Com carreira de ascensão meteórica, um jovem brasileiro tem se colocado entre os maiores dos esportes eletrônicos mundial. Conhecido nos servidores de Valorant como “Less”, Felipe Basso é dono de uma trajetória de conquistas marcantes. Campeão mundial de 2022 pela Loud e agora jogador da europeia Team Vitality, ele é admirado por suas habilidades técnicas e inteligência estratégica, ganhando respeito dos adversários e uma base fiel de fãs.
Nascido em Curitiba, no Paraná, Less tem 20 anos e já está com o nome marcado na história do e-sports brasileiro. Seu início profissional foi precoce, ainda aos 16 anos, quando assinou contrato com a Loud, uma das organizações mais renomadas do País. Após brilhar nas partidas casuais online, ele ajudou a construir com sua mira e esforço uma épica vitória do Valorant Champions, o maior torneio mundial do Valorant.
Em entrevista exclusiva ao O POVO+, o jogador revela que seu desejo de alcançar o primeiro lugar começou há muitos anos. "Eu sempre planejei estar no topo. Se eu não quisesse isso, não estaria jogando. Todo mundo quer estar no topo, e eu pensava sobre isso desde os 10 anos", compartilha. Essa mentalidade de foco no futuro e na busca incessante pela perfeição crucial para o seu desenvolvimento.
A dedicação de Less não se restringiu apenas aos torneios e campeonatos. Ele sempre levou as partidas ranqueadas a sério, algo que, segundo menciona, era essencial para mostrar seu potencial. “Muita gente no Brasil não leva isso a sério. Se você não tem time ou campeonato, tem que se destacar onde pode. E no começo, é na ranked. Eu levava muito a sério, assistia minhas próprias VODs para aprender", relembra.
Esse foco nas pequenas evoluções contínuas, especialmente nas partidas ranqueadas, o ajudou a criar uma base sólida para se destacar em cenários mais competitivos. Foi desse modo, inclusive, que ele foi notado em 2021 por Gustavo “Sacy”, o qual havia migrado do League of Legends para montar um time de Valorant. Nesse momento, os jovens Less e Erick “Aspas” completaram a line ao lado dos experientes Matias "Saadhak" e Bryan "pANcada".
Logo em suas primeiras exibições, a equipe se destacou no Valorant Champions Tour (VCT) Brasil, conquistando em março de 2022 a Etapa 1 do Challengers (campeonato brasileiro) com uma campanha invicta e vencendo a Ninjas in Pyjamas (NIP) por 3 a 0 na final. No cenário internacional, a Loud também teve um desempenho notável. No Valorant Masters Reykjavík, em abril, o time chegou à final, mas foi derrotado pela OpTic Gaming (Estados Unidos), dando início a uma das maiores rivalidades do FPS da Riot Games.
Posteriormente, a equipe voltou ao Brasil e conquistou mais um título, desta vez na Etapa 2 do Challengers, em junho, também de forma invicta e com nova vitória sobre a NIP por 3 a 0. No mês seguinte, disputou o Masters de Copenhagen, na Dinamarca, mas não conseguiu um bom desempenho, sendo eliminada na fase de grupos após duas derrotas (para KRÜ e novamente para OpTic Gaming).
No entanto, o principal torneio do ano ainda estava por vir: o Valorant Champions 2022, realizado entre 31 de agosto e 18 de setembro em Istambul, na Turquia, reunindo as melhores equipes do mundo.
Na fase de grupos, a Loud ficou no mesmo grupo da Boom Esports (Indonésia), Zeta Division (Japão) e da velha conhecida e temida OpTic Gaming. Na estreia, derrotou a Zeta, mas na segunda partida perdeu para a OpTic pela terceira vez. Com isso, disputou uma partida eliminatória contra a Boom, vencendo por 2 a 0.
Na fase seguinte, superou a DRX (Coreia do Sul) e, em seguida, enfrentou a OpTic novamente, conquistando sua primeira vitória sobre os americanos e garantindo a classificação para a grande final do torneio. E quis o destino que a decisão fosse realizada entre Loud e OpTic, que havia superado a DRX por 3 a 2 na chave inferior.
No duelo decisivo, a Loud dominou a partida e venceu por 3 a 1, conquistando o primeiro título mundial de Valorant para o Brasil. A vitória de Sacy, Saadhak, pANcada, Aspas e Less coroou o esforço coletivo e consolidou a equipe como uma das mais importantes do cenário global.
Também não demorou muito para que equipes de todo o mundo passassem a se interessar pelos players campeões. Prova disso é que Sacy e pANcada se transferiram para a Sentinels (EUA) nos meses seguintes. Por outro lado, mesmo com diversas propostas na mesa, Saadhak, Aspas e Less optaram por permanecer na Loud, com a se mudariam em 2023 para Los Angeles, onde disputariam a primeira edição do Valorant Champions Tour Americas (VCT, a Liga das Américas de Valorant).
