Os museus convencionais contam de pessoas poderosas, como reis e presidentes, e da forma como suas decisões traçam destinos de povos e nações. Na periferia de Fortaleza, os registros históricos têm outra natureza e outras personagens. São outros os personagens cujas trajetórias estão registradas em museu. O Ponto de Memória do Grande Bom Jardim reúne lembranças, narrativas, documentos e utensílios que registram as gentes de cinco dos mais vulneráveis bairros de Fortaleza.
Também conhecida como GBJ, a região está inserida na Regional V, a qual dispõe de todos os seus bairros com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) na classificação “muito baixo”, de acordo com o Anuário do Ceará 2018-2019. Atrelados aos marcadores econômicos e sociais estão os estigmas que associam o local a uma atmosfera de violências, vendidas a rodo entre mídias tradicionais e alternativas na Capital.
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Por meio do resgate de lembranças das lutas cotidianas para reverter essa situação, o Ponto de Memória arquiva documentos, utensílios e tudo mais que possa contar a história do GBJ. O uso de intervenções artísticas e de painéis presentes nas paredes do Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza, no bairro limítrofe entre Fortaleza e Maracanaú, são os principais canais da instituição.
“A gente conseguiu agregar nosso interesse em uma ação de registro dos nossos fazeres e saberes, com a perspectiva do trabalho de museologia comunitária. Mas nosso trabalho não é restrito apenas ao âmbito do registro ou da arquivologia. É muito mais do que isso, pois trabalhamos com a linguagem e isso é operar discursivamente com o campo político”, declara Adriano, que autodenomina-se lutador social.
Diferente dos museus “convencionais”, o Ponto não desfruta de amplo acervo memorial. Por lá, busca-se a preservação das recordações das comunidades que resistem até hoje contra preconceitos por estarem à margem dos centros da Cidade. Para tanto, até as paredes levantam a voz, alçando angústias, pensamentos e sonhos por meio de grafites e pichações feitos pelas mãos dos próprios frequentadores da instituição. Essa é outra diferença: o espaço é feito por quem o visita. “O mais importante é questionar e problematizar as nossas realidades, as nossas vivências”, define o responsável pela curadoria das exposições que narram as histórias vividas no GBJ.
No Ponto de Memória, o intuito é formar líderes em educação museal, principalmente entre jovens, cujo pensamento venha a fomentar a ideia de pertencimento ao lugar onde vivem. “Isso para nós não é pouco, e se perde em termos de números que possam ser colocados em prestações de contas”, atesta Adriano.
Onde: Rua Fernando Augusto, 987, Grande Bom Jardim.
Quando: Checar disponibilidade
Contato: (85) 3497 2162 / WhatsApp (85) 98784 2413
Entrada é gratuita
Local é acessível para pessoas com dificuldades de locomoção.