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Carta para repoemar o rio Jaguaribe
Foto de Demitri Túlio
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Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.

Carta para repoemar o rio Jaguaribe

Ao tempo da perenidade desejo um novelo meio "Cem anos de Solidão". Pelo incomum da narrativa e vida em avessos
Tipo Crônica
2508demitri (Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos 2508demitri

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Meu caro Nazareno Albuquerque, nesta,

Resolvi escrever-lhe uma missiva, à antiga, para parabenizá-lo por seus 85 anos de existência. Sim, já nos bebericamos nos corredores do O POVO. Dois repórteres se beijando na mistura de jornalismo e abraços. Os machos alfas ficam enduvidados! Mas deixa estar.

Tenho admiração por você e sua continuança na vida e no que opina, escreve e se refaz feito borboleta. Disse-lhe por WhatsApp que não sei qual idade miúda eu tinha quando o assistia no telejornal do Canal 10.

 

Eles esperavam por aumento nos "ganhos dos velhos"

 

A cena era assim, minha bisavó Mariana numa cadeira, meu avô na outra e minha vó Marieta noutra esperando alguma aparição do coronel Virgílio Távora, um dos governadores da prava ditadura militar. Eles esperavam por aumento nos "ganhos dos velhos".

E eu ficava estátua, a olhá-los e desejoso do jornalista dizer algo sobre a esperança deles. Nem sempre anunciava o que os abuelos queriam ouvir, mas havia também notícias boas e mais ou menos - embora o silêncio sobre as torturas e os desaparecimentos.

Talvez, meu caro Nazareno, você tenha sido o primeiro jornalista que vi atuar num "jornal". E eu nem sabia o que era ser um jornalista. Achava diferente essa espécie de operário do capitalismo.

 

Gostei de vê-lo desejar reportar o rio Jaguaribe para os 100 anos do O POVO

 

A carta é para lambê-lo mesmo, homenageá-lo descaradamente no jornalismo e em sua perenidade. Tive a sorte de conviver - e ainda me abraço - com repórteres de mais batente que nem você. E agradeço...

Landry Pedrosa, Rita Célia Faheina, Luís Pedro Neto, Morais Neto, Márcia Gurgel, Luis Sérgio Santos, Alan Neto, Wilton Bezerra (pai), Ramon Paixão, Mell Freitas, Beth Jaguaribe, Ítalo Gurgel, Demócrito Dummar, Ronaldo Salgado, Nonato Albuquerque, Márcia Vidal, Paulo Verlaine, Eliomar de Lima, Peninha, Eleuda de Carvalho,

Miguel Macedo, Sérgio Fujiwara, Adísia Sá, Agostinho Gósson, Cunha, Vólia Rocha, Rosa Sá, Everton Lemos, Zé Morais, Nelson Faheina, Tarcísio Matos, Fátima Sudário, Suzete Nocrato, Gilmar de Carvalho, Guálter George, Tânia Alves, Erotilde Honório, Neném e Ecília Coutinho, Plínio Bortolotti, Ariadne Araújo, Dário Gabriel, Ana Márcia Diógenes, Fátima Guimarães... e incontáveis.

 

Meu camarada, por derradeiro, votaria em você para a Prefeitura de Fortaleza

 

Gostei de vê-lo desejar reportar o rio Jaguaribe para os 100 anos do O POVO. Topo o pé na poeira do sertão com você, do berço do desmedido à foz no Atlântico. E pode ser um repoema da narrativa de Demócrito Rocha com a subversão do sangue azul e releituras.

Meu camarada, por derradeiro, votaria em você para a Prefeitura de Fortaleza. Pena que não és candidato de esquerda nem és uma mulher. Tenho certeza de que seria muito melhor do que a mesmice que se apresenta sempre.

Cansam-me os machos do poder, desde as invasões luso-católicas, permanentemente agarrados uns nos outros e abocanhantes do governo, da prefeitura e das câmaras. Este ano, a direita machista (e bolsonarista) vem com trator pesado em Fortaleza. A esquerda não fica atrás.

 

Há um prazer entre os machos na arrelia e não permitir o que não for espelho e gozo

 

É o senhorio imanente dos machos. A tradição escrota mantida, não há uma mulher na busca pelo Paço de Fortaleza. As que têm são arranjos de oligarquias insistentes entre conchavos de alfas e vices candidatas. Eles não renunciam ao falocentrismo.

Há um prazer entre os machos na arrelia e não permitir o que não for espelho e gozo. Não é possível que mulheres - feito Maria Luíza, Luizianne Lins e muitas - permaneçam fora das disputas.

Caro Nazareno, faltam sensibilidades que não sei dizer os nomes e sobra uma misoginia disfarçada. Herança da casa grande e eleição, perene, para o macharal.

 

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