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Os candidatos e os compromissos
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Os candidatos e os compromissos

A expectativa com o cenário eleitoral de 2024, ainda à sombra de 2022, quando Bolsonaro questionou a lisura do pleito
Tipo Análise
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 (Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos 1808gualter

O processo eleitoral de 2024, agora oficialmente iniciado, trará com ele uma nova possibilidade de discutirmos o compromisso permanente que precisamos ter com a democracia. Há um quadro que se arrasta confuso desde 2022, pelo menos, e que apresenta como um de seus objetivos evidentes criar dúvidas na cabeça das pessoas em relação à segurança do nosso sistema de votação e à capacidade das instituições, e de quem as integra, de assegurar à sociedade um resultado no qual sejamos capazes de confiar.

Uma bobagem muito recentemente inserida no debate e que nos faz entrar numa nova temporada eleitoral já desconfiados. Eu, por exemplo, tento entender a intenção de quem coloca o nome à disposição do eleitor para a disputa de cargos no dia 6 de outubro próximo, mesmo fazendo parte dos que até hoje não conseguem dar por resolvido o quadro de dois anos atrás. Por isso é que vale discutirmos, no caso de Fortaleza, os exemplos do deputado federal André Fernandes (PL) e do senador Luiz Eduardo Girão (Novo), ambos candidatos à prefeitura.

Fernandes e Girão formam na linha de frente dos que se recusam a aceitar que 2022 acabou. Animam-se diante de qualquer situação nova que alimente as tais dúvidas de que houve lisura no processo, de que as urnas funcionam, de que o sistema eleitoral permite um resultado justo, com as falhas e imperfeições que tenha, enfim, são figuras públicas, hoje abrigadas em mandatos a eles garantidos pelo mesmo sistema que vivem demonstrando não confiar suficientemente. Quando perdem, pelo menos.

A coluna diante disso, foi até ambos com um questionário simples, direto e objetivo. Três perguntas que buscam saber, nos dois casos, se o processo em curso corre algum risco de desdobramentos infindáveis, e politicamente desestabilizadores, a depender do resultado que apresentar. Em última instância, um esforço de compreender a ideia de democracia que mobiliza lideranças nesse momento circulando pelas ruas de Fortaleza à busca de apoios e de votos.

Questões que pedem respostas objetivas, conforme seja desejo do interlocutor - e foi de um deles, pelo menos -, na perspectiva mais clara de estabelecer compromissos em relação ao processo no qual estão envolvidos agora, Com a democracia, quanto à confiabilidade do sistema de votação e o resultado que dele advir. Coisas simples, que não deveriam estar ocupando a pauta de debates e, com isso, desviando a discussão do que parece realmente essencial no contexto de uma disputa pelo direito de comandar os municípios brasileiros pelos próximos quatro anos.

André Fernandes é assumidamente "bolsonarista", enquanto Eduardo Girão foge do rótulo e se diz "independente". Aceite-se a diferença, mas o fato concreto é que os dois agem com a mesma ênfase no erro de avaliação sobre o que tem acontecido no Brasil desde quando a justiça brasileira decidiu enfrentar a praga das fake news, com atuação decisiva do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Acabam sendo, como parlamentares, vozes constantes de defesa do direito à prática de crime na forma de liberdade de expressão, algo que os coloca entre os protagonistas no lado que, a pretexto de questionar a Corte e um dos seus integrantes, direito que lhes cabe dentro de certos limites e critérios, vê ilegitimidade na eleição de dois anos atrás que escolheu Luiz Inácio Lula da Silva como presidente.

André Fernandes reconforta o espírito democrático de todos nós quando reage com uma sequência de "sim" a questionamentos que, em síntese, querem saber se é democrata, se confia no sistema eleitoral e de votação brasileiro e se aceitará o resultado final desta disputa de 2024. Quanto a Eduardo Girão, submetido aos mesmos pontos em tom de dúvida, reagiu com o silêncio até o fechamento da coluna. Esperemos, então, para ver o que significa não ter respostas prontas, mesmo que eventualmente irônicas, para perguntas tão simples.

