Ana Márcia Diogénes é jornalista, professora e consultora. Mestre em Políticas Públicas, especialista em Responsabilidade Social e Psicologia Positiva. Foi diretora de Redação do O POVO, coordenadora do Unicef, secretária adjunta da Cultura e assessora Institucional do Cuca. É autora do livro De esfulepante a felicitante, uma questão de gentileza
Brasileiros voltaram a se vestir com as cores da bandeira para além de partidarização e disseram não à PEC da Blindagem e à anistia
Foto: Samuel Setubal
Manifestação contra PEC da Blindagem, com cartazes e bandeiras na Praia de Iracema
Não houve como mudar de tema. Vai ser bandeira do Brasil e as cores verde e amarelo de novo na coluna. O motivo é que começo a perceber uma mudança positiva. Ainda discreta, mas estimulante de que o brasileiro está se vestindo novamente com as cores da bandeira, independente do partido que simpatiza.
Até o desfile de 7 de Setembro, muitos dos que num passado recente saíam prazerosos segurando a bandeira do Brasil e vestindo camisas da seleção de futebol, se sentiam intimidados pelo uso político dos símbolos nacionais. Mas já foi diferente na manifestação do domingo passado, em todo o país, contra a PEC da Blindagem e a Anistia.
Vou falar de Fortaleza. Foram inúmeras as pessoas que chegaram ao ponto de encontro da manifestação, nos arredores da Estátua da Iracema Guardiã, na Beira Mar, enroladas com bandeiras do Brasil ou vestindo a camisa da seleção.
Há muito tempo eu não via as cores do País para além dos momentos de concentração dos apoiadores do ex-presidente, Jair Bolsonaro, na Praça Portugal. E sempre achei isso lamentável. Verde e amarelo são simbologias de uma nação. Seu uso jamais deveria se restringir a um grupo político.
Veja fotos da manifestação em Fortaleza no último domingo, 21
(Foto: Samuel Setubal)Manifestação contra PEC da Blindagem, com cartazes e bandeiras na Praia de Iracema
(Foto: Samuel Setubal)Manifestação contra PEC da Blindagem, com cartazes e bandeiras na Praia de Iracema
(Foto: Samuel Setubal)Manifestantes fizeram uma caminhada pela orla da cidade com bandeiras, faixas e cartazes de críticas à PEC da Blindagem
(Foto: Samuel Setubal)Manifestação contra PEC da Blindagem, com cartazes e bandeiras na Praia de Iracema
Atribuo esta retomada a dois momentos de recentes desgastes da Câmara dos Deputados. Um deles com a aprovação do texto-base da proposta de emenda à Constituição, a PEC das Prerrogativas, apelidada de PEC da Blindagem e que o povo, nas ruas e nas redes sociais, chama de PEC da Bandidagem.
A proposta da PEC é ampliar o foro privilegiado, limitar processos criminais contra parlamentares e instituir o voto secreto às decisões. Ou seja, traduzindo para o operacional, as proteções legais seriam ampliadas, o que dificultaria a prisão e a abertura de processos criminais contra deputados e senadores.
Outro momento de desgaste, também da Câmara, foi a aprovação da urgência para um projeto de anistia a condenados por atos golpistas. Isso, logo após a condenação de Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão por ter participado do planejamento de golpe contra a democracia brasileira. Ele seria um dos anistiados.
Se não bastassem essas ações da Câmara dos Deputados, que atentam contra a democracia, o país vem sofrendo sanções comerciais por parte do governo dos EUA.
Além da imposição de tarifas de até 50% a produtos brasileiros, o presidente Trump tem feito críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF), pelo que chama de caça às bruxas em relação ao processo que Bolsonaro responde no STF.
E é dos Estados Unidos, onde se encontra desde fevereiro, que um dos filhos do ex-presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, incita o governo americano contra seu próprio país. Não é à toa que bandeiras dos EUA foram carregadas por bolsonaristas no 7 de Setembro.
O que parece uma distopia é a pura realidade. O fato novo é que as últimas decisões da Câmara passaram de todas as medidas. Foram demais para a paciência do povo brasileiro. E este, cansado de ter a bandeira partidarizada por tanto tempo e ainda ver a americana ganhando espaço, voltou finalmente a entronizar o verde e amarelo. É o pertencimento à nação mostrando a sua importância para a manutenção da democracia.
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