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O que há por trás da eleição do PT
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O que há por trás da eleição do PT

O PT vive um momento especialmente desafiador e o ano de 2026 exigirá deles ainda mais, diante do objetivo declarado que há de criar condições para que o presidente Lula chegue ao período eleitoral em condições competitivas
Tipo Análise
O que há por trás da eleição do PT (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos O que há por trás da eleição do PT

Não é trivial, mas o ideal seria que fosse, o principal fato que movimenta a política neste domingo: a eleição dos novos comandos do PT, a partir de consulta direta aos filiados. Trata-se do único partido, dentre aqueles que têm porte maior, a abrir seu processo de estruturação de cúpula a um debate mais amplo, no qual se oferece oportunidade para que todos os interessados tenham espaço para manifestar suas opções, mesmo que apenas pelo voto.

Um exemplo isolado meio injustificável e que ajuda a explicar alguma coisa do nosso caótico sistema político. Para efeito comparativo, colocando lado a lado as duas maiores forças partidárias contemporâneas, aponte-se o caso do PL, contraponto perfeito pela condição de maior sigla à direita. Seu presidente é Valdemar da Costa Neto, que ninguém sabe quem colocou lá e se sabe que ninguém dispõe de força suficiente para tirá-lo. Jair Bolsonaro que o diga. O senador Ciro Nogueira virou presidente do PP, outra potência partidária, numa dinâmica que interessou apenas a ele e a quem está ao seu lado, como outro exemplo de como as coisas se dão em legendas de porte no debate político nacional, especialmente aquele que flui a partir dos humores no Congresso Nacional.

Isso significa que o modelo do PT é perfeito? Longe disso, como demonstram as queixas e acusações de filiações de última hora que têm sido apresentadas, certamente com os votos já encomendados, no caso da disputa pelo diretório de Fortaleza, pelo grupo da deputada federal e ex-prefeita Luizianne Lins. Há problemas que, de certa forma, até reproduzem as imperfeições do sistema político que, repita-se, estaria fortalecido caso tivéssemos mais exemplos de vida orgânica acontecendo nos nossos partidos.

Até pelo contrário, é possível dizer, porque a prática política cotidiana e as prioridades que ela costuma exigir têm piorado bastante o PT em vários aspectos, considerados os pontos positivos que se reconhecia e até admirava nele um tempo atrás. Um dos tópicos mais evidentes é o afrouxamento do rigor mínimo que havia antes para evitar filiações em massa, em geral com gente atraída pelo poder ou a perspectiva dele e não por uma identificação do novo "companheiro" (ou "companheira") com a ideologia e as ações petistas.

É um aspecto diferencial que tem perdido força no partido e que representa uma ameaça na medida em que o torna parecido com os outros sem que, pela dinâmica interna própria que mantém, possa oferecer as mesmas vantagens comparativas das siglas com as quais disputa espaço. Claro que parece muito melhor estar onde se dê liberdade maior, sem cobranças, para agir conforme os interesses próprios, pessoais ou de um grupo específico, sem compromissos partidários que, no plano mínimo em várias situações, o PT ainda segue cobrando dos seus filiados.

O certo, enfim, é que os eleitos não terão pela frente missões fáceis, na instância em que estiverem posicionados. O PT vive um momento especialmente desafiador e o ano de 2026 exigirá deles ainda mais, diante do objetivo declarado que há de criar condições para que o presidente Lula, seu nome maior e mais representativo, chegue ao período eleitoral em condições competitivas. A união interna é condição importante para isso e, por enquanto, ela não passa de um sonho. Para alguns, de um pesadelo.

 

"A sobrevivência do PT e, consequentemente, da esquerda brasileira passa por essa eleição"

Paulo Niccoli Ramirez, cientista político

 

O prefeito foi, André ainda não

Está tudo anotado no caderninho do prefeito Evandro Leitão e, até mais importante, a maioria tem registro nas redes sociais. Certo é que o balanço dos seis primeiros meses da nova gestão em Fortaleza apresenta um total de 73 bairros visitados em cerca de 113 incursões feitas desde 1º de janeiro. Parece um número bastante significativo, inclusive porque boa parte das ações presenciais de Leitão se deu em fins de semana ou feriados, significando que mais gente estava em casa para dar conta do que acontecia. Lembrando-se que um dos compromissados de André Fernandes (PL) em seu discurso após reconhecer a derrota era de percorrer a cidade no papel de fiscal legitimado por uma votação expressiva que quase o leva à vitória. Caso esteja cumprindo tem sido discreto, o que não se alinha com suas práticas barulhentas.