Uma família em movimento

A forte defesa de Ciro Gomes feita recentemente na Assembleia Legislativa pela deputada estadual Lia Ferreira Gomes, quando o irmão era duramente atacado pelo líder petista Diassis Diniz, parece ser apenas a parte mais visível de uma articulação que se acelera para que a paz interna se restabeleça no ambiente familiar. Chegou à coluna informação de que Ciro e o senador Cid Gomes conversam, através de terceiros, com chances reais de voltarem às boas ainda durante a temporada eleitoral em curso. O que seria uma má notícia, de início, para Camilo Santana e seu grupo político.

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A nova, e dífícil, missão

Impôs-se um desafio e tanto a Nelson Martins ao lhe entregar a missão de manter a base do governo unida, agora no papel de articulador político, em meio ao confuso quadro eleitoral que já encontrou montado. Esperava-se mesmo que a campanha traria algumas dificuldades, mas as coisas estão explodindo antes do previsto. Não é o caso de chamar Augusta Brito de volta, mas, sem dúvida, o estilo que ela colocou em prática durante seu tempo no cargo, que precisou deixar para retomar o mandato de senadora em Brasília, precisa ser recuperado. As primeiras dificuldades para Nelson surgem ainda dentro do Abolição, geradas na sala de onde despacha o secretário da Casa Civil, Max Quintino. O diálogo não tem fluído com a tranquilidade que seria necessária para o momento delicado.

Os debates no Cariri

Campanha no Cariri terá uma semana agitada com a programação de debates que o Grupo de Comunicação O POVO realizará, através da rádio O POVO CBN Cariri, entre os candidatos às prefeituras de Barbalha, Crato e Juazeiro do Norte. Nessa ordem, exatamente. Pelo que tem sido observado nos primeiros dias de movimento nas ruas há uma tendência de embates tensos, o que exigiu um regramento organizado para que as coisas se mantenham no limite do aceitável. Há, naturalmente, uma expectativa bem forte quanto ao caso juazeirense, onde as candidaturas do prefeito Gledson Bezerra (Podemos) e do deputado estadual Fernando Santana (PT) polarizam de maneira forte a disputa e há empenho especial de lideranças estaduais em favor de um e outro nome.

Os números fortes do PT

Haverá necessidade de, lá em outubro, cruzar o número de partida com a quantidade real de vitoriosos, mas impressiona o cenário de participação do PT na disputas eleitorais de 2024 no Ceará: são 97 petistas disputando prefeituras, 66 em chapas majoritárias como vices e 1.500 postulantes a vagas em Câmaras Municipais. Uma aposta na influência do presidente Lula na decisão de voto do eleitor e, ao mesmo tempo, em boa parte resultado de articulações feitas pelo deputado federal José Guimarães. Caso tudo aconteça como projetam seus cálculos otimistas, o caminho dele rumo a uma candidatura ao Senado daqui a dois anos estará muito bem pavimentado.

As margens dos erros

Talvez fosse previsível para muitos, mas o fato é que o início da campanha no Ceará expõe uma coisa meio sem controle quanto às pesquisas de opinião pública. Aos próprios institutos mais sérios deverá interessar, adiante, que seja estabelecido algum tipo de regra para garantir saúde e credibilidade para um mercado que pode pagar um preço alto pelo que acontece agora. Em especial nos menores centros urbanos há números para todos os gostos e parece evidente que a construção deles guarda pouca relação com apuração estatística ou rigor matemático. A justiça e as instâncias fiscalizadoras podem agir, mas normalmente o fazem com o objetivo já alcançado.

Primeiros dias, primeiras horas

Valem algumas anotações sobre os primeiros dias e horas da fase oficial da campanha eleitoral em Fortaleza. O primeiro aspecto a ressaltar, numa perspectiva mais genérica, é que a turma parecia apressada de colocar os blocos nas ruas e o movimento começou assim que o relógio virou o ponteiro (como diria o inesquecível amigo Neno Cavalcante, "é o novo!"). A cidade já amanheceu a sexta-feira, o dia "zero", tomada por propaganda em cruzamentos estratégicos da cidade, com registro especial para o Capitão Wagner. Também merece atenção como ato de largada a ofensiva da campanha de José Sarto (PDT) contra Evandro Leitão (PT), significando, caso tenha ciência por trás, que na estrutura do atual prefeito entende-se que só há espaço para uma candidatura progressista, ou assim identificada, numa ideia de segundo turno. Vejamos o que ainda há pela frente a aparecer.

 

Foto do Guálter George

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