Logo O POVO+
Cajuína São Geraldo: o refrigerante de caju que extrapola as fronteiras do Ceará
Reportagem Seriada

Cajuína São Geraldo: o refrigerante de caju que extrapola as fronteiras do Ceará

| Teresinha Lisieux | Integrante da segunda geração da família, a executiva conta sobre o início nos negócios do tio, os integrantes que trabalham na empresa e os novos planos da famosa bebida
Episódio 10

Cajuína São Geraldo: o refrigerante de caju que extrapola as fronteiras do Ceará

| Teresinha Lisieux | Integrante da segunda geração da família, a executiva conta sobre o início nos negócios do tio, os integrantes que trabalham na empresa e os novos planos da famosa bebida
Episódio 10
Tipo Notícia Por

Sinônimo de categoria, a Cajuína São Geraldo é considerada uma marca love, ou seja, ultrapassa a barreira da relação cliente e empresa, e se torna essencial na vida do consumidor, que passa a ter relações afetivas com ela.

Mas qual o segredo de tudo isso? Uma empresa que tem uma base familiar forte, com 22 membros, dos 80 que pertencem à família Souza e Sousa, trabalhando no grupo, que além de refrigerante de caju possui os sabores uva e guaraná e uma marca de água homônima e o cemitério Parque das Flores.

Entre os familiares que estão na atual gestão, a diretora administrativa Teresinha Lisieux foi a escolhida para conversar com O POVO, numa espécie de porta-voz, para repassar os valores e contar sobre essa história que mistura religião, fé, família, amor e profissionalismo.

A diretora da CajuínaTeresinha Lisieux é da segunda geração da família. Ela é filha de Dona Celina, irmã do fundador José Amâncio.
A diretora da CajuínaTeresinha Lisieux é da segunda geração da família. Ela é filha de Dona Celina, irmã do fundador José Amâncio. (Foto: JÚLIO CAESAR)

A característica mais repetida por ela foi que seu tio, o fundador José Amâncio de Souza, era muito humilde e isso se mantém preservado no dia a dia laboral dos colaboradores e familiares. Se engana quem pensa que só por ter o sobrenome Souza na carteira pode ser registrado na empresa.

É preciso estudar, dedicar-se, aperfeiçoar-se e ter o perfil profissional que se encaixe nos valores da empesa. Por isso, recentemente, um grupo de jovens da família passou por um programa de trainee para identificar possíveis gestores que possam se inserir no quadro da empresa para continuar o legado do fundador, que antes de assumir os negócios era sapateiro.

E foi convidado a trabalhar numa empresa de bebidas gerais, incluindo alcoólica, depois comprou a empresa e refez o portfólio até chegar ao atual, quando dois irmãos, Tarcila e Francisco, uniram-se em sociedade a ele.

Como tudo que pertence a Juazeiro do Norte, local onde está a empresa, é abençoado, com a Cajuína São Geraldo, que leva o nome de um santo, não seria diferente.

 

 

Conheça os números da empresa

O POVO - Quais suas primeiras recordações de infância com a família?
Teresinha Lisieux - Estou na empresa desde criança, desde o tempo que a gente descastanhava caju com as mãos. Morávamos em Brejo Santo, mas vinhamos para Juazeiro do Norte e ficávamos todos os netos do meu avô, Firmino Amâncio de Souza, em volta dele nesse castanho, e ele observando a todos.

Foi a primeira vez que eu comecei a trabalhar na empresa. O entrosamento entre primos basicamente ocorria nas férias todas as férias, todos os primos, eram convocados aqui para trabalhar.

Porque a safra do caju é de setembro a janeiro e as férias tínhamos em dezembro e janeiro. A empresa era do meu tio, José Amâncio de Souza, que fundou a Cajuína São Geraldo. Posteriormente meus tios Tarcila e Francisco se tornaram sócios.

O POVO - O que seus avós e pais ensinaram de mais relevante que traz até hoje e aplica na vida e nos negócios?
Teresinha - A coisa mais importante que nós trazermos na bagagem que vem dos nossos ancestrais é a humildade. É o espírito humildade, não diga o espírito de pobreza, porque uma coisa é você ser pobre outra coisa é você ser humilde.

E essa humildade de você respeitar as pessoas e você saber se colocar no seu lugar. Isso a gente sempre carrega na nossa família.

O POVO – Como era a sua relação pessoal com o fundador José Amâncio de Souza?
Terezinha - Na relação de criança era mais com o meu avó e minhas tias. Com ele vim ter mais convívio em 1983 quando eu passei a ser funcionária da empresa.

