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Gal Costa 80: Do rock ao carnaval, as muitas fases da musa baiana
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Gal Costa 80: Do rock ao carnaval, as muitas fases da musa baiana

Gal Costa completa 80 anos na sexta-feira, 26. Revisitando seus mais de 50 anos de carreira, veja como ela saiu da já cansada bossa nova para se tornar uma voz tropicalista, solar e politizada
Tipo Opinião

 (Foto: Marcos Hermes/Divulgação)
Foto: Marcos Hermes/Divulgação

Domingo (1967)

Gal estreou em disco sob as bênçãos dos conterrâneos: primeiro um dueto no álbum de estreia de Maria Bethânia (1965) e depois um compacto com canções de Gilberto Gil e Caetano Veloso. Com este último ela dividiu o primeiro disco, todo enquadrado nas linhas da bossa nova. O repertório é lindo e tem, pelo menos, um clássico ("Coração vagabundo"). Mas ali não é mais que uma amostra do que viria pela frente.

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Gal Costa (1969)

E veio! Um ano depois do disco-manifesto da Tropicália, Gal retorna mais livre, sedutora e moderna. Essa fase "roqueira" inclui gravações explosivas de "Se você pensa", "Divino maravilhoso", "Cinema Olympia" e "Eu sou terrível". O ápice desse período é o ao vivo "Gal Fa-Tal", adorado por 10 entre 10 malucos, neo-hippies e fãs de MPB. Só a gravação de "Hotel das Estrelas" já vale toda uma vida.

Índia (1973)

O desbunde passou, mas não por completo e chega uma fase de transição entre a loucura e calmaria. Tanto que ele abre "Índia" com a lancinante faixa título e encerra com um clássico de Tom Jobim. Em seguida ela lança o introspectivo e delicado "Cantar" (1974), um tributo obrigatório a Dorival Caymmi e encerra essa fase com "Caras & Bocas" (1977), álbum em que reúne Rita Lee, Marina, Duke Ellington e Bob Dylan.

Água Viva (1978)

Findando os anos 1970, Gal vai ganhando outra face. Sai a musa da contracultura e entra a diva da MPB. É o momento de explorar ritmos nacionais, tradições, compositores consagrados e se comunicar melhor com diversos públicos. Esse disco abre com um clássico de Dalva de Oliveira ("Olhos verdes") e faz muito sucesso com o bolero "Folhetim". O ponto alto dessa fórmula é o disco "Aquarela do Brasil" (1980), um tributo ao mais "patriótico" dos nossos compositores, Ary Barroso.

Fantasia (1981)

Junto com os anos 1980, chegam algumas certezas: Gal faz sucesso, é o retrato do Brasil que queremos, é uma mulher lindíssima e canta como ninguém. Tudo isso é bem explorado, das capas ao repertório - cada vez mais pop. Ainda em 1979, ela dá a melhor tradução dessa época no disco "Gal Tropical", em que faz o Carnaval com "Balancê", do repertório de Carmen Miranda. Em "Fantasia", ela ganha o País com "Festa do Interior" e "Massa real". No ano seguinte, "Bloco do Prazer".

Baby Gal (1983)

A regravação metida a moderna de "Baby", acompanhada do Roupa Nova, é um resumo desse momento cheio de sintetizadores, canto forte, minissaia de couro e shows grandiosos. O lance era buscar tudo que convertesse em bons resultados nos discos, ingressos e rádios. Djavan, Gonzaguinha e Lulu Santos são presenças constantes no repertório. O Carnaval continua com "Onde está o dinheiro", assim como a sensualidade com "Chuva de prata". O grande sucesso do momento é o dueto com Tim Maia em "Um dia de domingo", da dupla Sullivan e Massadas, que fazia música até pra Xuxa.

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Plural (1990)

Após a aproximação com os hitmakers dos 1980, Gal lança sua voz sobre a cena pop baiana que estava chegando com força. Seu primeiro álbum dos 1990 abre com "Salvador não inerte", de Bobôco e Beto Jamaica (sim, do É o Tchan). Os sintetizadores dão lugar a atabaques e tambores, tudo numa linguagem brasileira de olhar internacional. O melhor momento dessa fase é "O sorriso do Gato de Alice" (1993), que combina o acústico, o elétrico, o introspectivo e o dançante.

Aquele Frevo Axé (1998)

A segunda metade dos anos 1990 foram menos inspiradas, focando em requentar acertos. Começa com "Mina d'água do meu canto" (1995), só com músicas de Caetano e Chico Buarque. Depois um Acústico MTV, cercado de orquestra, convidados e repertório revisionista. No disco de 1998, Gal vai de Tim Maia ("Imunização Racional") a Adriana Calcanhotto ("Esquadros"), sem muito vigor. E fecha o milênio com um tributo a Tom Jobim, sem muita criatividade.

De tantos amores (2001)

Trabalhando com pequenas gravadoras, Gal segue olhando para trás e grava três discos de repertório já bem conhecido, inclusive várias canções já famosas em sua voz. Nada chama atenção. Só em "Hoje" (2005) ela olha para os jovens compositores (Nuno Ramos, Moisés Santana, Péri), mas o resultado pouco empolga.

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Recanto (2011)

Após uma fase de baixa popularidade, Caetano compõe, grava e produz um novo disco que reconecta Gal a seu tempo. Cercada de baixo, bateria e guitarra, ela ressurge com uma força há tempos escondida. Esse novo momento rende ainda "Estratosférica" (2015) e "A pele do futuro" (2018), álbuns em que se cerca de frescor, novas ideias, riscos, jovens e experientes compositores. A Gal que aprendemos a amar.

Exposição

O restaurante e espaço cultural Bruta Flor (rua Antônio Augusto, 806 - Meireles) inaugura na próxima quinta-feira, 25, uma exposição dedicada aos 80 anos de Gal Costa, com fotos, discos, matérias de jornal e objetos. A abertura conta com uma roda de conversa, às 20 horas, sobre a trajetória de Gal, contando com a presença de César Vasconcelos, curador da mostra e proprietário do Bruta Flor, e deste colunista. A entrada é gratuita. Mais informações: @obrutaflor

Foto do Marcos Sampaio

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