
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Um dos problemas históricos do Brasil, como nação, é a incapacidade que temos tido de aprender com os próprios erros. O impeachment de Dilma Rousseff como presidente da República ainda não está totalmente explicado, há quem se arrependa hoje de ter-se abraçado com o movimento de oito anos atrás que levou à interrupção de um mandato obtido através de 54,5 milhões de votos, sob uma justificativa mambembe, e eis que uma parcela de brasileiros decide apostar em um novo teste à nossa institucionalidade, nesse momento com foco direcionado a um outro poder. O Judiciário, no caso.
Há um grupo de parlamentares, especialmente no Senado, cuja motivação quase única do mandato é afastar ministro do Supremo Tribunal Federal. Não falo do direito de abrir um processo legal, submetê-los como agentes públicos à necessidade de uma prestação de contas de seus atos etc, mas, parece evidente, no caso de Alexandre de Moraes a condenação já está definida, talvez não seja necessário sequer perder tempo com o teatro do julgamento, aquela história de acusação, defesa etc.
E o Ceará está representado nessa turma através do senador Eduardo Girão (Novo), que coloca o objetivo à frente até de seu projeto pessoal, aparentemente sério, de se eleger prefeito de Fortaleza em 2024. Qualquer novidade que surja relacionada ao tema que seja capaz de gerar animação e lá corre o nosso representante para se colocar na linha de frente, especialmente em Brasília, no ambiente movimentado do Congresso onde há sempre um exército de jornalistas prontos para ouvir os parlamentares. Assim tem sido sempre e voltou a ser na semana, onde lá estava Girão diante dos microfones e na tribuna com sua história de que há uma "ditadura da toga no Brasil", "há uma escalada antidemocrática", "abusos vêm sendo cometidos" etc, etc.
Nesse sentido, a demonstrar que maturidade não é necessariamente um atributo vinculável de maneira automática ao tempo de vida de cada um, o jovem André Fernandes, do PL, tem sido muito mais capaz de aprender com seus próprios erros. De fato focado na sua campanha à prefeitura de Fortaleza, como um dos adversários do citado Girão, o momento político encontra o deputado federal do PL distante das guerras de Brasília e da pauta monotemática da ditadura do Judiciário e outros blá blá blá ideológicos. Fala do assunto eventualmente, marca sua posição crítica em relação a Alexandre de Moraes e em defesa de Elon Musk na peleja da vez, mas tendo o cuidado necessário para não deixar que isso tome de conta da agenda eleitoral, justificadamente sua prioridade real..
A verdade é que se essa indignação que Eduardo Girão vocaliza estivesse apontada no rumo certo ajudaria o País a virar em menos tempo, como anda precisando fazê-lo, a triste página que levou àquele trágico 8 de janeiro de 2023, quando uma turba fora de controle, incentivada por muitos destes que hoje dizem defender a democracia ao transformar um ministro do STF em inimigo número um, saiu a quebrar o que encontrava pela frente e cheirava a institucionalidade como gesto de recusa a aceitar o resultado das urnas. Enquanto perseguem de maneira implacável Alexandre de Moraes, estes mesmos trabalham pela anistia dos agitadores de Brasília e querem nos fazer acreditar que são eles os paladinos da liberdade de expressão.
A campanha de Evandro Leitão em Fortaleza, marcada pelo branco na vestimenta de quem subia aos palanques, começa a avermelhar. A cor, que é marca história do PT, já aparece com um pouco mais de realce nas peças publicitárias e nas roupas do pessoal, inclusive do próprio candidato. O que ouvi de uma voz autorizada é que está tudo dentro do programado e que cada movimento faz parte de uma etapa, ou seja, não tem a ver com correção de estratégia ou coisa que valha. Mas que tinha muita gente estranhando a situação, e algumas queixas internas, isso é verdade.