Ele era muito rígido, eu já sabia pelos meus irmãos que trabalhavam aqui. Ele cobrava muito e meu sonho não foi diferente, realmente ele me cobrava bastante.

É tanto que eu sou uma das poucas sobrinhas que mudaram tanto de local aqui dentro. Eu passei por várias áreas: pelo financeiro, pelo DP (Departamento Pessoal), faturamento, vendas e de águas minerais. Eu ia organizando cada setor, quando o setor estava bom ele me mudava para organizar outro.

Eu nunca entendi por que que ele fazia isso, na minha cabeça de jovem era como se ele tivesse uma marcação comigo. Ele não gosta de mim. Mas minha tia me confortava dizendo assim: 'Ele faz isso porque confia no seu trabalho."

Somente agora eu venho perceber o quanto foi importante eu ter passado por todos esses setores da empresa, porque hoje eu conheço a empresa como um todo. E aprendi a não esmorecer e não desistir, isso passo para os meus dois filhos, Sara, arquiteta e Abraão, oftalmologista. Tudo na vida passa os bons e maus momentos.

O POVO – E com os outros tios sócios?
Terezinha – A tia Tarcila (que vai diariamente na empresa apesar da idade) era a parte contábil, administrativa do negócio. Ela é contadora.

Já o Francisco de Souza, atualmente portador da doença de Alzheimer, era o mais operacional, ele era quem cuidava de toda a parte de produção do negócio, e José Amâncio era o sócio majoritário, ele era o estratégico e fazia as negociações para a empresa.

Dona Tarcila Souza é irmã do fundador José Amâncio e juntos com Francisco eram os três sócios da empresa em 1976 como recebeu o nome de Cajuína São Geraldo(Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR Dona Tarcila Souza é irmã do fundador José Amâncio e juntos com Francisco eram os três sócios da empresa em 1976 como recebeu o nome de Cajuína São Geraldo

O POVO - Por que escolheram o nome São Geraldo?
Teresinha - Minha família é uma família muito religiosa. O meu tio, José Amâncio de Souza, era muito devoto de São Caetano e nós tínhamos uma outra empresa na região, uma outra indústria de refrigerante, que tinha o nome do santo.

Mas a minha avó pediu a ele para não ser São Caetano e sim São Geraldo.

O POVO - Como foi a decisão de ir trabalhar no grupo familiar? Teve algum receio?
Teresinha - Na realidade, aos 20 anos eu não pensava em vir trabalhar na Cajuína São Geraldo. Eu me formei e estudei com contabilidade e quando entrei no mercado de trabalho comecei em um escritório de contabilidade da cidade.

Só que em nove meses depois trabalhando com a carteira assinada lá, com a minha profissão de escriturária, minha mãe foi lá e disse assim a minha filha não vai mais trabalhar aqui ela vai trabalhar com meus irmãos.

Trabalhar na Cajuína São Geraldo não era um sonho meu, era da minha mãe. E estou aqui... Há 39 anos.

O POVO - Qual foi o seu momento mais marcante na carreira?
Teresinha - Passei por muitos desafios durante esse período que estou aqui. Passei por uma mudança da Rua Conceição para vir para esse parque industrial em 1981.

Foi um desafio muito grande, uma empresa de fundo de quintal vir para pátio supermoderno. Em 2002 tivemos uma grande perda, do nosso gestor principal José Amâncio de Souza, que também foi difícil e nós tivemos que lidar com a continuidade da empresa.

E vieram outros problemas administrativos e também, em 2017, eu fui acometida por um câncer, mas superei e aqui estou firme e forte trabalhando pela Cajuína São Geraldo. 

 

Conheça o legado familiar: descendentes

José Gerardo, Ana Maria, Edmo Andrei, José Hudson, Irving, Teresinha Lisieux, Sara Yasmin, Junior Pio, Edson, Eduardo, Joseane, Camila, Evandro, Elionaldo, Livia, Tarcila Sousa, César Junior, Virgínia, Luciene, Barbara, Tamiles, Sousa Junior

O POVO - De que forma acredita que você e seus primos da mesma geração somaram aos negócios? No que inovaram?
Teresinha - Todos os meus primos que hoje adentram na Cajuína eles são preparados para isso. Recentemente nós tivemos o grupo de trainee que foram um grupo de pessoas da terceira geração, garotos da terceira geração, que passaram dois anos treinando para ficar na empresa.

Então para essa participar do grupo hoje tem que ser um bom profissional e é isso que todos eles querem fazer. Estudar muito para poderem entrar na Cajuína um bom profissional.

