
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
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Uma foto circulou frenética nos meios políticos a partir da noite de sábado. Nela apareciam, em torno de uma mesa no Palácio da Abolição, em aparente reunião de trabalho, o governador Elmano de Freitas, o ministro Camilo Santana, o prefeito Evandro Leitão, todos do PT, o senador Cid Gomes, do PSB, e o chefe da Casa Civil, secretário Chagas Vieira, sem partido. Para além da imagem, forte em si, um recado à base de que os intensos movimentos da oposição nos últimos dias não haviam gerado qualquer abalo na estrutura principal que sustenta o momento do oficialismo no Ceará.
Claro que interessa à coluna saber o que se conversou ali. Sexta-feira agora, no começo da tarde, um dos presentes à emblemática reunião, o secretário Chagas Vieira, foi abordado e se dispôs a falar um pouco, muito pouco, sobre ela. Até aceita a importância do fato em seu aspecto simbólico, pelo registro que permitiu, mas, ao mesmo tempo, garante ter sido um acontecimento quase casual, sem qualquer interesse secundário de mandar mensagem a quem quer que seja. "Acontece que tínhamos uma chance rara de o ministro e o senador estarem em Fortaleza, com agenda aberta, e decidimos aproveitá-la", explicou.
Garante ele que os assuntos tratados estavam relacionados ao momento do Estado e do País, desafios e perspectivas etc. Claro, admite, que o cenário eleitoral projetado também fez parte das conversas, mas não como ponto central. Chagas não chega a criticar, mas estranha informações que indicam algum tipo de distanciamento entre Camilo e Cid, cuja relação política, assegura, está tão segura quanto sempre esteve.
Outro aspecto que o secretário minimiza, porque chegou a ser citado por alguns como fator de estranheza, foi a ausência do presidente da Assembleia, Romeu Aldigheri (PSB). "Aliás", reforça, "se há um político sobre o qual não repousa qualquer dúvida acerca de sua importância para a harmonia da aliança, este é o Aldigheri". Lembrando do gesto até inesperado de Elmano de Freitas lá atrás, no começo da gestão, ao trazer o parlamentar para um patamar novo fazendo-o líder do governo. Em resumo, ele estava no Interior na hora em que a reunião tornou-se possível e não tinha como chegar a tempo.
No frigir dos ovos, enfim, a mesa tirou alguma conclusão do cenário de 2026, diante das movimentações oposicionistas? O Chefe da Casa Civil cala quando perguntado nesses termos, mas diz que o barulho que vem de fora não está alterando a rotina e o espírito animado de quem está responsável por dar resposta aos problemas cotidianos dos milhões de cearenses, pela condição atual de governo. "Não dá para ficar, como eles (referindo-se aos oposicionistas), 24 horas por dia pensando em eleição", justifica.
A expectativa de Chagas Vieira é de que o governador chegue forte ao momento eleitoral, garantindo que as pesquisas internas indicam um índice bastante folgado de aprovação ao seu estilo pessoal e à própria gestão. "Trabalhamos para melhorar ainda mais a situação e acreditamos que isso é possível", diz ele, aceitando que reverter o quadro delicado na segurança pública é o maior desafio. "Não pela realidade em si, porque os indicadores têm melhorado um mês após o outro, mas porque precisamos chegar à sensação das pessoas, algo mais desafiador", admite.
Em resumo, a história de que há momentos em que uma imagem tem a força de mil palavras parece bem adequada ao caso, porque o simples fato de líderes daquele porte aparecerem numa conversa de aparência amistosa, seja qual for o conteúdo real tratado, serviu para abafar especulações e acalmar almas políticas. Com especial atenção para a presença, um sentado diante do outro, de Camilo Santana e Cid Gomes, os dois líderes de cujo humor afinado depende hoje, com mais clareza, a permanência de um acerto que dá o tom na política cearense há, pelo menos, 11 anos.
A eleição fosse resolvida pela quantidade de prefeitos que um candidato majoritário é capaz de juntar em torno de si, o deputado federal Júnior Mano (PSB) seria imbatível em seu plano de disputar uma das vagas ao Senado no próximo ano. A última conta feita pelo seu entorno apontava 55 gestores municipais cearenses dispostos a entrar na campanha do parlamentar caso seu nome seja confirmado dentro da aliança governista, ocupando a vaga hoje de Cid Gomes, que segue sendo o seu maior avalista. De fato, segurando tal nível de apoio até o momento da decisão, mais adiante, será difícil não tê-lo na chapa majoritária.
