
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Como resultado de três dias da última semana que o colunista circulou por Recife, misturando-se com figuras políticas e gente anônima da rua, que expressa o real sentimento popular, trago hoje uma análise sobre o momento da política de Pernambuco na perspectiva do que pode acontecer em 2026 na disputa pelo governo estadual. É notório que, especialmente junto ao morador da capital, a expectativa predominante é de vitória do atual prefeito da cidade, João Campos (PSB), favoritismo alimentado pela média das pesquisas conhecidas e divulgadas.
No entanto, partindo-se do pressuposto de que a briga pela cadeira principal da política estadual tem um interessado que parte na dianteira, há razões, captadas no sem número de conversas acontecidas entre a quarta e a sexta-feira, para crer que a governadora Raquel Lyra (PSD) faz movimentos suficientes para exigir de João Campos uma estratégia sem erros para confirmar nas urnas a perspectiva de vitória apontada pelas pesquisas. O passeio que hoje se desenha pode não se confirmar na campanha real.
O fato é que o prefeito de Recife, que preside a executiva nacional do PSB, segue muito apoiado por quem reside na capital que administra. Um assessor dele informou à coluna, por exemplo, que pesquisas internas apontam que 80% da população quer sua candidatura ao governo em 2026, portanto, a decisão de renunciar ao cargo que hoje ocupa em abril do próximo ano - "já 100 por cento tomada", segundo a mesma fonte - tem o respaldo majoritário de quem poderia se incomodar.
Conhecedor como poucos do cenário político local, o professor Adriano Oliveira, coordenador do curso de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e colunista do O POVO, é um dos que projeta um quadro de disputa mais acirrado do que indicam os números atuais. Um ponto para o qual ele chama atenção, especialista que é de leitura de pesquisas, diz respeito à baixa rejeição de ambos. Ou seja, Raquel Lyra também dispõe de espaço para crescer, caso lance mão de uma estratégia eleitoral eficiente.
O fator que tende a criar um caminho sem volta a favor de João Campos, de verdade, é o apoio projetado do presidente Lula. "A tendência é que ele, Lula, chegue muito forte ao período eleitoral", adianta Adriano Oliveira, que destaca os movimentos cuidadosos de Raquel Lyra nesse aspecto. Com o prefeito de Recife já totalmente 'abraçado' ao petista, a governadora administra sua aproximação com forças bolsonaristas locais e, muito possivelmente, evitará uma aliança formal. Suas pesquisas internas também viriam demonstrando não ser, por hoje, uma boa opção.
Outro ponto considerado nas análises, e neste caso aparece uma vantagem numérica de Raquel Lyra, é a briga por lideranças municipais no palanque que está sendo montado para o próximo ano. A governadora contabiliza como aliado(a)s cerca de 140 de 184 prefeitas e prefeitos que formam o mapa político pernambucano, muita coisa e, queira-se ou não, uma vantagem competitiva num contexto desafiador diante do que o eleitor há demonstrado ao projetar sua intenção de voto através das pesquisas.
Posto o quadro de Pernambuco, atual e imaginado, vale perguntar: e o que nós, cearenses, temos a ver com isso? A resposta poderia ser simples, lembrando que é um estado vizinho, de realidade muito parecida com a nossa, que a causa nordestina exige que tenhamos atenção um com o outro etc, mas, há uma complexidade maior como justificativa. João Campos, um dos prováveis contendores e no momento apontado como favorito, pode assumir um tamanho novo, e maior, no cenário político nacional.
Compreendendo-se que o petista Lula deve viver sua última experiência eleitoral em 2026, caso realmente seja candidato à reeleição como presidente, um espaço imenso de liderança se abrirá na projeção para 2030 naquilo que se chama como campo progressista nacional. E, claro, caso esteja sentado na cadeira principal do histórico edifício do Campo das Princesas, de onde despacha quem governa Pernambuco, o jovem político, que tem hoje apenas 31 anos, estará com os braços levantados pedindo para ser notado. E dificilmente não o será.
