Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Possíveis motivações por trás da suspensão e redução de linhas de ônibus elevam a tensão nas negociações entre Prefeitura e Sindiônibus
Foto: AURÉLIO ALVES
PREFEITO Evandro Leitão (PT)
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O anúncio da retomada da operação de 25 linhas de ônibus em Fortaleza não encerra um mal-estar que se instalou entre o Sindiônibus e o prefeito Evandro Leitão (PT). Já na segunda, 29/9, quando o sindicato suspendeu o funcionamento dos itinerários, o sinal amarelo soou no Paço.
No entorno do gestor da Capital, o entendimento era de que a entidade, que tinha uma rodada de negociação com Governo do Estado e Prefeitura naquele mesmo dia, estava tentando chantagear o petista - não se sabe se movida por fatores também políticos.
Nesse momento, Evandro riscou um limite: não haveria tratativas enquanto a direção do Sindiônibus não recuasse. Para interlocutores do chefe do Executivo, o empresariado tinha calculado que a fatura (financeira e de popularidade) pela exclusão das linhas cairia exclusivamente no colo do prefeito.
Não foi o que aconteceu, ponderam aliados, acrescentando que o Sindiônibus "deu um tiro no próprio pé". As conversas, no entanto, prosseguem, ainda que sob clima de desconfiança mútua. Do lado governista, há disposição para acatar a demanda do sindicato, qual seja, conceder 100% de isenção do ICSM que incide sobre o diesel.
Apenas essa medida (ampliação da isenção no ICMS), se realmente adotada pelo Abolição, faria o patamar de subsídios estaduais destinados ao sistema rodoviário fortalezense saltar de R$ 20 milhões para R$ 40 milhões - sem contar outros R$ 233 milhões que o município injeta diretamente na plataforma de ônibus como compensação de eventuais prejuízos, de modo a assegurar que a tarifa siga no mesmo patamar (R$ 4,50).
Ou seja, o Sindiônibus reconsiderou a decisão (arbitrária, diga-se) de recolher parte da frota, sem qualquer aviso prévio, não somente porque se viu pressionado (na Câmara de Vereadores, por exemplo, mesmo a oposição ao petismo foi incapaz de sair em defesa da suspensão dos coletivos).
Mas sobretudo porque projeta uma recomposição de suas perdas a partir de um entendimento com o governador Elmano de Freitas (PT), que tem socorrido o prefeito na hora do aperto quando se trata de evitar majoração na passagem, embora haja quem calcule que um aumento será inevitável no início de 2026.
Motivação política
Convém examinar de perto essa tese de alguns petistas para os quais o Sindiônibus não agiu imbuído tão somente de razões econômicas, mas com a finalidade de desgastar Evandro. Teria pesado, sustentam membros da base, também um elemento político-eleitoral, patente numa convergência de agendas entre a direção do sindicato e a administração do então prefeito José Sarto (PDT).
Para esses governistas, o pedetista ampliou repasses para a entidade, inclusive no apagar das luzes do governo, quando foram endereçados R$ 90 milhões à rede de transporte - ação posteriormente congelada por Evandro. Há, contudo, quem vá mais longe, sugerindo uma articulação entre o órgão patronal e lideranças políticas com interesses na corrida pela sucessão de Elmano.
A taxa faz falta?
Entre opositores, todavia, o episódio da queda de braço entre Sindiônibus e Prefeitura de Fortaleza escancarou a fragilidade fiscal e econômica da gestão petista, cuja primeira iniciativa, logo que assumiu o Executivo no início do ano, representou uma redução na capacidade de arrecadação do município - o fim da taxa do lixo.
Para quem não recorda, uma das justificativas de Sarto para manter a taxa (que isentava até 70% das famílias da cidade) era precisamente a incapacidade que o poder público tinha àquela altura de financiar parte de seus serviços - um dos quais a coleta de lixo. Sem a taxa, argumentava, o gestor teria de procurar outra fonte de recursos para viabilizar os trabalhos.
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