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A oposição apostava alto (talvez ainda aposte) no jovem prefeito de Iguatu, Roberto Costa Filho (PSDB), como uma das estrelas a serem apresentadas na campanha de 2026 dentro de uma ideia de renovação do cenário. Por isso, frustrou muita gente dessa ala a expressão feliz dele ao lado do governador Elmano de Freitas (PT), essa semana, levado pelo deputado estadual Marcelo Sobreira (PSB). Mesmo não tendo havido anúncio nenhum, de lado a lado, trata-se daquele tipo de movimento que gera incômodo pelo simples fato de se tornar público.
De outra parte, a oposição tenta capitalizar como uma espécie de conquista sua a presença na reunião da última terça-feira - aquele café da manhã que tem sido organizado semanalmente - do deputado estadual Romeu Aldigheri (PSB), presidente da Assembleia. Faz sentido?
Acho que não, porque o fato de ser um dos governistas mais notórios da atual composição, vindo da condição de líder do governo Elmano de Freitas nos dois primeiros anos, não tira de Aldigheri a obrigação de manter interlocução com a totalidade da casa parlamentar que comanda. Gerar confusão por um ato quase protocolar é parte do jogo, aceite-se, mas de efeito político-eleitoral nenhum. A preço de hoje pelo menos.
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A coisa ainda não está pacificada no processo de definição dos papéis na Comissão de Anistia Wanda Sidou, depois que o advogado Marcelo Uchôa reclamou publicamente por ter sido preterido pelo governador Elmano de Freitas (PT) para o cargo de presidente. A escolha acabou recaindo sobre José Ernesto Sales, indicado para o núcleo pelo Instituto 1964/1968, quando Uchôa chegou a ele como representante da OAB do Ceará, onde, inclusive, dirige a Comissão da Memória, Verdade, Justiça e Defesa da Democracia (CMVJDD).
Marcelo Uchôa até recuou um pouco em suas manifestações mais recentes, comparadas às fortes queixas de antes nas redes sociais, pelo menos no aspecto do tom. Inclusive buscando separar o episódio de suas posições políticas, lembrando ser filiado e militante petista, já cuidando de anunciar que Elmano segue seu candidato para 2024. O governo, que tem evitado respostas que ampliem o problema e até agora optou pelo silêncio, apenas diz, extraoficialmente, que nunca houve qualquer compromisso de indicar o representante da OAB como presidente da Comissão. Não se sabe, portanto, de onde Uchôa tirou a cobrança.
Demonstrando fragilidades no novo papel como presidente da Câmara Federal, resistindo pouco às pressões de governo e de oposição e cedendo a um e a outro o tempo todo, o deputado paraibano Hugo Mota (Republicanos) procura mostrar força em casa. Um dos cabeças da aliança governista local, ele pode ter emplacado o pai, Nabor Wanderley, seu correligionário e atual prefeito de Patos, como um dos candidatos ao Senado no próximo ano, dentro da aliança da qual faz parte,liderada pelo atual governador da Paraíba, João Azevedo (PSB). Convém a ele aproveitar bastante o momento favorável porque há demonstrado fraquezas que não indicam vida longa para seu protagonismo.;
"Estrela" cearense do fato político nacional da semana, a tomada de depoimentos dos réus pela tentativa de golpe que ameaçou o Brasil entre 2022 e 2023, o general iguatuense Paulo Sérgio Nogueira pediu desculpas ao seu advogado, Andrew Fernandes Farias, após constrangê-lo diante de algumas perguntas dele que considerou inadequadas.
Em gesto nobre, mesmo que tardio, o militar, no melhor velho estilo, escreveu uma carta na qual admite que seu comportamento foi inadequado e elogia o desempenho do seu defensor. A situação lhe deixa em paz por um lado, sem que, pelo outro, altere em nada a delicada condição que enfrenta como um dos acusados de fazer parte do núcleo central do movimento que quase levou ao rompimento institucional entre o final da gestão Bolsonaro e o começo do governo Lula.
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