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O que Ciro diz e o que Ciro quer
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O que Ciro diz e o que Ciro quer

Sua busca insistente por microfones disponíveis, na mídia ou em espaços políticos, além das próprias redes sociais que ocupa e alimenta, contraria qualquer ideia de desistência da briga pela consciência do eleitor brasileiro
Tipo Opinião
3006gualter.jpg (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 3006gualter.jpg

O cearense Ciro Ferreira Gomes está em campanha para a presidência da República e isso fica mais evidente, pelo contexto, a cada oportunidade em que ele diz o contrário. Sua busca insistente por microfones disponíveis, na mídia ou em espaços políticos, além das próprias redes sociais que ocupa e alimenta, contraria qualquer ideia de desistência da briga pela consciência do eleitor brasileiro. E, por favor, sem essa história de que é um movimento desinteressado de cidadania etc etc etc.

Nota-se um certo ajuste estratégico de postura que leva o ex-governador, ex-ministro, ex-prefeito e ex-deputado (federal e estadual) a fazer movimentos em direção ao centro político. Alguns, mais bruscos, parecem ter foco inclusive na chamada direita conservadora, aproximando-o de forças que parecia também mirar em discursos sempre incisivos nos últimos anos. É a turma que quase toca, quando o oportunismo determina até chegando a abraçá-lo, um dos extremos que o discurso de Ciro diz ser o maior mal do Brasil atualmente.

Os fartos elogios recentes ao governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do União Brasil, fazem parte do desenho novo no qual o líder pedetista busca se inserir através de gestos que não são aleatórios e nem gratuitos. Também há um sentido lógico, de busca de angariar simpatias onde antes enfrentava rejeição, no fato de em seu périplo de outro dia por Roraima ter sido entusiasticamente acolhido pelo deputado Soldado Sampaio, uma figura meio indecifrável, hoje filiado ao Republicanos, mas que já foi do PCdoB e liderou antes, no parlamento estadual, a bancada de apoio ao ultrabolsonarista governador Antonio Denarium, do PP. Ou seja, o anfritrião é daquele tipo que não se incomoda com os tais extremos, desde que esteja do lado convenientemente certo.

O ex-presidenciável começa a se posicionar de maneira mais clara dentro da tal polarização entre lulistas e bolsonaristas que tanto critica e o faz movendo-se da esquerda, onde esteve nos últimos tempos, em direção à direita, numa espécie de reencontro com o começo de sua caminhada. Até hoje ele justifica que começou sua vida partidária pelo PDS (sucedâneo da Arena, que era o partido mais ligado aos militares da época dos governos que autorizavam democracia ao seu modo) como uma espécie de deferência ao pai, Euclides Ferreira Gomes, líder atuante pelo partido em Sobral. Talvez seja, mas também na sua atuação no movimento estudantil, especialmente quando cursava Direito na UFC, as lembranças dos contemporâneos sempre o encontram localizado numa faixa mais à direita, imaginando-se que o pai nada tivesse a ver com as decisões tomadas naquele ambiente.

Ciro espera, através de acenos como o que fez à figura de Ronaldo Caiado ou dos ataques sistemáticos contra Lula e seu governo - incluindo alguns bem grosseiros e que usam a pessoa de sua mulher, Janja, para alcançá-lo -, ter o nome considerado mais adiante como opção do grupo que tem hoje como prioridade absoluta tirar o PT do poder. É possível que isso lhe exija, no futuro ajustado, fazer um acerto com o PDT, sigla que oficialmente faz parte da gestão que ele ataca com tanta força, aspecto que nunca o preocupou. Aliás, nunca foi o forte da sua corrente político-familiar colocar à frente de suas ações e decisões o interesse do partido ao qual esteja vinculado, seja PDS ou PDT, dentro de uma lista bastante grande, e não seria agora, nesse ambiente de debilidade ainda maior das siglas, que isso mudaria.

