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As epidemias que já cruzaram a história do Ceará
Ciência e Saúde

As epidemias que já cruzaram a história do Ceará

De enfermidades que lembram o cenário deixado pelo coronavírus a epidemias negligenciadas, o Estado passou por diversos momentos críticos para a saúde pública
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 (Foto: ilustração robson pires)
Foto: ilustração robson pires

Desde o final de 2019, o novo coronavírus tem mobilizado o mundo para entender o que é uma epidemia e o que pode ser feito. Os altos índices de transmissibilidade e o grande número de mortes despertam atenção e medo, como outras doenças já causaram em outros tempos. A partir do fim do século 19, o Estado passa situações epidêmicas. "Cada epidemia é um momento que não se repete, mesmo que uma doença atinja expressivamente mais de uma vez a mesma região. Mas é possível perceber que há padrões", afirma o historiador Jucieldo Ferreira.

"A situação do nordeste brasileiro é particular porque convivemos tanto com epidemias classicamente tropicais quanto com epidemias respiratórias que tendiam a ser típicas do Hemisfério Norte", explica o epidemiologista Antônio Lima. Segundo ele, que é gerente da Vigilância Epidemiológica de Fortaleza, o Ceará tem uma história de arboviroses entremeadas e sucessivas, mas muitas vezes negligenciadas. "Nós tivemos anos seguidos de epidemias de dengue e depois zika e chikungunya, mas quando você pergunta por epidemias, poucas pessoas vão lembrar delas."

Lima enfatiza ainda que "o impacto de uma epidemia não é só o que a doença causa, mas também o que você deixa de fazer em relação ao demais agravos de saúde". Em situações que demandam esforços para um quadro específico, cirurgias eletivas e consultas precisam ser suspensas, por exemplo. Efeitos positivos também podem surgir, como reestruturações de políticas públicas. O POVO conversou com especialistas e listou algumas epidemias que impactaram a história cearense.

 

Epidemias dos anos 1990

Já no fim do século XX, o Ceará voltou a ter de enfrentar uma epidemia de cólera que, na época, teve grande incidência em todos os estado do Nordeste. No Estado, a doença atingiu mais de 300 habitantes a cada 100 mil nos anos de 1993 e 1994. Somente nos primeiros quinze dias de 1994, a Secretaria de Saúde de Fortaleza registrou 3.542 casos de cólera, caracterizando um surto. No mesmo período foram notificadas quatro mortes provocadas pela doença. Durante o mês, a Cidade chegou a registrar até 300 novos casos por dia.

Em 21 de fevereiro, o então governador, Ciro Gomes, decretou estado de emergência na Capital, que até então registrava mais de 10 mil casos, 81% do total do Ceará e 70% do total do País. O cólera teria atingido tamanha proporção porque a água servida pela Companhia de Água e Esgotos (Cagece) tinha sabor salgado e a população passou a beber água de poços e cacimbas.

Em março desse mesmo ano, detectou-se a introdução da dengue tipo 2 que ocasionou uma epidemia com dezenas de casos de febre hemorrágica da dengue em Fortaleza. Epidemias da doença já vinham ocorrendo no Estado desde o fim dos anos 1980, mas causadas pelo sorotipo 1. Em 1986, foram registrados 75 casos a cada 100 mil habitantes; no ano seguinte, a incidência quintuplicou e chegou 375,4 casos/ 100 mil hab. Uma segunda onda foi registrada no biênio 1990/91, afetando 249 em cada 100 mil cearenses.

 

Epidemias controladas por vacinas

Além da varíola e da gripe H1N1, outras epidemias hoje estão facilmente controladas por vacinas. Entre as décadas de 1960 e 1980, a poliomielite ou paralisia infantil preocupava muitas famílias. Graças às campanhas de imunização da época e ao esquema vacinal contemporâneo, há 30 anos a doença não é registrada no País. Entretanto, quedas na cobertura vacinal têm chamado atenção para o risco de reintrodução da doença. O sarampo também está sob atenção diante de coberturas vacinais que estão reduzidas. Em agosto de 2019, a doença voltou ao Ceará após três anos livre do Measles morbillivirus. A doença já havia voltado de forma epidêmica em 2014, depois de 15 anos sem registros do vírus.

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