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Os dados da segurança e a análise necessária
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É o(a) profissional cuja função é exclusivamente ouvir o leitor, ouvinte, internauta e o seguidor do Grupo de Comunicação O POVO, nas suas críticas, sugestões e comentários. Atualmente está no cargo o jornalista João Marcelo Sena, especialista em Política Internacional. Foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO e de Política

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Os dados da segurança e a análise necessária

Estatísticas de segurança pública devem ser apresentadas com profundidade de contexto e análise para não causarem confusão no leitor diante de uma realidade sabidamente violenta
Tipo Opinião
Motos da Policia Militar do Ceará (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Motos da Policia Militar do Ceará

A primeira quinzena de maio no Ceará teve forte efeito na pauta da segurança pública. O mês começou com uma nova onda de violência que voltou a assustar a todos. A manchete do O POVO no dia 8/5 tinha o impactante dizer “Oito mortes violentas em oito dias na Barra do Ceará” (embora o uso direto dos termos homicídios ou assassinatos fosse mais preciso para este caso).

Na semana seguinte, a cobertura de segurança pública do O POVO destacou notícias que, para um olhar desatento, poderiam retratar um cenário paradoxal no comparativo com a onda de violência dos dias anteriores. Na terça-feira, 13, o levantamento Atlas da Violência, publicado anualmente pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, trazia a informação de que o número de homicídios no Ceará caíra 33,1% em 11 anos.

Dois dias depois, o Governo do Estado anunciou que pagaria o montante de R$ 45,4 milhões em bonificações aos agentes de segurança pela redução de 23,7% no número de assassinatos em março e abril deste ano em relação ao mesmo período de 2024.

O primeiro aspecto para entender que tais realidades não são contraditórias é temporal. Mas é necessário um contexto bem detalhado para chegar a essa compreensão. O dado destacado na matéria sobre o Atlas da Violência faz um comparativo simples entre os números de homicídios de 2013 e 2023. É verdade que o índice caiu 33,1%, mas a estatística evidenciada no título da matéria mostra apenas a cabeça e o rabo do bicho, deixando o corpo para ser conferido, com menor ênfase, no meio do texto, em um patamar inferior de importância.

Da forma como está, o título pode levar o leitor a pensar que houve por parte do poder público ao longo de uma década uma política exitosa de segurança pública, com bons resultados graduais e consistentes ano a ano. Não é o que a realidade aponta diante dos dados existentes no meio desse percurso. Essa é apenas uma das possíveis leituras analíticas que poderiam estar na matéria sobre o estudo que, felizmente, foi feita em um espaço de opinião pelo colunista Érico Firmo.

Quanto aos números de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLI) do último bimestre divulgados na quinta-feira, 15, o governo tentou jogar luz à bonificação dada aos agentes pelo cumprimento de metas por redução de homicídios, deixando de lado a recente onda de violência. A matéria do O POVO sobre esses dados não mencionou o aprofundamento recente da crise.

Tampouco questionou o governador e o secretário da Segurança a respeito do aumento do número de crimes em maio, algo que foi destacado pelo próprio O POVO em matéria que apontou uma média de 10 assassinatos por dia neste mês, segundo dados preliminares.

O aspecto simbólico do problema

Há ainda um segundo aspecto com uma maior carga simbólica. Como explicar o aumento geral da sensação de insegurança mesmo com números que são apresentados como se mostrassem o contrário? O relatório do Atlas da Violência até desenvolve explicações e hipóteses com base em estudos dos pesquisadores que o produzem, mas faltou também à cobertura do O POVO buscar com especialistas essas análises para ajudar o leitor na compreensão do cenário.

Questionei a Redação sobre a necessidade de a cobertura avançar para uma discussão mais analítica como complementaridade às estatísticas de segurança pública. Editora-chefe de Cidades, Tânia Alves reconhece que a matéria poderia ter usado especialistas como fonte para comentar o assunto. “Foi uma falta”, admite, adicionando que o “contraste entre essas estatísticas e a percepção geral da população precisa ser algo mais trabalhado”.

O debate sobre segurança pública tem se mostrado cada vez mais complexo. Não é de hoje que este é o principal desafio das gestões estaduais. Um tema que ultrapassa a esfera social e adentra os embates políticos com cada intensidade crescente. E que também exige um olhar aprofundado, que não fique restrita a números.

Um tom analítico que O POVO imprime com frequência em muitas coberturas e que não precisa ficar circunscrito às ótimas colunas de opinião como a do já citado Érico Firmo ou a do especialista e pesquisador em segurança Ricardo Moura.

Ainda sobre o papa

Na coluna da última semana, fiz uma análise geral da cobertura da imprensa sobre a escolha do cardeal norte-americano Robert Francis Prevost como novo papa Leão XIV. Em uma das notas, destaquei um erro cometido por O POVO ao publicar no Instagram uma imagem do cardeal italiano Pietro Parolin como se este tivesse sido o eleito. Atribuí o equívoco a uma eventual pressa da equipe de Mídias Sociais com o objetivo de fazer a postagem do novo pontífice o mais rápido possível, mas sem os devidos cuidados.

Editora-chefe de Mídias Sociais do O POVO, Glenna Cherice procurou o ombudsman ao longo da última semana apontando que a forma como o erro na foto foi abordado na coluna teve como premissa a hipótese da imagem “estar previamente preparada”, pelo fato de Parolin ser até então um dos favoritos ou “que houve uma corrida para O POVO ser o primeiro a publicar”, o que ela destaca não ter ocorrido nenhuma das situações.

“No momento da publicação, ao buscar pelo nome do novo papa na própria plataforma da (agência) AFP, o sistema retornou, de forma cruzada, imagens de outros religiosos. A publicação da imagem equivocada aconteceu dentro desse fluxo, com base em material de uma agência internacional reconhecida. Ainda assim, houve falha na checagem visual - uma confiança excessiva no sistema da agência, que no momento não associou claramente nomes às fotos. Assim que o erro foi identificado, a correção foi feita com agilidade”, destacou sobre a postagem que foi apagada.

“O erro foi, sim, lamentável, mas não decorre de pressa irresponsável, e sim de uma falha pontual no uso de uma fonte”, seguiu Glenna, lembrando que “nosso esforço segue sendo o de oferecer uma cobertura ágil, ética e transparente, mesmo diante dos imprevistos que fazem parte do jornalismo em tempo real”.

Em outra nota da coluna, apontei mais um erro em postagem do Instagram. No caso, um vídeo que tinha no título uma informação enganosa, chamando para o momento no qual Prevost foi eleito pelos colegas cardeais. As imagens mostravam momentos posteriores à escolha e a publicação com o título errado não foi apagada, tendo apenas a legenda retificada.

“Há diferentes formas de registrar um ‘erramos’ em tempo real, especialmente nas redes sociais. A postagem com o título impreciso foi mantida, mas com uma correção clara na legenda, que contextualiza corretamente as imagens e explica que se tratam de cenas posteriores à eleição, com o novo papa já acolhido pelos cardeais. Consideramos, nesse caso, que apagar o conteúdo poderia ser mais danoso do que transparente - já que o vídeo já estava em circulação e com alta repercussão. Por isso, optamos por ajustar a legenda e manter a peça no ar”, argumentou.

Discordo de Glenna nesse aspecto. A alta repercussão pode justamente ser atribuída em boa parte ao título que, apesar de errado, era atraente aos seguidores. O fato de ele ter muitas visualizações não serve como justificativa para a persistência de um erro, mesmo que na lateral seja feita uma ressalva de correção.

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