 

O tempo e as urnas

A semana vai ser de correria para os prefeitos que estão no cargo e, em especial, os que pensam em reeleição: todos eles têm até sexta-feira, dia 5, para organizarem uma agenda forte de inaugurações, reinaugurações e coisa que valha. É que o calendário eleitoral proíbe, a partir de três meses antes do dia da votação, a presença deles em atos públicos oficiais da gestão. O leitor não se espante, portanto, caso note a gestão de sua cidade num ritmo nunca antes visto, em termos de movimentação que a gente consegue perceber. Faz parte do jogo.

A primeira escolha

A caminhada de Evandro Leitão como candidato à Prefeitura de Fortaleza terá como coordenador, está definido, o deputado estadual (vereador licenciado) Guilherme Sampaio, que preside a executiva municipal do PT. Escolha meio que natural, portanto, inclusive como forma de reconhecer a importância dele na articulação que levou à vitória do atual presidente da Assembleia Legislativa, um neopetista, na disputa interna pela indicação que tinha do outro lado uma liderança histórica do porte de Luizianne Lins. Já na posição estratégica, inclusive, ele faz uma análise bem positiva do primeiro Datafolha sobre o cenário na capital, contratado pelo O POVO e divulgado na semana, "especialmente quando olho para a manifestação espontânea. O Evandro tem 3% e outros 2% dizem que votarão no candidato do PT, ou seja, estamos em situação praticamente igual à dos mais citados, que aparecem com 6%".

Na agenda dos políticos

Pelas presenças já confirmadas teremos uma noite animada no La Maison, amanhã, com a festa de lançamento do Anuário do Ceará 2024/2025. O ambiente vai respirar eleições municipais a partir das 19 horas e não estamos falando apenas de Fortaleza, porque os encontros possíveis permitirão conversas, até acordos, em torno de pendências que seguem abertas em muitos municípios interioranos. Além disso, a publicação apresentará sua esperada lista dos mais influentes da nossa política, algumas delas até já tornadas públicas - inclusive neste espaço -, considerados todos os parlamentos mais importantes, no Estado e no País.

Homenagem justa no TCE

A homenagem que os conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE) prestaram na semana a Alexandre Figueiredo, que recém nos deixou, permite que a coluna corrija o erro de ainda não ter feito menção à perda. Justíssima a decisão dos ex-colegas de colocar seu nome no plenário onde realizam sessões, permitindo que lembremos sempre da importância que teve para a vida pública cearense nos últimos 38 anos, pelo menos. Pessoalmente, convivi mais com ele nos tempos distantes de Assembleia Legislativa, mas sempre chamou minha atenção a boa capacidade argumentativa, o esforço de nunca fechar portas para os acordos possíveis e a conciliação de tudo isso com a manutenção de características de luta que a dura política de Santa Quitéria exige como fator de sobrevivência. Política, para evitar más interpretações.

A posição dos jogadores

Os olhos do mundo estão voltados hoje para a França, onde o eleitor vai às urnas para escolha do novo parlamento. As pesquisas indicam uma possibilidade real de a extrema-direita sair vencedora, o que lhe permitiria indicar o novo primeiro ministro dentro do sistema político lá vigente. Situação que traria como efeito natural uma pressão sobre o presidente Emanuel Macron, até havendo quem indique sua renúncia como inevitável diante do cenário projetado. Interessante, nos últimos dias, a postura de vários jogadores da seleção francesa de futebol, que disputa a Europa, pedindo à população que vá votar (não é obrigatório) e que impeça a vitória do "extremismo". Dentre eles a superestrela Kyllian MBappé.

O pavoroso padrão ianque

Um pouco mais de política internacional: o debate da última quinta-feira à noite entre os candidatos à presidência dos Estados Unidos foi uma das coisas mais pavorosas que já acompanhei numa eleição. Incluindo tudo, até o tempo em que observava apenas por curiosidade os acontecimentos eleitorais de minha Iguatu, e olha que já eram situações bem esquisitas. Um dos países mais importantes e influentes do mundo é disputado por duas figuras que não conseguem, por razões distintas, oferecer um norte confiável para os quatro anos que virão a partir de sua vitória. A preço de hoje e considerado o que houve ali, a Casa Branca estará mal entregue com qualquer deles.

João Marcelo Sena: O primeiro debate Biden X Trump

 

Foto do Guálter George

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