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Conheça museus na Grande Fortaleza que fogem do convencional e contam a história do cotidiano
Reportagem Especial

Conheça museus na Grande Fortaleza que fogem do convencional e contam a história do cotidiano

Nem só de passado vivem os museus. Instituições em Fortaleza e Região Metropolitana contam a história, por exemplo, dos partos e de como as pessoas vêm ao mundo. Ou de coisas tão prosaicas e cotidianas quanto o caju. O próprio bairro, a vizinhança, pode ser assunto de um museu. O POVO visitou cinco instituições que registram memórias de fazeres, costumes e vivências da vida comum

Conheça museus na Grande Fortaleza que fogem do convencional e contam a história do cotidiano

Nem só de passado vivem os museus. Instituições em Fortaleza e Região Metropolitana contam a história, por exemplo, dos partos e de como as pessoas vêm ao mundo. Ou de coisas tão prosaicas e cotidianas quanto o caju. O próprio bairro, a vizinhança, pode ser assunto de um museu. O POVO visitou cinco instituições que registram memórias de fazeres, costumes e vivências da vida comum
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Quando se pensa em museu, imaginam-se coleções de objetos antigos que remetem a momentos importantes e personagens famosos do passado. Parece algo distante da vida real. Mas nem sempre é assim. Eles podem tratar de experiências tão prosaicas quanto comer um caju ou brincar de boneca. No Especial Museus Sociais, O POVO apresenta cinco instituições espalhadas por Fortaleza e Região Metropolitana em que é possível passear olhar e pensamento por acervos e situações que representam vida, memória e resistência.

Longe do glamour dos museus de grandes cidades mundiais, aqui são retratadas instituições deficitárias em infraestrutura, que carregam a falta de apoio financeiro, ao passo que se mostram ricas em força de vontade para comunicar e ensinar o mundo. Indo dos métodos rudimentares das parteiras interioranas até chegar na resistência de ativistas que lutam para preservar o meio ambiente, convidamos você a perambular acompanhado por bonecas de pano e lembranças de lutas de comunidades periféricas, experimentando os sabores de uma tradição floriada à base do caju.

LEIA SOBRE CADA UM DOS MUSEUS

A história das técnicas, artes e emoções do nascer no Museu do Parto

O artesanal em detrimento do industrial no Museu da Boneca de Pano

Do tapete à eira e beira, a valorização do "fruto divino" no Museu do Caju

Um museu das memórias e lutas da gente do Grande Bom Jardim

Os pés na areia que ensinam sobre a preservação num museu no mangue da Sabiaguaba

Museus sociais

Antes de chegar a elas, no entanto, há o questionamento: você já ouviu falar de museologia social? Não? Então vamos lá!

Este é um conceito diferente dos museus comuns que funcionam em prédios pomposos, com peças obtidas por meio de transações monetárias robustas. Os museus sociais são outra coisa. E as diferenças vão desde o acervo que abrigam e expõem até o modo como são administrados. Essas instituições não são apenas espaços de contemplação e estética, segundo define o Movimento Internacional para uma Nova Museologia (Minom).

Na década de 1970, tudo era questionado: política, sexualidade, padrões sociais e culturais. E os museus também entraram nesse balaio, pois o modelo estabelecido por seus administradores passou a ser apontado como elitista e distante das questões reais da vida cotidiana. Para tanto, em 1972, na Declaração de Santiago, as preocupações das ações museológicas começaram a ser voltadas ao ser humano, à coletividade e à promoção social, buscando tornar o museu um local aberto às causas do mundo contemporâneo.

Veja no mapa de onde ficam os museus:

De acordo com o presidente do Minom, Mário Chagas, a museologia social passou então a ser uma iniciativa tomada a partir de agrupamentos sociais que pensam, organizam e põem para frente a ideia, a instituição. “São pessoas que querem preservar a própria memória ou a memória de determinada sociedade”, explica. Nesse sentido, diz ele, o Ceará tornou-se referência brasileira, servindo de inspiração para outros atores museológicos pelo País.

“A gente vive com chapéu na mão, buscando recursos”

Mesmo dispondo de prestígio nacional, museus sociais no Ceará travam verdadeiras batalhas para manter seu funcionamento. Nas visitas do O POVO, as declarações dos curadores convergiram para um mesmo ponto: a falta de apoio. Tanto poder público quanto iniciativas privadas foram citados como atores que poderiam auxiliar nesse processo, mas por vezes “se omitem”.

