Demitri Túlio é editor-adjunto do Núcleo de Audiovisual do O POVO, além de ser cronista da Casa. É vencedor de mais de 40 prêmios de jornalsimo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. Também é autor de teatro e de literatura infantil, com mais de 10 publicações
Foto: Carlus campos
Crônica para antecipar o fim do mundo
Parte do meu cérebro, tenho a impressão, está comprometida. Talvez uma lesão senso comum que atinge centenas de criaturas humanas, que sou corriqueiro.
E estou meio enfastiado de olhar os monturos no celular, nas tvs por assinaturas e canais abertos. No juízo raso da maioria dos que não checam. Dos que não incorporam o orixá da informação.
Meio de saco cheio de quem só lê a manchete, o título, o texto ruim do Instagram, do X ou dos lixões oferecidos pelas big techs via portais de "notícias". Textos ruins e uma pressa capital.
"há uma senso comum que os acessos definem quem você é"
Conteúdos violentos, de mal gosto e um looping desesperante. É destroço o oferecimento: "mulher assaltada na esquina", "imagens sensíveis", "risco de gatilho".
Sim, há uma senso comum que os acessos definem quem você é. A "nova" personalidade da criatura contemporânea passou a ser construída pelo dedo no celular, seus toques, suas vidas, suas certezas.
Há um gozo perverso em ser levado de rodo pelo que está "bombando" na treta amanhecida. Somos todos "trends". Não é possível que não saibamos quem é Virgínia Felipe e Zé Fonseca!
"Semelhante àquele bando de idiotas acuando Marina Silva no Senado"
Perdão, cara leitora e leitor, fui senso comum. Semelhante àquele bando de idiotas acuando Marina Silva no Senado. Machistas, criminosos ambientais, analfabetos do clima, das árvores, das joaninhas.
E que decepção, aliás nenhuma, Roberto Cláudio (PDT) lamber um terreno nojento, nebuloso, de gente preconceituosa, antidemocrata... É vexame!
"Não quero "baixar o Threads" nem desejo seguidores"
Ou, talvez, nem seja uma vergonha a guinada bolsonarista de RC. Ele talvez já era assim, semelhante a outros que desfazem coerências? Indefensável.
Não sou uma "thread que talvez você curta" e não me interessa "reivindicar meu nome de usuário e conectar-me com 1.792 pessoas que querem seguir você". Não quero "baixar o Threads" nem desejo seguidores. E sei que meus "dados do Instagram ajudam a alimentar e melhorar o Threads". "Saiba mais". Minha gente!
Estamos mais idiotas e me envergonhado da torpeza envelopada de jornalismo. Não havia isso antes? Claro que sim, mas numa ilusão menos adoecedora em instantâneos.
"Estou no Instagram e no Whatsapp, claro. Uso mil desculpas..."
Passamos a nos contentar com o "menos pior", que merda! Com o dorflex, a risperidona, a ritalina, o baixador de ansiedade do aplicativo, do seu agregador de conteúdo... As criaturas já são APPs.
Estou no Instagram e no Whatsapp, claro. Uso mil desculpas... trabalho, comunicação com filhos (nem tanto), mãe doente e urgência, a casa, o jornal, a "necessidade" de existir na conexão... Mentira, estou porque não consigo sair e tenho indizível prazer pela morbidez.
Adoro memes imbecis! Digo que diverte. Não consigo parar de ver, nem perto de dormir com dificuldade.
Vejo-me fissurado por gatos e tutores enlouquecidos, por lições definitivas de "psicologia", do que é o "amor", dos cortes que me contentam as ansiedades...
"No O POVO + , um streaming de preciosidades, li uma boa entrevista com o Aílton Krenak"
Preciso da curadoria de playlists para existir. Ou da super especialista que me dirá quais músicas ouvir, os filmes e séries, qual restaurante vomitar, qual garota de programa pegar, qual samba o povo tendência frequenta!
No O POVO + , um streaming de preciosidades, li uma boa entrevista com o Aílton Krenak. Matéria do repórter Miguel Araújo.
Não há revelações explosivas (parece que estamos sempre à espera de alguém que nos "guie" e "salve" - tirano, salvador ou vítima), mas o imortal poetiza o discurso.
"Ele ama aquele "macho", mas a dúvida sobre um falo igual ao dele o treme"
Ele ama aquele "macho", mas a dúvida sobre um falo igual ao dele o treme. Somente, porque os outros lhe cancelarão. Um Diadorim aberrante, amado com as asas de todos os alados.
Mal sabe o coitado do Riobaldo que o que procuramos no outro, talvez, somos nós mesmos.
Krenak faz poema, reclama da surdez planetária e oferece poesia sem açúcar. Um acalanto amargoso, tronco de floresta na garganta, cansaço de rio e a possibilidade de o Cocó desistir de nós. É o diacho!
Política, cotidiano, questões sociais e boemia. Estes e mais temas narrados em crônicas. Acesse minha página
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