Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
O Paço Municipal nunca trabalhou seriamente com a possibilidade de apoio do PT. Se viesse bem, mas não era algo com que contasse. Sem acordo com Luizianne Lins (PT), não há aliança. Primeiro, porque a ex-prefeita tem respaldo do partido, dos dirigentes nacionais, de Lula. Mesmo que não tivesse, quando tentaram atropelá-la não deu muito certo. Assim, como fica o governador Camilo Santana (PT) com sua base dividida?
Existe um roteiro padrão para governos conciliadores: quando a base se divide, não apoia ninguém. Foi o que Camilo fez em 2016. Então, repetirá o mesmo agora certo? Provavelmente, mas não com certeza.
Algumas diferenças: em 2016 Roberto Cláudio (PDT) tentava a reeleição. Agora, os governistas não têm candidato ainda. Hoje a animosidade com Capitão Wagner (Pros) é muito maior - basta lembrar do episódio resolvido entre tiros e retroescavadeira na paralisação dos policiais. E o Camilo de 2016 não tinha a força do de 2020, reeleito com votação recorde. Por isso, há no grupo Ferreira Gomes quem acredita que Camilo não deva - e mesmo não possa - lavar as mãos.
Por outro lado, a eventual declaração de voto em um candidato que não do PT provocará acusação de infidelidade - e irritará Luizianne. A postura da ex-prefeita, aliás, pode ser determinante no comportamento do governador. Até aqui, ela não sinaliza trégua com a base do prefeito. Pelo histórico e o estilo de Camilo, a tendência para ele seria não apoiar uma candidatura. Mas essa eleição talvez não se encaixe na história recente.
O DEM esteve perto de fechar acordo com Capitão Wagner (Pros) ainda no ano passado, sinalizou que seguiria ao lado do PSDB na eleição em Fortaleza, mas hoje está mesmo inclinado a se manter na base do prefeito Roberto Cláudio (PDT).
As forças que controlam o partido no Ceará estão abraçadas ao governismo há bastante tempo. Nacionalmente, a aproximação entre DEM e PDT vem desde antes das eleições de 2018. Ciro Gomes esteve perto de acordo com Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, e ACM Neto, prefeito de Salvador, para ter o apoio do partido na eleição presidencial. Na última hora, o DEM e o bloco do "centrão" preferiu Geraldo Alckmin (PSDB). Agora, há acordo praticamente firmado para o PDT indicar o vice de Bruno Reis, candidato de ACM Neto a prefeito de Salvador. Em São Luís, o PDT sinalizou apoio a Neto Evangelista (DEM). A contrapartida mais imediata seria Fortaleza, maior prefeitura pedetista no Brasil.
Os apoios pedetistas representam esforço muito maior que o do DEM. Em Salvador, o PDT irá contra a base do governador Rui Costa (PT) para fortalecer o opositor ACM Neto. Na capital maranhense, o DEM é da base de apoio do governador Flávio Dino (PCdoB). O chamado "consórcio governista" no Maranhão se dividiu na Capital e Dino anunciou que não apoiará nenhum candidato no primeiro turno. Já em Fortaleza, o DEM está com os Ferreira Gomes há 14 anos. Tem o hoje vice-prefeito de Fortaleza, Moroni Torgan. Tanto ele quanto o presidente estadual, Chiquinho Feitosa, trabalham pelo acordo. Por isso hoje parece pouco provável a legenda seguir outro caminho: os interesses no DEM convergem.
O arranjo olha para mais longe. A costura entre Ciro, ACM Neto e Rodrigo Maia não amarra acordo para 2022, mas deixa portas abertas. O PDT está entregando mais do que recebe de olho em receber mais lá na frente. O provável apoio em Fortaleza é parte do pacote, mas não é o pedaço principal. O provável acordo em Fortaleza é peça do projeto maior dos Ferreira Gomes.
O ex-deputado Carlos Matos se movimenta há meses para tentar se viabilizar como pré-candidato, mas não parece entusiasmar o PSDB. Hoje o que mantém viva a perspectiva de candidatura própria é a defesa de que pode puxar votos para a legenda emplacar vereadores.
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