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A força mental decisiva no histórico mundial de Valorant da Loud em 2022
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Wanderson Trindade é coordenador da Central de Dados e repórter do O POVO+, com uma paixão declarada por contar as histórias de quem faz a indústria dos jogos eletrônicos acontecer. Especializado na cobertura do universo dos games no Ceará, no Brasil e no mundo, acompanha de perto tanto o cenário competitivo quanto o desenvolvimento de jogos. Autodescrição: Homem pardo de cabelos ondulados, Wanderson aparece na foto usando óculos e fones de ouvido, com um sorriso no rosto que traduz sua energia e entusiasmo pelo tema.

A força mental decisiva no histórico mundial de Valorant da Loud em 2022

Mais do que mira afiada e táticas ensaiadas, a Loud contou com um diferencial invisível em sua campanha histórica no Valorant Champions 2022. O trabalho psicológico liderado por Bruno Garcia foi crucial para blindar a equipe da pressão e fortalecer sua resiliência emocional. No silêncio dos bastidores, a mente foi treinada tanto quanto os reflexos, e isso fez toda a diferença
Time da Loud campeão do Valorant Champions de 2022. Da esquerda para direita: Erick Aspas, Gustavo Sacy, Matias Saadhak, Felipe Less e Brian pANcada (Foto: Colin Young-Wolff/Riot Games)
Foto: Colin Young-Wolff/Riot Games Time da Loud campeão do Valorant Champions de 2022. Da esquerda para direita: Erick Aspas, Gustavo Sacy, Matias Saadhak, Felipe Less e Brian pANcada

Em 2022, a Loud entrou para a história ao vencer o Valorant Champions e colocar o Brasil no topo dos e-sports mundial. Mas, além da mira afiada e das táticas bem executadas, havia um fator menos visível que fez toda a diferença: o preparo mental. Com o apoio do psicólogo Bruno Garcia, a equipe soube lidar com a pressão, manter o foco e encontrar equilíbrio mesmo nos momentos mais difíceis. Foi nos bastidores, longe das câmeras e do palco, que a base da conquista foi construída.

A formação de Gustavo "Sacy", Matias "Saadhak", Felipe "Less", Erick "Aspas" e Bryan "pANcada" mostrou desde cedo seu potencial. Sob o comando técnico de Matheus "bzkA", a equipe venceu de forma invicta os dois VCT Challengers Brazil (campeonatos brasileiros da modalidade), consolidando sua hegemonia nacional.

Apesar disso, o cenário internacional revelava-se desafiador. No Masters Reykjavík, a Loud chegou à final, mas foi superada pela OpTic Gaming. No Masters Copenhagen, caiu precocemente contra a mesma OpTic. Esses altos e baixos testaram a força mental do elenco.

O auge veio no Valorant Champions, principal torneio do ano, quando a equipe reencontrou a OpTic na grande final. Desta vez, a Loud se impôs com autoridade, vencendo por 3 a 1 e assegurando o primeiro título mundial de Valorant para o Brasil. O retrospecto da temporada foi impressionante: 30 vitórias e apenas 4 derrotas.

Por trás do desempenho técnico, o preparo emocional fez a diferença. Segundo o psicólogo Bruno Garcia, o cenário competitivo dos e-sports é “muito cognitivo” e exige dos atletas um tipo específico de resiliência mental. E, ao contrário de gerações anteriores, os jogadores atuais são “mais abertos” a tratar da saúde mental e do desempenho psicológico como parte integrante da performance.

Dentre os principais desafios enfrentados, a pressão externa se destacou. Representar o Brasil no exterior traz consigo uma carga emocional elevada, alimentada por expectativas da comunidade e pela exposição constante nas redes sociais. Na época da competição, Less e Aspas tinham apenas 17 e 19 anos, respectivamente, por exemplo.

Título inédito do campeonato internacional do FPS da Riot foi conquistado em Istambul, na Turquia(Foto: Valorant Brasil / Divulgação)
Foto: Valorant Brasil / Divulgação Título inédito do campeonato internacional do FPS da Riot foi conquistado em Istambul, na Turquia

Para blindar a equipe de tudo que poderia vir de fora, Garcia conta que foi implementada a criação de uma “bolha interna”, com foco total no que estava sob controle do grupo. “Se você joga pensando no que está fora, no que não dá pra controlar, não consegue jogar no presente”, explica.

A rotina da Loud incluía conversas matinais e francas, sem o uso de celulares, buscando sempre fortalecer a confiança mútua. Era ali que se definiam as metas diárias, ajustando o foco coletivo para o que realmente importava. Essa prática sustentou um equilíbrio emocional vital: a equipe não se deixava levar demais pelas vitórias, nem desabar nas derrotas.

Além disso, técnicas específicas de respiração e relaxamento foram incorporadas à rotina dos atletas. Um exemplo emblemático é o de Aspas, que adotou um “reset mental” pessoal: fechar os olhos, aliviar a tensão do corpo e trazer o foco de volta ao momento presente. Treinar o sistema parassimpático, responsável pelo relaxamento, permitiu aos jogadores manterem a calma mesmo sob estresse extremo — um diferencial em partidas acirradas.

Bruno Garcia abraça Erick Aspas após a conquista da Loud do Champions 2022 de Valorant, em Istambul, na Turquia(Foto: Lance Skundrich / Riot Games)
Foto: Lance Skundrich / Riot Games Bruno Garcia abraça Erick Aspas após a conquista da Loud do Champions 2022 de Valorant, em Istambul, na Turquia

Esse preparo se refletiu em jogos decisivos, como no duelo contra a Leviatán, nos playoffs. No mapa Icebox, a Loud perdia por 12 a 6. A virada parecia improvável. No entanto, a equipe venceu oito rounds consecutivos, fechando em 14 a 12. Bruno Garcia destaca que, mesmo sob pressão, a comunicação seguiu fluida e eficiente. A remontada deu moral e embalo para a vitória no segundo mapa, consolidando a classificação.

A atuação da psicologia esportiva não se limitou à preparação individual. Conflitos internos foram mediados, a comunicação foi aprimorada e o foco nos “pontos de convergência” — aquilo em que todos concordavam — manteve o time coeso. “Se você foca nas divergências, o time não anda”, afirma Bruno, que classifica a Loud de 2022 como uma das equipes mais resilientes com as quais já trabalhou.

A atuação de Bruno não se restringia ao preparo individual. Ele afinava a comunicação interna e redirecionava o foco do grupo para os pontos de convergência. “Se a gente focar nos pontos de divergência o time não anda”, afirma. Seu trabalho ajudou a manter a coesão mesmo nas situações mais adversas — e a Loud, que já contava com atletas abertos à escuta, encontrou nisso um diferencial competitivo.

O trabalho invisível, mas fundamental, da psicologia esportiva se revelou um pilar essencial para o Brasil chegar ao topo do mundo no Valorant em 2022. “Para mim, ter feito parte disso e estar com jogadores tão abertos ao trabalho e ao treinamento mental me deixa muito orgulhoso, muito feliz e é algo que eu vou lembrar para sempre”, completa Bruno Garcia.

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