Repórter do O POVO+ especializada em ciência, meio ambiente e clima. Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é premiada a nível regional e nacional com reportagens sobre ciência e meio ambiente. Também já foi finalista do Prêmio Einstein +Admirados da Imprensa de Saúde, Ciência e Bem-Estar na região Nordeste
Em um dia como qualquer outro navegando obsessivamente no Instagram, me deparei com uma postagem destacando uma fala do escritor e pensador indígena Ailton Krenak: “Nós não podemos nos render a essa narrativa de fim do mundo. Essa narrativa é para nos fazer desistir dos nossos sonhos”. Compartilhei, ao passo que o jornalista em formação Gabriel Matos, um dos fundadores do ótimo programa de jornalismo ambiental Cuida, Criatura!, respondeu: “Tá difícil não se render a essa narrativa, especialmente esses dias.”
É verdade. A sensação genuína é de cerco. Queimadas e fumaça vindas do norte, enchentes no sul. Florestas secando no centro e nós bem no meio de uma crise política de adoradores do fascismo, olhando para cima à procura de uma luz. É cansativo demais, principalmente quando nosso trabalho é comunicar dia a dia as pequenas grandes desgraças do nosso País e do mundo.
Para ser bem sincera, na maior parte do tempo eu sou uma baita pessimista, o que infelizmente reflete em muito do que produzo. Mas eu tenho plena certeza de que a rendição sem luta é a pior das derrotas; então escolho, ativamente, ter esperança. Escolho acreditar no potencial da humanidade para encontrar soluções e implementá-las.
Em uma reportagem sobre ecoemoções, citamos uma pesquisa que analisava o efeito da ecoansiedade, da ecoraiva e da ecodepressão no poder reativo das pessoas. Eles descobriram que raiva e ansiedade eram combustível para as pessoas unirem-se a coletivos e a atividades de combate à crise climática e ao desastre ambiental. A depressão, por outro lado, é um grilhão.
Ao mesmo tempo, estudos já identificaram que as notícias positivas e de viés resolutivo têm mais engajamento e estimulam o público a informar-se mais, enquanto o catastrofismo cotidiano afasta os leitores dos jornais. Não à toa, os jornalistas ambientais e climáticos têm procurado a técnica do jornalismo de soluções para contar histórias otimistas e, acima de tudo, realistas.
Entre os divulgadores científicos, focar em soluções também tem sido um foco. Para eles, comunicar a crise climática sem gerar alarmismo ao mesmo tempo que se dá o peso da emergência é um dos maiores desafios. É uma linha tênue, daquelas que passam no buraco da agulha, para se caminhar. Foi pensando nisso que o engenheiro ambiental Yago Santos criou, no Bluesky, a hashtag #Soluçãoqueébão. Nela, ele dá indicações de projetos e estratégias existentes capazes de reverter, adaptar ou mitigar muitos dos desafios atuais.
Acreditar que podemos mudar o cenário vigente é uma escolha calculada para nos comunicarmos melhor, para engajarmos mais pessoas e para enfrentarmos com um pouquinho de saúde mental uma crise hiper-adoecedora. É a isso que Krenak se refere.
Podemos até sentir raiva, tristeza, ansiedade e desilusão, mas não podemos permitir que esses sentimentos sejam nossa ruína. Pelo contrário, devemos usá-los como matéria prima para impulsionar a luta diária por possibilidades melhores.
Acompanho um canal de animação chamado The Forest Jar que discute, em animações simples, várias questões e abordagens filosóficas. Um dos personagens defende que, se todos os problemas que vivemos foram criados pela humanidade, então a solução também pode ser imaginada e criada por ela. É exatamente isso: é preferível falhar tentando imaginar um mundo melhor do que falhar pela incapacidade de imaginá-lo.
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