Ciro avança e RC espera

O entusiasmo de setores oposicionistas com a ideia de candidatura de Ciro Gomes ao governo, que parece ter ganho força com o avanço das conversas de volta dele ao PSDB, vão colocando numa situação meio incômoda o ex-prefeito Roberto Cláudio, que está trocando o PDT pelo União Brasil focado no projeto de disputar o Palácio da Abolição no ano que vem. Vai que Ciro diz sim aos apelos e aceita brigar pela cadeira de governador, então, como ficaria a situação de RC? Ele não tem plano B em mente, ou, pelo menos, não tinha.

A resposta e a lacração

Convenhamos, está difícil para o prefeito Glêdson Bezerra (Podemos) manter o foco na gestão e na resolução dos problemas de todo dia precisando destinar sempre uma parte do seu tempo para querelas jurídicas infindáveis. Mal ele teve tempo de comemorar a contundente vitória no TRE, que por unanimidade rejeitou ação anterior que pedia seu afastamento do cargo, e eis que surge uma nova decisão de 1ª instância que acolhe o pedido da oposição com o mesmo sentido, em outro processo. É duro, mas, dito isso, o prefeito deve juntar suas provas de que nada fez de errado e, como na vez anterior, convencer as autoridades competentes através delas. Ao invés de embarcar em posturas como a do aliado e apoiador Eduardo Girão (Novo), senador da República, que correu a misturar estações - poderes, no caso - para falar em governo ditador porque o candidato derrotado, Fernando Santana (PT), tem ligações com o ministro Camilo Santana etc e vinculando o magistrado a uma situação política. Seria uma denúncia séria, havendo como mostrar que uma coisa tem a ver outra, ou, será apenas uma irresponsabilidade caso se trate de um discurso com objetivo de lacrar.

O primeiro candidato

Pelo calendário, a escolha do novo (ou nova) comandante da Defensoria Geral do Estado acontece apenas em outubro. Na realidade, porém, as movimentações já começam a acontecer e, representando o que seria uma corrente crítica à atual gestão, ou grupo, Adriano Leitinho apresentou, na semana, uma Carta na qual, oficiosamente, se lança candidato ao posto. O centro de sua manifestação, distribuída pelos espaços frequentados pelos potenciais eleitorais, é o compromisso de estender a isonomia com outras instituições do sistema de justiça, em especial o Ministério Público, para além dos subsídios. Sua queixa, que diz representar o que tem ouvido de muita gente, é que há um desânimo diante do volume de trabalho pelo número de profissionais insuficientes para dar conta da demanda. A Defensoria, lembremos, funciona na assistência à população mais vulnerável e que não dispõe de condições para bancar os custos de uma defesa jurídica. Muita gente mesmo, portanto.

Prerrogativa da Assembleia

Marco Aurélio de Carvalho, líder do Prerrogativas, chega amanhã em Fortaleza para receber na Assembleia Legislativa uma homenagem pelo trabalho que o grupo de advogados progressistas teria desenvolvido na defesa do estado democrático de direito. Especialmente no combate àquilo que se apontava como ilegalidades da Lava Jato, aliás, fator que levou à sua criação em 2014. O evento foi proposto pelo deputado estadual Renato Roseno (Psol), que atendeu sugestão apresentada pela OAB local e, antes de voltar para São Paulo, Marco Aurélio será figura central em jantar que lhe será oferecido, em sua casa, pelo advogado Inocêncio Uchôa.

Em campanha e com força

Duas coisas sobre a passagem por Crateús, durante a semana, do ministro da Saúde, Alexandre Padilha: primeiro, que o município cearense, administrado pela ex-assessora de Camilo Santana, Janaina Farias, a cada dia se faz presente com mais força à agenda das autoridades nacionais e uma coisa tem a ver com a outra; segundo, depois do que aconteceu ali em torno do deputado federal Júnior Mano (PSB), descoberto que ele estava no local, entende-se como muito difícil que uma das vagas da sobrevivência do PT e, consequentemente, da esquerda brasileira passa por essa eleição.

 

Foto do Guálter George

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