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Como não tremer na hora do clutch? Psicólogo ex-Loud detalha técnicas de performance
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Wanderson Trindade é coordenador da Central de Dados e repórter do O POVO+, com uma paixão declarada por contar as histórias de quem faz a indústria dos jogos eletrônicos acontecer. Especializado na cobertura do universo dos games no Ceará, no Brasil e no mundo, acompanha de perto tanto o cenário competitivo quanto o desenvolvimento de jogos. Autodescrição: Homem pardo de cabelos ondulados, Wanderson aparece na foto usando óculos e fones de ouvido, com um sorriso no rosto que traduz sua energia e entusiasmo pelo tema.

Como não tremer na hora do clutch? Psicólogo ex-Loud detalha técnicas de performance

Situação de um contra vários adversários exige mais do que reflexos: pede controle emocional. No e-sport, a diferença entre o herói e o vilão pode estar em milissegundos, e em como o cérebro reage ao estresse. Psicólogo ex-Loud detalha técnicas para transformar ansiedade em concentração durante os momentos decisivos
Bruno Garcia passando últimas mensagens para os jogadores da Loud de Valorant antes do começo das partidas durante o Champions de 2022. Na foto da esquerda para direita: Sacy, Bruno, Bzka, Saadhak e Aspas (Foto: Colin Young-Wolff/Riot Games)
Foto: Colin Young-Wolff/Riot Games Bruno Garcia passando últimas mensagens para os jogadores da Loud de Valorant antes do começo das partidas durante o Champions de 2022. Na foto da esquerda para direita: Sacy, Bruno, Bzka, Saadhak e Aspas

O cronômetro se aproxima do zero, os companheiros de equipe já caíram e as câmeras da transmissão se voltam para um único jogador. É o clutch, situação clássica dos games de tiro em primeira pessoa (FPS) como Valorant e Counter-Strike, onde tudo está em jogo, o round, a partida, às vezes o campeonato inteiro; e apenas uma pessoa tem a chance de decidir o destino: você.

Para quem está assistindo, é um espetáculo especial. No entanto, para quem está jogando, essa é uma prova de fogo, um teste brutal de preparo da mente.

Psicólogo de performance com passagem pela equipe Loud campeã mundial de Valorant em 2022, Bruno Garcia explica que o clutch é, possivelmente, o momento mais desafiador emocionalmente dentro de uma partida. “Você está sozinho. Sabe que tem várias pessoas assistindo. E sabe que qualquer movimento errado pode custar o jogo. É natural sentir ansiedade”, afirma.

Até atletas de elite do futebol que se arriscam no FPS, como Neymar e Casemiro, já chegaram a relatar que sentiam mais nervosismo em situações assim do que quando disputavam partidas oficiais de campeonatos, em estádios lotados.

Conhecidos por serem fãs de Counter-Strike, Neymar e Casemiro já chegaram a relatar muito nervosismo durante momentos de clutch(Foto: Instagram)
Foto: Instagram Conhecidos por serem fãs de Counter-Strike, Neymar e Casemiro já chegaram a relatar muito nervosismo durante momentos de clutch

A pressão do clutch ativa os sistemas de alerta do corpo, elevando batimentos cardíacos, contraindo músculos e afunilando a visão, que são sintomas típicos da ansiedade. Mas o segredo não estaria em “eliminar” o nervosismo. Bruno explica que a ansiedade pode ser, na verdade, muito útil para os players.

A ansiedade te coloca em estado de alerta. Mas se você não souber controlá-la, ela te paralisa ou faz você agir por impulso

A psicologia de performance atua justamente nesse ponto: ajudar o jogador a criar ferramentas mentais para que, no calor da partida, consiga manter o foco, tomar boas decisões e não travar.

Técnicas como respiração diafragmática, reset visual e autoconversa são parte desse arsenal. “Respirar de forma profunda e consciente, inspirando por quatro segundos e expirando por oito, por exemplo, já começa a ativar o sistema parassimpático, responsável pelo relaxamento”, detalha.

Outro recurso usado por atletas profissionais é o reset postural e visual. Fechar os olhos por alguns segundos ou deslocar o olhar para a visão periférica pode interromper o ciclo de tensão.

“É como reiniciar o sistema. O Aspas, por exemplo, faz isso entre rounds”, diz Bruno, referindo-se ao ex-jogador da Loud e atualmente na MiBR. Esses pequenos gestos ajudam o cérebro a sair do modo “luta ou fuga” e voltar ao estado de execução.

Entre os melhores jogadores do mundo, Aspas utiliza ao longo das partidas, nas pausas, uma técnica de relaxamento chamada "reset", que envolve deitar, colocar os braços atrás da cabeça e fechar os olhos(Foto: Riot Games)
Foto: Riot Games Entre os melhores jogadores do mundo, Aspas utiliza ao longo das partidas, nas pausas, uma técnica de relaxamento chamada "reset", que envolve deitar, colocar os braços atrás da cabeça e fechar os olhos

Segundo Bruno, no entanto, não basta agir apenas no momento da crise. A construção de uma mentalidade preparada para o clutch começa muito antes da partida.

“Trabalhamos o foco no que está sob controle: meu posicionamento, meu tempo de reação, minha leitura de jogo. Tirar o foco do resultado e da opinião dos outros é essencial”, afirma o psicólogo. Esse treinamento ajuda o jogador a criar uma “bolha psicológica”, uma blindagem contra ruídos externos, como torcida, redes sociais ou o medo do erro.

A autoconversa, que é aquilo o atleta diz a si mesmo antes e durante a jogada, também é treinável. Frases de reforço positivo, visualizações de sucesso e rotinas de ativação ajudam a mente a não entrar em espiral negativa. “A ideia é que, quando chegar o clutch, o cérebro reconheça aquele momento como parte do plano. Não como uma ameaça inesperada”, resume.

Bruno lembra ainda que essas técnicas não são exclusivas de atletas profissionais. Elas podem (e devem) ser aplicadas por qualquer jogador que queira melhorar seu desempenho. Para ajudar players, o psicólogo disponibiliza por meio da plataforma Mentalplay conteúdos gratuitos para quem deseja começar o treino mental em casa, com rotinas simples que ajudam a associar o ato de jogar à performance e não apenas ao lazer desorganizado.

 

Técnicas práticas para lidar com a pressão durante as partidas

Para gerenciar a ansiedade e a pressão em momentos como o clutch, a psicologia de performance utiliza técnicas baseadas em ciência. Bruno Garcia detalha algumas abordagens:

 

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