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O artesanal em detrimento do industrial que acontece no Museu da Boneca de Pano
Reportagem Especial

O artesanal em detrimento do industrial que acontece no Museu da Boneca de Pano

Com intuito de buscar a preservação da técnica de produzir brinquedos com tecidos e linhas, além de afeto e criatividade, a instituição é repleta de peças que rememoram o poder lúdico do tocar e manipular em uma época dominada pelo deslizar dos jogos eletrônicos

O artesanal em detrimento do industrial que acontece no Museu da Boneca de Pano

Com intuito de buscar a preservação da técnica de produzir brinquedos com tecidos e linhas, além de afeto e criatividade, a instituição é repleta de peças que rememoram o poder lúdico do tocar e manipular em uma época dominada pelo deslizar dos jogos eletrônicos
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Em meio às estreitas ruas do bairro Planalto Pici, em Fortaleza, numa casinha pequena é feita a enorme reunião de personagens que marcaram, e ainda marcam, a infância de incontáveis pessoas Ceará afora. Entre convidativas plantas regadas com carinho pela família de Liduína Rodrigues, há o Museu da Boneca de Pano, fundado em 2010. Nele é buscada a preservação da técnica de produzir brinquedos com tecidos e linhas, além de afeto e criatividade.

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Repleto de peças que rememoram o poder lúdico do tocar e do manipular em uma época dominada pelo deslizar dos jogos eletrônicos, o local é “para todos os públicos”, como gosta de dizer Liduína, idealizadora e curadora do museu. Ela brinca informando que são permitidas as entradas de pessoas do zero aos cem anos de idade. “Porque para o idoso, esse espaço remete à lembranças da infância. Já para a criança, a descoberta”.

O museu é para todos os públicos, diz Liduína
O museu é para todos os públicos, diz Liduína (Foto: Alex Gomes / Especial para O POVO)

Segundo a artesã, na concepção da ideia do Museu, o objetivo era simplesmente levar as bonecas de pano para as crianças, bem como buscar a preservação da memória deste fazer. “A ideia foi essa, que depois nos permitiu trabalhar com o lado lúdico, trazendo ênfase para as nossas tradições e cultura, ao mesmo tempo que fortalecemos nossas raízes”, estima.

Durante a estadia pelo Museu da Boneca de Pano, os visitantes passeiam por três espaços. No primeiro, são vistas as matérias-primas: linhas, tecidos e utensílios que podem ser utilizados na feitura das bonecas. Já no segundo, é possível o contato com as peças. Cada pessoa pode tocar, manusear e brincar conforme sua imaginação permitir. O terceiro espaço é onde estão expostos os artefatos frutos das próprias mãos de Liduína ou que foram objeto de doação das mais diversas partes do mundo.

FORTALEZA, CE, BRASIL,  26-02-2019: Liduína Maria Lopes Rodrigues, idealizadora do Museu da Boneca. (Foto: Alex Gomes/O Povo)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 26-02-2019: Liduína Maria Lopes Rodrigues, idealizadora do Museu da Boneca. (Foto: Alex Gomes/O Povo) (Foto: ALEX GOMES)

Durante o flanear dos olhos sobre as prateleiras, personagens do Interior a Capital, do Maranhão a Minas Gerais e da Argentina a França parecem se acotovelar para melhor se mostrar ao público. Independentemente do passaporte, porém, cada boneca ali exposta traz suas individualidades. Ao contrário daquelas de plástico, com número de série e moldadas por máquinas, as bonecas de pano “têm alma”.

“Quando alguém constrói uma boneca pode ter certeza que ali terá um pedacinho daquela pessoa. E cada boneca será diferente de qualquer outra. Além de ser ecologicamente correta, há toda uma afetividade nela”, pontilha a artesã, que é pedagoga por formação. Entre as atividades realizadas, o Museu também oferece oficinas de produção desses objetos que tomaram conta da vida de Liduína desde a infância.

Bonecas de todos os locais do mundo estão reunidas no museu
Bonecas de todos os locais do mundo estão reunidas no museu (Foto: Alex Gomes / Especial para O POVO)

Atualmente, segundo ela, essa prática está se perdendo em meio a tantas opções de jogos virtuais e eletrônicos. “Enquanto a pessoa está aqui, é interessante ver o quanto ela está concentrada, fazendo aquela boneca. Tem delas que nem acreditam que fez, porque acham que não têm condições de fazer. A tecnologia está afastando as crianças de toda essa afetividade do tocar, do ser. Hoje tudo é um clique, então cadê a imaginação da criança para brincar?”, questiona.

Dessa forma, o Museu vem para despertar e instigar o mundo da criatividade infantil, bem como aconteceu com Liduína, que herdou esse fazer da mãe, que herdou avó, que herdou da bisavó... E essa tradição tomou conta de toda a família de Liduína, que teve de ceder três cômodos da pequena casa para melhor acomodar as bonecas.

Ao contrário das bonecas de plástico, as de pano ENTITY_quot_ENTITYtêm almaENTITY_quot_ENTITY
Ao contrário das bonecas de plástico, as de pano ENTITY_quot_ENTITYtêm almaENTITY_quot_ENTITY (Foto: Alex Gomes / Especial para O POVO)

Engana-se, porém, quem acha que isso foi um problema. O amor da matriarca pelos objetos de pano foi transmitido e é exalado por todos na residência. Responsável pelas mídias sociais do Museu, Ian Gabriel, de 17 anos, é filho de Liduína e apaixonado pela arte da mãe. “Eu comecei a participar a partir do momento em que nasci. Querendo ou não, a gente se envolve porque é uma coisa que faz parte da nossa vida”, articulou.

Serviço

Onde: Rua Deputado Joel Marques, 110, Planalto Pici.

Quando: Chegar disponibilidade

Contato: (85) 98631-3064

Entrada: R$ 5

Local é acessível para pessoas com dificuldades de locomoção ou visão.

(Foto: O POVO)

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