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O saldo eleitoral de 2024
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Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO

O saldo eleitoral de 2024

Fazendo um balanço geral, não é exagero dizer que as democracias liberais saem mais fragilizadas deste 2024
Tipo Opinião
VITÓRIA de Trump simboliza crise na democracia liberal e na globalização (Foto: JOSH EDELSON / AFP)
Foto: JOSH EDELSON / AFP VITÓRIA de Trump simboliza crise na democracia liberal e na globalização

Em uma das primeiras colunas de 2024, escrevi que este seria o ano do voto no mundo, com aproximadamente metade da população do planeta indo às urnas para eleger ou reeleger novos presidentes ou primeiros-ministros. Considerando os dez países mais populosos do mundo, apenas China e Nigéria não realizaram pleitos nacionais ou locais.

Além dos bilhões de pessoas votando, 2024 teve eleições em países com grande peso nas discussões globais da atualidade. Levando em conta apenas os membros do G-20, foram nove disputas: Índia, Estados Unidos, Indonésia, Rússia, México, Japão, Reino Unido, África do Sul além das eleições para o Parlamento Europeu.

Outras disputas regionais no bloco também merecem destaque pelo potencial que têm de influenciar os embates nacionais. Caso das eleições municipais brasileiras, que mexem com a dinâmica política para 2026; e as eleições legislativas na França convocadas por Emmanuel Macron, que fragmentaram o Parlamento e deixaram o governo de mãos atadas.

Mesmo os países que não realizaram eleições neste ano passaram por turbulências que anteciparam disputas logo para o início de 2025. Exemplos disso são a dissolução do governo Olaf Scholz na Alemanha, a tentativa de golpe na Coreia do Sul e o governo Trudeau cada vez mais enfraquecido no Canadá.

O movimento de anti-incumbência que abordei um pouco mais detalhadamente neste mesmo espaço no início de dezembro seguiu em alta em 2024. No Reino Unido, o Partido Trabalhista voltou ao poder após 14 anos impondo uma vitória acachapante sobre os Conservadores. Nos EUA, o Partido Republicano com Donald Trump fez o mesmo com Kamala Harris e os Democratas. Mesmo governos bem estabelecidos tiveram um desempenho nas urnas abaixo do esperado, como o de Narendra Modi, na Índia.

Onde não houve surpresa

No mundo de hoje, não são poucos os países onde não dá para contar com um processo eleitoral muito transparente. Na Rússia, Vladimir Putin foi reeleito com mais de 88% dos votos. Na Venezuela, nem o mais ingênuo ser vivo da Terra crê na lisura da Comissão Eleitoral que reconduziu Nicolás Maduro.

Democracia liberal enfraquecida

Fazendo um balanço geral, não é exagero dizer que as democracias liberais saem mais fragilizadas deste 2024. Uma constatação que pode parecer um tanto quanto paradoxal, se pensarmos que um ano com metade do planeta votando deveria ser de fortalecimento democrático.

A vitória de Donald Trump na eleição americana e o retorno dele à Casa Branca a partir de janeiro potencializam essa percepção de um extremismo que se aproveita da insatisfação e da desconfiança generalizadas com a classe política. Um extremismo que promete colocar em prática ações de caráter autoritário, que esgarça a mesma democracia que possibilitou a ascensão deste radicalismo.

Mas os EUA não são uma ilha. A AfD não deve chegar ao poder na Alemanha agora nas eleições de fevereiro de 2025, mas seu crescimento é inegável. Na França, Marine Le Pen ganha corpo e favoritismo para a disputa em 2027.

Enquanto isso, políticos e partidos tradicionais mais moderados à esquerda ou à direita têm cada vez mais dificuldade de emplacar um discurso que conquiste corações e mentes da massa trabalhadora e compreenda seus anseios. Dizer que do outro lado está alguém que pode acabar com a democracia parece ter cada vez menos impacto junto ao eleitorado em geral.

Basta ver o tamanho da derrota de Kamala Harris que, mesmo com tudo que Trump disse e fez, não conseguiu dar as respostas que os americanos queriam.

O modelo democrático liberal como o conhecemos desde 1945 e que parecia consolidado no fim do século XX está em crise. Se o ano eleitoral de 2024 era uma oportunidade de revitalização democrática, os sinais dados pelas urnas não foram muito auspiciosos.

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