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A mentira contada pelo rei do ovo e desmentida este mês
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Sou jornalista de formação. Tenho o privilégio de ter uma vida marcada pela leitura e pela escrita. Foi a única coisa que eu fiz na vida até o momento. Claro, além de criar meus três filhos. Trabalhei como repórter, editora de algumas áreas do O POVO, editei livros de literatura, fiz um mestrado em Literatura na Universidade Federal do Ceará (UFC). Sigo aprendendo sempre. É o que importa pra mim

A mentira contada pelo rei do ovo e desmentida este mês

O aumento na renda dos brasileiros contribuiu para que o País deixasse o mapa da fome. De acordo com anúncio da FAO/ONU, o Brasil está abaixo do patamar de 2,5% da população com risco de subnutrição
Personagem da Série Retratos do Bolsa Família. Antônia Borges da Silva mostra como será o almoço de sua casa (Foto: fotos Aurélio Alves)
Foto: fotos Aurélio Alves Personagem da Série Retratos do Bolsa Família. Antônia Borges da Silva mostra como será o almoço de sua casa

Uma das notícias mais importantes deste início de semana é a despedida do Brasil do Mapa da Fome – e espero que não seja temporária. Li também neste O POVO que 1 milhão de pessoas haviam deixado o Bolsa Família em julho, devido ao incremento na renda familiar.

A informação vai de encontro à mentira que é tão repetida por pessoas muito desinformadas neste país, incluindo o dono de um salão nas redondezas onde eu moro e o chamado rei do ovo, o empresário Ricardo Faria, da Global Eggs, uma das maiores distribuidoras de ovo nos Estados Unidos.

Em junho passado, esse rapaz nascido no Brasil, mas com cidadania fiscal uruguaia, e morando no exterior, disse que “contratar no Brasil é uma desgraça porque as pessoas estão viciadas em Bolsa Família”. O discurso de Ricardo Faria me chamou atenção pela semelhança do que escuto do dono de um salão próximo à minha casa.

A rotatividade de pessoas no lugar é algo que você não tem noção. E a queixa é que “ninguém mais quer trabalhar, só quer saber de bolsa família”. Detalhe: o salão funciona de segunda a domingo das 8h às 19h. Na mentalidade desse empresário, se ele oferece trabalho todo dia nesse ritmo, por que não aproveitar? “Boa manicure não fica sem dinheiro”, é o mantra do moço.

Trocando em miúdos parece se passar o mesmo na cabeça do empresário Ricardo Faria ao afirmar que, no País, as pessoas preferem o Bolsa Família e que nos Estados Unidos, ele sai à rua e encontra trabalhador. Certamente que as manicures do salão com nome estrangeiro todo pomposo não querem se submeter às condições absurdas do lugar que inclui trabalhar de sol a sol os sete dias da semana.

Se está faltando empregador nas granjas da Global Eggs no Brasil como serão o salário e as condições de trabalho oferecidas? Como ele conquista no mercado novos trabalhadores e os mantêm? Infelizmente essa informação crucial, ele não revelou.

Preferiu fazer a comparação vantajosa aos Estados Unidos, omitindo que são justamente algumas das criaturas que ele encontra na rua que o presidente Donald Trump está expulsando do ex-país do sonho, atual lugar de pesadelo.

Um dos capítulos mais interessantes e tristes da História do Pensamento Econômico é a história do trabalho. A remuneração e toda a ordenação do trabalho a partir do início do sistema industrial no século XVIII, visto com muito entusiasmo por aqueles que só enxergam progresso, máquinas e dinheiro, contém pessoas. Na verdade, milhares de crianças.

Foi necessário quase um século para que os trabalhadores tivessem condições mínimas de vida, incluindo a redução da jornada. Isso na Europa. No Brasil de hoje ainda tem gente que propaga que viver de Bolsa Família é melhor do que trabalhar de forma digna.

Veja reação de Lula ao ser informado que Brasil deixou o mapa da fome: "Uma missão de vida"

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