Sempre dizem que em empresa familiar as pessoas trabalham porque são parentes. Na Cajuína São Geraldo não é assim. Você tem que ser um bom profissional para poder entrar lá dentro e fazer a diferença.

O POVO - E o que veio dos antecessores que a empresa não abre mão?
Teresinha - Nós temos uma tradição religiosa muito forte. E essa tradição religiosa ainda permeia por dentro da empresa. Somos uma empresa católica, mas somos ecumênica, ao mesmo tempo, mas as tradições da religião católica elas oscilam mais fortes.

Mas o principal ponto que vem dos nossos ancestrais que fundaram essa empresa é a humildade. No quarto de José Amâncio de Souza só tinha uma cama, uma rede, um guarda-roupa, uma cadeira de balanço e uma televisão.

Não porque ele não pudesse comprar, mas porque era a forma simples dele viver. A humildade é um dos principais fatores.

Além de ter cursado contabilidade, Teresinha formou-se em diversos cursos Filosofia, pós-graduação em Controladoria e Auditoria e especialização em Gestão Empresarial.(Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR Além de ter cursado contabilidade, Teresinha formou-se em diversos cursos Filosofia, pós-graduação em Controladoria e Auditoria e especialização em Gestão Empresarial.

O POVO - Quais as principais evoluções do grupo ao longo dos anos?
Teresinha - Nós falamos de 46 anos de história da Cajuína São Geraldo, gostamos sempre de repetir que é de CNPJ, pois a indústria Cajuína São Geraldo de bebidas já funciona desde 1964.

Durante todo esse período, esse legado de humildade, trabalho, educação, cultura a gente tem preservado e tem levado até a cajuína que ela é hoje.

O POVO - Em que momento acredita que a empresa deixou de ser a indústria e se tornou uma marca forte no Cariri e no Ceará, além de reconhecida nacionalmente?
Teresinha – A Cajuína São Geraldo ela sempre teve um carinho especial por todo juazeirense. No Juazeiro do Norte, Região do Cariri, nós temos uma tradição que chama renovação, são os votos que o casal faz para que todos os anos haja a renovação dos santos.

Nosso primeiro marketing era dar uma grade de cajuína a quem fazia a renovação na sua casa. Porque nessa tradição que é uma novena, e vem desde a época de Padre Cícero, servia-se café, chá e aluá. Então o José Amâncio colocou a Cajuína São Geraldo.

Isso foi só crescendo e as pessoas gostando. Então elas chamam de a cajuína, o refrigerante de caju e não a cajuína propriamente dita. Quando tínhamos os outros sabores, as pessoas pediam: 'Me dê uma cajuína de laranja ou uma cajuína de cola.'

Isso levou as pessoas a amar a nossa marca. Outra coisa importante é o trabalho que nós fazemos com os romeiros. Recebemos também todos os romeiros da região Nordeste aqui dentro da nossa empresa. Eles recebem um livro, degustam dos nossos produto e se quiserem adquirem mais produtos.

O carinho que a gente passa para essas pessoas faz com que eles amem e elevem a nossa marca.

O POVO - Como tem introduzido os avanços tecnológicos na produção?
Teresinha - Fizemos grandes investimentos em novos maquinários. Teve uma feira agora na Alemanha onde três dos nossos diretores foram para essa feira, a pessoa da qualidade também foi para essas feiras para buscar todas as inovações.

Todos os projetos que eles viram na feira, que se adequavam a nossa indústria e que nós tínhamos capital para bancar nós vamos aplicar. Então na área industrial ela está muito bem desenvolvida, com bons parâmetros nos mais modernos padrões existentes internacionais.

O POVO – Como linkar o tecnológico com o produtivo?
Teresinha - Nós trabalhamos com pessoas e por mais que as pessoas tenham boa vontade, sejam empenhadas, há a falha humana.

Determinados processos, hoje, há a tecnologia para suprir a mão de obra humana. Isso nós estamos fazendo em alguns setores.

Nós não vamos criar desemprego, que fique bem claro, vamos remanejar as pessoas, mas as máquinas vão fazer o trabalho. Nós não estamos gerando um desemprego. Nisso ganhamos tempo de produtividade.

O POVO - Além do refrigerante de caju produzem de uva e Guaraná. Qual a proporção do portfólio? E pretendem novos sabores ou produtos? E a água?
Teresinha – Hoje o de caju corresponde há 95% e os demais com 2,5% cada. Nós já tivemos no nosso portfólio sabor laranja, o guaraná, a uva e o sabor cola, mas nós não tínhamos tempo de linha suficiente.