O deputado federal Júnior Mano (PSB) deve ter calculado o movimento ao decidir votar, na Câmara, pela derrubada da Medida Provisória com a qual o governo Lula contava para o equilíbrio das contas públicas em 2026. Aquela que previa cobrar mais impostos do setor financeiro e de empresas de apostas, numa espécie de compensação à receita da qual abre mão com a isenção de impostos para quem ganha até R$ 5 mil mensais. A preço de hoje, o nome do parlamentar está inviabilizado como uma das opções para as vagas ao Senado dentro da aliança governista, apesar da força política do padrinho Cid Gomes, que abre mão de disputa reeleição para apoiá-lo. "Com o fato novo, Júnior Mano é carta fora do baralho", disse uma fonte, que ouve e é ouvida no oficialismo. Lulista, claro.
Tem sido notado o fortalecimento, dentro da aliança governista, da ideia de repetição, em 2026, da dobradinha Elmano de Freitas-Jade Romero. Não é tese prevalecente hoje, mas, caso avance, ajudará a resolver um problema que faz parte da equação geral que envolve a formação do melhor palanque majoritário: a presença (ou ausência) feminina. Os nomes até agora cogitados na discussão sobre a disputa pelo Senado são, todos, de homens, destacando-se que no lado oposicionista a vereadora Priscila Costa, do PL, está cotada com força entre as alternativas. Nesse ponto é que me chamam a atenção, inclusive como possível desdobramento de uma inviabilização de Júnior Mano, que a ex-governadora Izolda Cela, filiada ao PSB, pode surgir como sugestão, considerando, de início, que teria total simpatia de Cid Gomes. É ver o que acontecerá.
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Em duas semanas a população de Santa Quitéria volta às urnas para escolher o novo prefeito e, infelizmente, o clima é de muita tensão. Os levantamentos internos das campanhas mostram, meio como consenso, que o prefeito interino (e presidente da Câmara de Vereadores), Joel Braga, do PSB, na intenção de voto aparece à frente das adversárias - Lígia Protásio (PT) e Cândida Figueiredo (União Brasil). Especula-se com muita força, diante do cenário, que uma das candidatas tenderá à renúncia, caso a situação persista, potencializando uma união, de líderes e de eleitores, que geraria um fato novo, pelo menos. Lembre-se que o pleito do ano passado foi anulado em função da interferência de facção criminosa em favor do então candidato vitorioso - Braguinha, do PSB -, que vem a ser pai do favorito da vez. É a política.
A novela de sempre, em ano eleitoral, ameaça se repetir: o plenário da Assembleia pode se transformar em extensão das disputas dos deputados em suas bases, muitas vezes a partir de temas que não deveriam ser levado ao espaço nobre de um parlamento. Diante do alcance limitado dos seus efeitos e, não raro, porque só interessam às figuras diretamente envolvidas devido ao caráter paroquiano que apresentam. O presidente Romeu Aldigheri (PSB) tenta se mostrar atento ao problema e já busca acordos com aqueles que disputam protagonismos locais entre si, antecipando-se aos problemas. O irônico da história é que, fossem outros os tempos, o próprio Aldigheri seria fator de risco com sua histórica rivalidade com o deputado Sérgio Aguiar na disputa por espaços em parte da região norte do Ceará.
A deputada federal Luizianne Lins (PT) ganhou os holofotes nacionais nos últimos dias, até alguns internacionais, ao participar da flotilha da liberdade cujo objetivo era romper o bloqueio de Israel à Faixa de Gaza. A ação foi interrompida, os ativistas de vários países acabarem presos, inclusive ela junto com outros 12 brasileiros, todos deportados e já de volta. Uma bela história e, quem sabe, uma forma de compensar a discrição que marca seu mandato atual, com pouca produtividade parlamentar e baixa presença nos debates políticos. Trata-se de uma parlamentar cujo eleitorado principal funda-se no chamado "voto de opinião", pode-se dizer até que um dado de qualidade na escolha, portanto. Olhando pelo viés do interesse pessoal, é possível que a movimentação tenha aumentado as chances de reeleição para ela, que, se candidata, buscaria ir para o 4º mandato consecutivo.
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