Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
A eleição na Câmara dos Deputados, que desembarcou em Fortaleza, virou teste de força para mostrar quem tem mais influência na Praça dos Três Poderes. O presidente Jair Bolsonaro mede forças com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A decisão é em voto secreto e aí os compromissos firmados poderão virar traição. Bolsonaro tem uma vantagem: segue no cargo após a votação. Maia fica sem a caneta. Se o candidato dele perde, fica pequeno. Bolsonaro sairá ganhando com a troca, vença quem vencer. Mesmo que seja Baleia Rossi (MDB-SP), o possível novo presidente não terá o mesmo estofo político de Maia para peitar e contrariar o presidente. A vida de Bolsonaro na Câmara ficará mais fácil de qualquer jeito, salvo enorme surpresa. Porém, se perder entrando na disputa com o ímpeto com o qual tenta articular, o presidente inicia desmoralizado a fase final de seu mandato.
Como mostrou no O POVO de ontem o colega Carlos Mazza, o pastor Costa Neto, da Comunidade Videira, foi nomeado coordenador executivo da Coordenadoria de Articulação do Terceiro Setor e Instituições Religiosas da Prefeitura de Fortaleza. A religião é uma dimensão da vida em sociedade — a mais importante para os fieis. Não é necessariamente um problema ter alguém voltado para isso. Mas é uma preocupação. O que exatamente fará a coordenadoria? Vai articular o que mesmo? Política e religião se misturam na história humana desde que existe política, desde que existe poder de um ser humano sobre outro. Já nos primórdios, esse poder era apresentado como vontade de um ser superior. E isso sempre foi usado em benefício de quem governa. Em troca de favorecimento de líderes religiosos. Não creio que, em qualquer crença, Deus tenha se favorecido ou visto necessidade do poder político.
O cristianismo e o poder
Para falar da crença majoritária, o cristianismo. Não conheço na Bíblia momento em que Jesus esteja com os políticos, os reis, os imperadores. Só para ser julgado e morto. Ele está, realmente, é do lado do povo, dos pobres, dos famintos, dos pecadores, das prostitutas, dos doentes que não têm como se tratar. Os ricos, ele condena. Daqueles em posição de poder, ele diz: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas." A mim, causa estranheza conciliar a concepção cristã com o desfrute dos meios palacianos.
O maior instrumento político da atualidade
A questão religiosa é hoje um tema dominante na política brasileira. Talvez seja o tema dominante. Entra na agenda não porque os políticos sejam religiosos — o prefeito José Sarto (PDT) o é e, justiça se lhe faça, está entre os que menos se valem de proselitismo na política.
Ocorre que a religião é o maior instrumento político da atualidade. Ter apoio de pastor é mais eficaz que ter apoio de vereador, prefeito, governador, empresário, artista, jogador de futebol, traficante. O percentual de entrega dos votos pelos religiosos — a depender do credo e dos métodos — é incomparável.
Nas eleições 2018, a fé foi determinante para a eleição de Jair Bolsonaro. Nas eleições 2020, o resultado em Fortaleza apertado foi muito influenciado pelo peso das igrejas, sobretudo nos momentos finais. Hoje, para ser eleito no Brasil sem apoio das mais expressivas agremiações político-religiosas, o candidato precisa ter uma vantagem muito, mas muito grande. Numa eleição equilibrada, hoje, quem tem apoio das igrejas ganha.
Sarto tinha apoio de uma coalizão política muito maior que a de qualquer adversário. Ainda assim, passou susto. Entende a existência da coordenadoria? Ele não quer passar pelo mesmo susto de novo. O pastor Costa Neto é amigo de Sarto, estrela nas redes sociais e participou ativamente da campanha. Entrou com tudo para tentar vencer resistências de evangélicos ao pedetista. Sem o apoio dele, os 43 mil votos a favor de Sarto seriam certamente menos. Talvez o prefeito hoje fosse outro.
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