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Cultura do estupro: as mulheres sobrevivem em um filme de terror
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Sara Oliveira é repórter especial de Cidades do jornal O Povo há 10 anos, com mais de 15 anos de experiência na editoria de Cotidiano/Cidades nos cargos de repórter e editora. Pós-graduada em assessoria de comunicação, estudante de Pedagogia e interessadíssima em temas relacionados a políticas públicas. Uma mulher de 40 anos que teve a experiência de viver em Londres por dois anos, se tornou mãe do Léo (8) e do Cadu (5), e segue apaixonada por praia e pelas descobertas da vida materna e feminina em meio à tanta desigualdade.

Sara Oliveira comportamento

Cultura do estupro: as mulheres sobrevivem em um filme de terror

Vítima de estupro em Fortaleza sobreviveu ao crime. É assim que grande parte das mulheres se sente, sobrevivendo em um filme de terror
Vítima alega que crime foi cometido por motorista de um Onix branco (Foto: Reprodução/Via Whatsapp O POVO)
Foto: Reprodução/Via Whatsapp O POVO Vítima alega que crime foi cometido por motorista de um Onix branco

“Ser mulher é viver um filme de terror”. A legenda compartilha a história de uma mulher que, depois de sair do trabalho, foi perseguida, importunada, ameaçada e estuprada.

Com o suspeito, foi encontrado o carro filmado seguindo a vítima e, no veículo, facas, arma de fogo, preservativos, apetrechos sexuais, lenços umedecidos e sabonete.

O homem já havia sido denunciado pelo Ministério Público do Ceará por importunação sexual, quando deu um tapa na nádega de uma motociclista e a chamou de “gostosa”. Crime aconteceu em junho.

A vítima dessa semana tinha acabado de descer do ônibus e seguia por alguns quarteirões até chegar em casa.

Imagens de câmeras de segurança do entorno mostram quando o veículo a acompanha de forma lenta pela via.

A cena - uma trabalhadora, sozinha, caminhando, à noite, coloca qualquer mulher na mesmíssima situação de vulnerabilidade. 

A descrição do modus operandi do crime, que inclui ameaça aos filhos, à vida, medo e violência, pode ser imaginada e temida pela grande maioria das mulheres.

Crimes sexuais são recorrentes em uma sociedade que, ainda, não consegue reduzir os impactos da cultura do estupro, que culpabiliza a vítima, objetifica o corpo feminino e minimiza a violência. 

Como aquela mulher chegou em casa? O que ela disse às crianças? Como acordou? E a dor? E o corpo? E o trabalho? Quando a sociedade vai entender que mulheres são vulneráveis apenas por serem mulheres?

E que isso não apenas nos coloca como alvo, mas principalmente, nos mostra como a certeza de impunidade e a necessidade de sobrevivência sustentam ações predadoras da violência sexual.

A atriz e apresentadora Tatá Werneck falou sobre essa cultura do estupro ao revelar que sofreu abuso sexual.

Ela lembrou que quando questionada sobre por que não reagiu, não gritou, não denunciou, destacou que era “qualquer coisa para sobreviver”. É assim que grande parte das mulheres se sente, sobrevivendo em um filme de terror.

Todas as vezes em que saem de casa, mas principalmente dentro dela. As mulheres estão sobrevivendo à violência, à desigualdade, ao abuso, às barreiras impostas, à não valorização profissional, aos assédios, ao retrocesso, à falta de direitos e políticas.

A vítima do estuprador do Henrique Jorge precisou sobreviver àquela noite e seguirá sobrevivendo.

Um dos fatores que faz com que “a vida da mulher seja um inferno” está estabelecido pela certeza de impunidade.

Homens são protegidos pela sociedades, pelas famílias, pelos poderes, pelo machismo estrutural que nos cerca. 

Com isso, os crimes sexuais encontram uma sequência de realidades que facilitam o cometimento e, na grande maioria das vezes, sem denúncias ou punições. 

Foto do Sara Oliveira

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