Com os novos investimentos em maquinário e as inovações feitas e retrofit nas máquinas vamos ficar com o tempo de linha suficiente para envasar novos sabores.

Volta o laranja e o cola já em 2023, no primeiro semestre. Estão em estudo novos sabores no setor de desenvolvimento.

O POVO - Pretendem avançar além do Nordeste?
Teresinha - Hoje nós atuamos no Nordeste, em todos os estados, e estamos no Sul, porém, o nosso foco principal do planejamento estratégico é estar em todo o Nordeste.

A Cajuína São Geraldo ela é muito conhecida no Ceará, mas quanto mais vai ficando distante da nossa sede vai perdendo. De 2023 a 2025 vamos estar em todo o Nordeste.

O POVO - O que projetam para 2023?
Teresinha – Nosso setor de desenvolvimento está estudando bebidas com pouco açúcar e mais voltada para o público esportivo. Algo na linha de águas com sabor, com poucas calorias.

O POVO - A família já fez planos sobre sucessão?
Teresinha - Sim, a gente conversa muito sobre isso, inclusive no programa trainee nos ajudou bastante a já ter algumas peças para somarem.

E dentro da corporação, hoje, a gente já procura profissionalizar o máximo a empresa para já criar a sucessão, quer seja uma sucessão com as pessoas da família, ou uma sucessão com profissionais externos. Isso tudo já está no nosso radar vestindo.

O POVO - De que forma a Cajuína São Geraldo contribui para o legado industrial e econômico do Ceará?

Teresinha - A Cajuína São Geraldo hoje é uma love marca. A Cajuína São Geraldo representa o sabor do Nordeste, esse sabor que tem o caju tropical.

E esse sabor a Cajuína São Geraldo leva até onde as pessoas possam colocar na sua bagagem. Temos fotos e imagens da cajuína em vários pontos do mundo. Tem pessoas que levaram para seus parentes que estão distantes daqui.

A cajuína hoje é o que nós costumamos dizer, não é mais um produto, nem uma marca da família Souza e Sousa, mas um legado do Ceará.

 

 

Linha do tempo 

 

 

Bastidores

 

Entrevista

A entrevista foi marcada via assessoria de imprensa e a primeira questão foi decidir quem daria a entrevista pois 22 membros da família Souza e Sousa, do fundador da empresa, que não casou ou teve filhos, trabalham lá.

Depois da troca de datas por questões de saúde, eu e a equipe viajamos para Juazeiro do Norte de carro.

Chegando lá houve troca de fonte e com toda gentileza e simplicidade a diretora administrativa, Teresinha Lisieux nos recebeu para falar em nome da família toda.

 

Locais

A primeira parte da entrevista foi realizada na fábrica onde conhecemos dona Tarcila, irmã do fundador, única da primeira geração que ainda trabalha.

Já o encerramento foi em uma propriedade da Teresinha que foi o local da primeira fábrica do tio.

Com o intuito de não venderem para demolir ela adquiriu e hoje a filha arquiteta trabalha no local que ela também abre para eventos e romarias.

 

 

Projeto Legados

Essa entrevista exclusiva com a herdeira da Cajuína São Geraldo para O POVO encerra a primeira temporada do projeto Legados: A tradição familiar como pilar dos negócios.

São dez entrevistas nesta primeira temporada com grandes empresários para contar a base que sustenta seus princípios, valores e tradições familiares que estão sendo passados para as novas gerações. E, ainda, o legado empresarial para o Ceará.

Mais notícias de Economia

 

 


Expediente

  • Direção de Jornalismo Ana Naddaf e Erick Guimarães
  • Coordenação e edição Beatriz Cavalcante e Irna Cavalcante
  • Edição de design e identidade visual Cristiane Frota
  • Edição e coordenação do Núcleo de Imagem Chico Marinho
  • Edição de fotografia Júlio Caesar
  • Edição OP+ Beatriz Cavalcante e Regina Ribeiro
  • Texto Carol Kossling
  • Fotografia Aurélio Alves e Júlio Caesar
  • Recursos visuais Beatriz Cavalcante
  • Produção Geral Carol Kossling
  • Audiovisual Arthur Gadelha (direção audiovisual e roteiro); Aurélio Alves e Júlio Caesar (direção de fotografia); Luana Sampaio (direção audiovisual); Carol Kossling (produção e reportagem); Samya Nara (produção); Raphael Góes e Abdiel Anselmo (edição).
O que você achou desse conteúdo?