Entre os fatores decisivos para a permanência de Less na equipe brasileira estava a barreira do idioma. Ainda sem dominar o inglês perfeitamente, o jovem optou por continuar jogando com brasileiros, estando convicto de que a comunicação eficiente é um dos pilares do sucesso em jogos como o Valorant. Mas a importância da língua seria essencial mesmo quando estivesse fora do servidor.
Logo nos primeiros dias morando nos EUA, Less conta que sentiu na pele o impacto de não conseguir realizar tarefas básicas sem ajuda. “Foi horrível estar em um lugar onde você não consegue fazer nada sem ajuda. Eu percebi que não conseguia fazer nada sozinho. Não conseguia pedir um Uber, nem fazer compras. Foi uma sensação péssima, então fui atrás de aulas de inglês. Coloquei uma aula todo dia até conseguir me comunicar de forma confortável.”
Dentro dos servidores, enquanto isso, a Loud seguia jogando um bom Valorant. Agora renovada com a adição de "Cauanzin" e Arthur “Tuyz”, a equipe conquistou o VCT Americas em maio de 2023, superando a NRG (composta por jogadores da antiga OpTic). Esse título gerou grande hype e reforçou o sucesso da reformulação da organização, que também alcançou o top 3 no Champions 2023, realizado em Los Angeles.
Entretanto, os desafios internos começaram a se refletir no desempenho dos brasileiros na temporada seguinte. A transferência de Aspas para a Leviatán (Argentina) em 2024 foi um dos principais acontecimentos, pois ele já era considerado o melhor jogador do time e do mundo desde as temporadas anteriores. Essa saída, somada aos desgastes nos bastidores, afetou o desempenho da Loud, que acumulou uma série de insucessos que marcaram o adeus dos ainda remanescentes do título mundial de 2022.
No fim de 2024, Less e Saadhak trilharam novos caminhos rumo à Europa, com o primeiro se transferindo para a Team Vitality e o segundo para a Karmine Corp – ambos os times da França.
Após anos de sucesso na Loud, Less tomou a decisão de seguir novos desafios e assinou no fim de 2024 com a Team Vitality, uma das maiores organizações de e-sports do mundo. Ele descreve a mudança como uma oportunidade de crescimento e evolução, não só como jogador, mas também como ser humano.
"Quando você é jogador, precisa entender seu valor no mercado. A Vitality me fez uma proposta irrecusável, não só em termos de salário, mas também com uma estrutura e um projeto de crescimento", explica.
Sua chegada à nova equipe foi marcada pela ambição de se tornar ainda melhor. Em sua primeira competição pela equipe francesa, o Valorant Masters Bangkok 2025, o time conquistou a quarta colocação. Para Less, porém, esse é apenas o começo de sua jornada na Europa. "Eu não vim aqui para brincar. Quero ter meu melhor ano, de verdade".
Atualmente, Less é o único brasileiro a disputar o Valorant Champions Tour EMEA (Liga que corresponde às regiões da Europa, Oriente Médio e África). Na nova equipe, ele tem desempenhado não apenas como sentinela, função especializada em defesa e controle de mapas, com a qual se tornou o melhor do mundo.
Na Vitality, Less também passou a assumir o papel de controlador, o qual tem organiza o mapa de acordo com o interesse de sua equipe para impedir que o time inimigo tenha visão.
Para Less, as mudanças e adaptações dentro do jogo fazem parte do seu diferencial. Segundo ele, ao longo de sua trajetória, a confiança no próprio trabalho é o que passa a refletir e lhe manter no alto nível.
“O que mais me mantém entre os melhores é a confiança que tenho em mim mesmo. Sei que nos campeonatos é o meu momento, meu espaço, e ninguém pode tirar isso de mim. Acredito que é essa confiança que diferencia os melhores jogadores”, completa.
Em entrevista exclusiva ao O POVO+, o jovem prodígio brasileiro dos e-sports, Felipe Less, comenta sobre sua trajetória meteórica desde os primeiros cliques no Counter-Strike aos 4 anos até se tornar campeão mundial de Valorant com apenas 17 anos. Natural de Curitiba, ele comenta como a dedicação nas partidas ranqueadas e o apoio familiar o ajudaram a se destacar, mesmo longe do eixo principal dos esportes eletrônicos no Brasil.
Less também relata como foi conciliar escola e carreira durante a pandemia, sua experiência com o idioma inglês e a decisão de sair da zona de conforto ao aceitar o convite da equipe europeia Team Vitality. Apesar de um 2024 difícil com a Loud, ele vê na nova fase uma oportunidade de crescimento e afirma estar determinado a fazer o melhor ano de sua carreira.
Com confiança, foco e carinho pela torcida brasileira, Less compartilha planos ambiciosos, possíveis reencontros com antigos companheiros e o desejo de continuar evoluindo dentro e fora do jogo.