Leia também: O fator Camilo na campanha de Evandro
O sentimento de que fez água a candidatura do deputado federal baiano Elmar Nascimento à sucessão de Arthur Lira (PP-AL) não parece claro dentro de parte expressiva da bancada do União Brasil na Câmara, onde estão os correligionários dele. Uma das vozes mais ativas no sentido de expressar que o jogo segue sendo jogado é o cearense Danilo Forte, que já confirma presença na reunião convocada para amanhã, em Brasília, quando se pretende fazer uma análise do novo cenário. "Não aceitaremos uma candidatura chapa-branca", adverte, muito embora saiba que, pela tradição, um sinal que venha do Palácio do Planalto costuma decidir disputas nas quais, como é o caso, não exista uma candidatura apontando grande favoritismo. O que a turma do Elmar (até outro dia nome de preferência também do próprio Lira) está dizendo é que para tirá-lo do primeiro lugar da fila, onde se acreditava que ele estava, é preciso negociar melhor as novas bases. A dúvida é se ainda há tempo para isso.
A semana na Argentina do festejado Javier Milei ficou marcada por cenas lamentáveis de confrontos nas ruas entre aposentados e forças de segurança ligadas ao governo federal. Era uma tentativa, duramente reprimida, de realizar protestos pelo fato de o presidente haver decidido vetar um aumento que o Congresso do país decidira lhes conceder para compensar o fato, prestemos atenção, de a conta do equilíbrio fiscal de que se vangloria Milei como maior feito de sua gestão vir sendo viabilizada, na maior parte, pelo corte brusco na renda dos...aposentados. Gente que de "casta" não tem nada, o que contraria o compromisso básico do político de direita. Pois é, houve muita repressão, agressão contra idosos e idosas, cenas lamentáveis de violência policial, mas, parece, a indignação do mundo quando olha para o lado de cá anda toda direcionada para a Venezuela e não há espaço para prestar atenção nos vizinhos. Espero que a ironia tenha sido captada.
Parece mesmo ter fracassado o esforço de reaproximação entre os irmãos Ciro e Cid Gomes, dois ex-governadores do Ceará que se estranharam na campanha de 2023 e até hoje não houve quem conseguisse juntar os cacos de volta, apesar da torcida forte de gente da família ou de amigos nesse sentido. Neste último caso, um empresário influente, muito próximo a ambos, conseguiu colocá-los recentemente no mesmo espaço para uma conversa olho-no-olho. Parecia um passo firme no caminho da reconciliação, mas os comportamentos públicos de um de outro depois disso continuaram, sendo os mesmos. Portanto, o que a política separou ela própria dificilmente será capaz de juntar.
Ciro Gomes confirma que não entrará mesmo na campanha de José Sarto pela reeleição em Fortaleza, o que faz sentido pelo que as pesquisas o apontam como uma influência negativa. Muito embora ele justifique ser uma opção pessoal. Por outro lado, o previsto no QG pedetista é que o ex-senador e ex-governador Tasso Jereissati apareça na reta final, a partir da segunda quinzena de setembro. Por enquanto, a contribuição do tucano é através da participação na reunião semanal da coordenação de campanha, opinando quando chamado a fazê-lo sobre rumos e estratégias. Ocorreu-me uma dúvida, agora: aparecerá Tasso, quando o fizer, usando os tais óculos Juliete?
Há uma grande esperança no Tribunal de Justiça de que o atual presidente, desembargador Abelardo Benevides, conseguirá fazer uma sucessão tranquila para entregar o cargo ao sucessor, em 31 de janeiro de 2025, mantendo a unidade que conseguiu construir graças ao seu perfil tranquilo, produtivo e conciliador. Além de muito institucional, postura que lhe tem permitido linha aberta para diálogo com os poderes Executivo e Legislativo no mais alto nível. Pois bem, tem alguns movimentos internos relacionados a interesse pelo posto que preocupam, inclusive no aspecto em que indicam a possibilidade de uma perspectiva, sempre inadequada, de interferências externas dentro de um processo que diz respeito apenas aos 54 desembargadores nele envolvidos. É ver como as coisas se desenvolverão.
"O Senado pode, finalmente, cumprir o seu papel"
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