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Redação Enem 2020: Holocausto, para lembrar e não para esquecer
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Redação Enem 2020: Holocausto, para lembrar e não para esquecer

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Ilustração (Foto: Luciana Pimenta)
Foto: Luciana Pimenta Ilustração

No dia 27 de janeiro deste ano foi relembrado os 75 anos da libertação de prisioneiros no campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, o maior campo de concentração estabelecido pelos nazistas. A data havia sido estabelecida ainda em 2005 pela Organização das Nações Unidas como o Dia Internacional da Memória das Vítimas do Holocausto. 

“Essa memória precisa existir para que nunca mais haja a possibilidade de acontecer a perseguição por motivos raciais novamente”, destaca Franck Pierre Gilbert Ribard, professor do Departamento de História da Universidade Federal do Ceará (UFC). “Apesar de cada vez existir menos sobreviventes da época, há manifestações dessa lembrança em vários lugares do mundo. Desta forma, não creio que haja um esquecimento generalizado sobre o que tenha sido o Holocausto. Meu avô desapareceu em um campo de prisioneiros na Alemanha. Não era judeu mas era resistente. Ouvi falar muito desta história por minha avó. Mas certamente essa realidade é mais distante para meus filhos”, pontua.

“A questão é que a história está sendo relativizada ou revisionada por muitos grupos. Um exemplo desse revisionismo feito sem referência séria definiu recentemente o nazismo como uma ideologia de esquerda, o que não é verdade”, aponta.

Para Gleudson Passos, professor do Departamento de História da Universidade Estadual do Ceará (Uece), o Holocausto é um evento histórico que não foi esquecido. “Há vários memoriais na Europa e em Israel. É um marco na história da humanidade porque nunca haviam matado pessoas em escala industrial, e a Alemanha nazista alcançou esse objetivo como política de estado."

“A discussão sobre o Holocausto é um tema bastante atual porque políticas de extermínio como as da Alemanha nazista ainda existem em várias partes do mundo. Na África, houve o massacre de etnias em Uganda e Congo. E, no Brasil, estamos em processo de implementação de várias políticas públicas que poderiam ser consideradas como de extermínio de grupos, como as que estão sendo usadas contra os indígenas. Essas políticas estão acontecendo não na mesma proporção que o extermínio de judeus mas, de forma velada, promove o genocídio de um determinado grupo”, ressalta.

APOSTA DO ENEM
O tema dessa inforreportagem foi escolhido por professores que compõem a banca o concurso "Redação Enem: chego junto, chego a 1.000", uma realização da Fundação Demócrito Rocha (FDR). A partir deste tema, estudantes da 3ª série do Ensino Médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da rede de escolas públicas do estado do Ceará são convidados a escrever uma redação nos moldes do exame. Esta publicação é quinta da série que vinha sendo publicada às terças-feiras. Os temas passados foram: Desafios e perspectivas da educação a distância em tempo de isolamento social; A relevância da ciência para o mundo contemporâneo; As lições aprendidas pela sociedade em meio à pandemia do coronavírus; e Adolescência e o despertar para o exercício da cidadania

Afinal, o nazismo era de esquerda ou de direita?

Os atuais defensores do "nazismo de esquerda" costumam se basear no nome oficial da agremiação nazista, o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, ou NSDAP. Segundo os historiadores, a presença da palavra "socialista" era apenas uma estratégia eleitoral para atrair a classe trabalhadora e não tinha nada a ver com a linha ideológica do regime. “O nazismo foi financiado pelos proprietários de terra, pela antiga nobreza prussiana e pelos grandes empresários, ou seja, pela classe dominante identificada com a direita”, explica o professor Gleudson Passos.

O que significa o Holocausto

A palavra holocausto tem origem grega (holókaustos) e latina (holocaustum), e na história antiga nomeava o sacrifício religioso de animais pelo fogo. Após a Segunda Guerra Mundial, o termo ganhou um novo significado: “homicídio metódico de grande número de pessoas, especialmente judeus e outras minorias étnicas, executado pelo regime nazista”. O genocídio em massa - sistemático e organizado - faz parte da memória de sobreviventes dos campos de concentração. Lá, apenas duas possibilidades existiam para os inimigos do regime: trabalho forçado e extermínio. Mais de 200 estabelecimentos desse tipo foram criados por nazistas, dentro e fora de território alemão, durante as décadas de 1930 e 1940.

Fonte: Agência Brasil em “Descoberta de Auschwitz faz 75 anos”

Os números da tragédia

Calcular com exatidão o número correto de pessoas mortas como resultado das políticas nazistas é uma tarefa extremamente difícil. O que se segue são estimativas, as mais corretas possíveis, sobre os civis e soldados desarmados mortos pelo regime nazista e seus colaboradores. Essas estimativas foram calculadas a partir de relatórios do período da Guerra, feitos por aqueles que implementaram a política populacional nazista, e estudos demográficos de perda populacional durante a Segunda Guerra Mundial.

Número de mortes

- Judeus: 6 milhões

- Civis soviéticos: cerca de 7 milhões (incluindo os civis judeus soviéticos que já estão incluídos na estimativa acima para os judeus)

- Prisioneiros-de-guerra soviéticos: cerca de 3 milhões (incluindo cerca de 50 mil soldados judeus)

- Civis poloneses não-judeus: cerca de 1,8 milhão 

- Civis sérvios (no território da Croácia, Bósnia e Herzegovina): 312.000

- Pessoas com deficiências que viviam em instituições para lá serem cuidadas: até 250.000

- Ciganos: até 250.000

- Testemunhas de Jeová: cerca de 1.900

- Criminosos reincidentes e aqueles denominados como anti-sociais: pelo menos 70.000

- Alemães oponentes políticos e ativistas dos movimentos de resistência dentro dos territórios ocupados pelos países do Eixo: número indeterminado

- Homossexuais: centenas, possivelmente milhares (presumivelmente agregados de forma parcial dentre os criminosos reincidentes e aqueles denominados como anti-sociais, acima mencionados)

Fonte: Enciclopédia do Holocausto (Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos)

Para saber mais

Documentário
Campos de Concentração Nazistas
Nesse documentário, imagens reais e chocantes retratam alguns campos de concentração nazistas, como Buchemwald e Ohrdruf, após a libertação. Além disso, ele mostra os desafios que os prisioneiros enfrentavam no dia a dia. Disponível gratuitamente no YouTube.

HQ
Maus
Maus ("rato", em alemão) é a história de Vladek Spiegelman, judeu polonês que sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz, narrada por ele próprio. O livro é considerado um clássico contemporâneo das histórias em quadrinhos.

Drama histórico
A Lista de Schindler (1993)
Em A Lista de Schindler, acompanhamos a história do membro do partido nazista Oskar Schindler (Liam Neeson), conhecido por ser uma pessoa oportunista e simpática ao mesmo tempo. Mesmo envolvido com tanta crueldade, ele escolheu o outro lado e conseguiu salvar mais de mil judeus dos campos de concentração. Disponível na Netflix.

Livro
O Diário de Anne Frank
Livro escrito por Anne Frank, uma menina judia de 13 anos que se escondeu no porão de uma casa durante a ocupação nazista. Foi publicado em mais de 40 países e traduzido em mais de 70 idiomas, e vendeu mais de 35 milhões de cópias em todo o mundo, sendo 16 milhões só no Brasil.

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