“É difícil manter um museu social porque atuamos com recursos próprios e com o voluntariado”, afirma a curadora do Museu da Boneca de Pano, Liduína Rodrigues. “Um espaço desse, de memória e de história, tem é que ser ampliado”, segue, acompanhada pela administradora do Museu do Parto, Silvia Bomfim Hyppólito: “As instituições funcionam hoje com muita doação pessoal de cada um de nós.”

Ela destaca que entre os desafios enfrentados está a necessidade de lançar luz sobre as atividades e trabalhos realizados dentro das instituições. “O Brasil tem de tomar conhecimento e passar a financiar as nossas iniciativas. A gente vive com o chapéu na mão, buscando recursos para financiar alguma ação. Não é nenhum pouco fácil para se conseguir financiamento”, ressalta.

Se por um lado, a redução de recursos limita as ações, por outro não impede que a reflexão chegue às pessoas. “Temos recursos mínimos e parcos, mas com o pouco conseguimos mobilizar muita gente”, aponta o curador do Ponto de Memória do Grande Bom Jardim, Adriano Almeida. “Ninguém vai ficar rico com museus ou com projetos sociais, por isso trabalhamos na base da colaboração e do engajamento social”, indica.

A participação de muitas mentes e corações, inclusive, parece estar marcada no espírito dos organizadores, segundo diz o curador do Museu do Caju, Gerson Linhares. “Eu não acredito em um museu que não é feito por várias mãos. Quando um equipamento cultural é feito só por uma pessoa ou só por uma empresa, mesmo que tenha muito dinheiro, aquele será um espaço estático, sem graça”, apregoa, sustentando que três aspectos são alcançados pelos museus sociais: “Dinamicidade, sustentabilidade e ultrapassagem das fronteiras do conhecimento”.

Apoio do Estado

Professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Alfredo Pessoa considera que a valorização do turismo cultural poderia ser um dos impulsionadores da economia do Estado. Docente do curso de Ciências Econômicas, ele alerta para a importância de repensar a atividade turística cearense. “O turismo no Ceará é restrito ao binômio sol e mar. É preciso que ao turista sejam oferecidos não somente praias, mas também turismo pelas praças, pelos museus cearenses”, sugere. “Senão fica parecendo que nosso Estado tem somente litoral”.

Para tentar alterar essa lógica, o secretário da Cultura do Ceará (Secult), Fabiano Piúba, conta que está sendo firmada parceria entre sua pasta e a Secretaria do Turismo para realizar a ação “Descubra o Ceará”. “Há de fato a predominância de um turismo no Ceará que é o de praia. Estamos trabalhando nesse projeto de turismo cultural que parte da valorização do patrimônio e da diversidade cearense”, destaca.

Entre as linhas desse projeto, estariam roteiros por cidades históricas; conhecimento de mestres da cultura; circuito de festivais de arte e de equipamentos culturais. Neste último, além de instituições vinculadas ao Estado, organizações privadas e da sociedade civil também estão incluídas. Questionado sobre a existência de políticas voltadas em particular para a museologia social, Fabiano informa que somente agora está sendo pensado instrumento mais robusto a ser implantado no Ceará.

“Estamos trabalhando na formulação de um edital para museus sociais do Ceará. Será um prêmio de reconhecimento na perspectiva de potencialização das atividades da própria rede museológica”, discorre. Tal edital, ainda não vigente, deve disponibilizar cerca de R$ 500 mil para 20 projetos de todo o Ceará. “É o primeiro edital específico de investimento aos museus sociais”, diz.

Conheça os cinco museus visitados

Os cinco museus visitados pelo O POVO trazem consigo muito afeto e carinho tanto de seus idealizadores quanto de seus visitantes, sejam eles, crianças, adultos ou idosos. Cada instituição, mantida com zelo, pensada na ótica da inclusão de histórias e narrativas, foi visitada em uma sequência própria, cuja explicação é dada abaixo.

O Museu do Parto foi o primeiro por representar o início da vida humana.

O segundo foi o Museu da Boneca de Pano, que lembra a infância e detém o caráter pedagógico.

Na sequência veio o Museu do Caju, remetendo à regionalidade da cultura nordestina.

A seguir, o Ponto de Memória do Grande Bom Jardim com o pertencimento como modelo de resistência e luta na periferia de Fortaleza

Por fim, o Ecomuseu Natural do Mangue da Sabiaguaba relembrando a preservação do meio ambiente ligado à sustentabilidade da vida na Terra.

Mas óbvio, sua visitação pode acontecer em qualquer ordem e período do ano!

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