POVO – O senhor agregou boas experiências na vida pública e na política. O que isso agregou de aprendizado que o senhor trouxe para a vida empresarial?
Assis - No mundo empresarial a gente fala muito em capital, capital financeiro, capital moeda, mas essa minha passagem pela vida pública me deu um capital que eu digo que é intangível, que é o capital que ninguém toma nunca, é a experiência, é o conhecimento que eu tive da realidade do Ceará e o que é importante fazermos, o que a gente devia ter como foco e como meta das ações políticas do Estado.
Então me julgo assim, uma pessoa muito grata a Deus por ter me permitido participar de um projeto desse tipo, pois me engrandeceu muito, muito, muito. Faria tudo de novo, tudo que eu fiz eu faria novamente, não queria estar lá agora de jeito nenhum, mas tudo o que eu fiz eu faria de novo.
Foi muito engrandecedor para esses valores que eu carrego na minha vida e que trago para a empresa.
O POVO – O que o senhor destacaria na história da Mota Machado?
Assis – Eu destaco a capacidade de resiliência muito grande. O Brasil é feito de ciclos e a gente vive num sobe e desce e as empresas sofrem com isso, sofrem pela descontinuidade das políticas públicas.
É uma resiliência que nós temos para superar tudo isso e ultrapassar todas as crises, não sei nem quantas crises passamos nesses 55 anos, mas a cada quatro ou cinco anos no mínimo tem uma. Eu credito que isso tudo, a nossa estrutura, as pessoas que fazem a Mota Machado e os nossos conceitos que disseminamos a vida toda.
Eu acho que isso é o intangível da Mota Machado, como eu tive esse intangível na vida pública, a Mota Machado tem o dela que não tem valor e não é vendido por dinheiro, por resultado, por grupo, por VGB, por nada disso. É medido pelas pessoas que estão aqui conosco.
O POVO - A gente sabe que a questão da habitação no Brasil, de forma geral, ainda é um assunto delicado porque tem pessoas que não têm ou têm uma condição muito ruim ainda, de moradia. Como o senhor enxerga alternativas para começar a mudar esse cenário no País?
Assis - Eu acho que o Brasil tem estrutura financeira para esses projetos de habitação popular mas nós não nos dedicamos. Tem uma carência e uma demanda enorme no Brasil. Eu creio que são cometidas algumas injustiças com aquelas pessoas que mais precisam.
Se eu Mota Machado vou fazer um prédio de luxo aqui no Meirelles eu tenho a minha disposição com a infraestrutura de água e esgoto, de energia, que o meu cliente não vai pagar por isso, ele vai pagar pelo o que ele vai comprar.
Quando você vai para a área popular é muito cruel você incluir os investimentos na infraestrutura para as pessoas que não podem pagar. Os governos precisam absorver essas estruturas públicas e o cliente pagasse só a unidade habitacional dele.
Mas não falta dinheiro, falta seletividade nos projetos. Não precisam ser grandes projetos, mas seria saudável se disseminasse isso no Ceará, em várias cidades a carência de habitação é muito forte.
O POVO – Quais os planos profissionais para os próximos anos? Já pensa em sucessão?
Assis – Tenho 78 anos! Hoje eu dizia que a gente tem que entender a sabedoria de cada momento da vida que a gente passa. Tem que ter sabedoria para ver a hora de parar e eu não estou precisando parar ainda.
A minha cabeça é boa ainda, não tenho a agilidade que eu tinha com 40 aos de idade, mas eu reconheço que consigo pensar bem ainda. Eu continuo na Mota Machado, mas não sou mais o CEO da empresa, temos vários diretores que tocam o dia a dia.
Eu participo de uma forma de pensar, de planejar, pois a minha experiência ajuda muito. Sucessão eu ainda não pensei. Pode ter gente que esteja querendo o meu lugar (brinca olhando para a filha Rafaela), mas estou brincando.
Vivemos num ambiente muito bom e cada um dá sua contribuição com as ferramentas que tem. Eu trago minha experiência e esse capital intangível que adquiri ao longo da vida e a cada dia a gente vê que essa vivência é mais necessário.
Sucessão não está na minha pauta. Queremos continuar crescendo, não só nos números, mas na disputa que ela tem no mercado e na aceitação dos clientes. Temos um espaço grande a conquistar.
O POVO – E os planos do Assis pessoa física?
Assis – Eu quero continuar feliz (se emociona). Eu sou uma pessoa feliz, sou realizado e quero que isso continue, que Deus me dê o direito de ter saúde para tocar esse barco. A vida é muito boa é muito gostosa.
O POVO – Qual legado que a Mota Machado deixa para a economia cearense?
Assis – Pode parecer pretencioso dizer que a Mota Machado deixa um legado, mas precisamos reconhecer que é verdadeiro que nós deixamos o legado de uma empresa que luta há muitos anos com armas muito éticas e trabalhado muito corretamente.
Temos defendido princípios que o cliente seja o centro das nossas ações. Se pudesse dizer a algumas empresas que estão surgindo, a Mota Machado pode ser um paradigma para esses novos.
É a realidade, mas temos que reconhecer, sem soberba ou falta de humildade, que temos princípios e procedimentos, projetos e obras que podem ser analisados por quem desejar ter uma estrada bem percorrida e pavimentada ao longo da vida.
A filha Rafaela também contou que o pai costuma ligar para seu filho e marcar happy hour com ele e os amigos do neto com certa frequência, assim se mantém atualizado dos assuntos em comum entre as gerações.
Quando se candidatou a prefeito em 1992, uma passagem virou meme na família. O filho Adalberto, que tem mania de fazer expressões de careta, foi representar o pai em um comício. Duas crianças começaram a imitá-lo. Adalberto perdeu a concentração e caiu na gargalhada.
Logo no início da entrevista, ainda na residência, senhor Assis se emocionou várias vezes ao contar sua história e dos filhos. Assim, como alguns deles também se emocionaram. No fim, já no espaço Inovammos da empresa, todos estavam emocionados.
Essa entrevista exclusiva com o presidente da Mota Machado para O POVO dá sequência à segunda temporada do projeto Legados: A tradição familiar como pilar dos negócios.
Serão nove entrevistas com grandes empresários para contar a base que sustenta seus princípios, valores e tradições familiares que estão sendo passados para as novas gerações. E, ainda, o legado empresarial para o Ceará.
No próximo episódio, conheça a história de Clicio Pinheiro Machado, fundador da Auto Peças Padre Cícero, ao lado dos irmãos, que concedeu entrevista ao O POVO.
Uma série de entrevistas especiais com grandes empresários que deixam legados para a sociedade e a economia do Ceará