O POVO+ – Com pouco tempo como profissional, você já chegou ao topo do mundo de forma impressionante e agora integra a Team Vitality. Quando começou a jogar Counter-Strike aos 4 anos, imaginava tudo isso?
Less – Então, cara, eu sempre tive o objetivo de estar no topo, sabe? Se eu não quisesse isso, nem estaria jogando. Mas não foi do jeito que eu imaginava — e nem tão cedo. Achava que ia chegar no auge com uns 20 anos, não ganhar um mundial com 17. Foi uma loucura chegar tão rápido.
O POVO+ – Quando se profissionalizou, ainda estava na escola. Como foi conciliar os estudos com a rotina de jogador?
Less – Cara, para ser sincero, não foi tão difícil, porque era época de quarentena, então as aulas eram online. Eu marcava presença e ficava jogando. Meu pai sempre me apoiou, principalmente depois que viu que eu jogava bem. Ele acreditava que dava para ter futuro nisso.
O POVO+ – Você é de Curitiba, uma cidade fora do eixo principal dos e-sports no Brasil. Já tinha em mente que precisaria sair de lá para crescer?
Less – Sinceramente, não. Quando comecei a tentar me destacar, eu tinha 15 anos e nem podia competir ainda. Acho que você não precisa sair da sua cidade para ser notado. Primeiro, você se destaca — e aí, com a oportunidade certa, vai para São Paulo ou outro lugar. Eu já sabia que precisava aparecer no topo da tabela (ranking dentro do jogo), esse era o foco.
O POVO+ – E qual foi a importância das rankeds nesse processo de visibilidade?
Less – Essa é uma ótima pergunta, porque, sinceramente, muita gente no Brasil não leva isso a sério. Se você não tem time ou campeonato, tem que se destacar onde pode. E no começo, é na ranked. Eu levava muito a sério, assistia minhas próprias VODs para aprender.
O POVO+ – Quando você entrou na franquia, ainda jogava com brasileiros, então o inglês não era essencial. Em que momento percebeu que precisava aprender o idioma?
Less – Cara, percebi isso antes mesmo da franquia. Foi quando fui para os Estados Unidos e vi que não conseguia nem pedir comida em restaurante sozinho. Foi horrível estar em um lugar onde você não consegue fazer nada sem ajuda. Eu percebi que não conseguia fazer nada sozinho. Não conseguia pedir um Uber, nem fazer compras. Foi uma sensação péssima, então fui atrás de aulas de inglês. Coloquei uma aula todo dia até conseguir me comunicar de forma confortável.
Eu fui atrás de professor particular online, brasileiro mesmo, para começar do básico. Coloquei uma aula todo dia, de segunda a segunda, 8 horas da manhã. Queria morrer às vezes (risos), mas sabia que era necessário. Depois de uns seis meses, já estava confortável para conversar com nativos.
O POVO+ – Depois disso, pensa em estudar outras línguas?
Less – Sim. Primeiro quero deixar meu inglês 100%. Depois talvez estude alguma língua asiática, porque o jogo é muito forte por lá. Eu gosto da ideia de estudar línguas, faz o cérebro trabalhar.
O POVO+ – Você foi campeão mundial em 2022, campeão das Américas em 2023, e em 2024 os resultados com a Loud não foram os melhores. Como avalia esse período até chegar à Vitality?
Less – Foi um ano difícil na Loud, mas eu acreditava muito no nosso time. O ponto é que, depois que aprendi inglês, comecei a olhar o mercado e avaliar outras propostas. A da Vitality foi irrecusável — não só em salário, mas pela estrutura, pelo projeto. Eles confiaram em mim de verdade.
Saí totalmente da minha zona de conforto. Vim para outro continente, sozinho. Mas minhas expectativas são altas. Quero que este seja meu melhor ano. Não vim aqui para brincar — vim para mostrar meu melhor lado e crescer com essa equipe.
O POVO+ – Desde 2022 você é apontado entre os melhores do mundo. Como se mantém nesse nível por tanto tempo, mesmo sem jogar como duelista?
Less – Para mim, o que mais importa é a mentalidade e a confiança. Em campeonato, eu sei que é o meu momento, meu espaço — e ninguém tira isso de mim. Acredito que é isso que diferencia os melhores: saber o quanto confiam em si mesmos.
O POVO+ – Já imagina um reencontro com brasileiros ou até mesmo com a Loud em alguma competição internacional?
Less – Ah, brinquei com o Cauan (Cauanzim, da Loud) que vou ver ele nos mundiais (risos). Se acontecer, vai ser muito legal. Gosto muito dos meninos, e no fim das contas a gente sempre dá risada. Vai ser um clima especial.
O POVO+ – E a torcida brasileira? Você espera que continue com você nessa nova fase?
Less – Com certeza! Eu sou brasileiro, e o brasileiro adora torcer por brasileiro, né? Acho que a galera vai continuar me acompanhando. Já estão me apoiando bastante desde o anúncio da mudança.
Série vai explorar personagens - famosos e anônimos - para destacar histórias de vida