O setor de eventos está sendo um dos mais afetados pela pandemia do novo coronavírus. Enquanto 95% dos segmentos econômicos em Fortaleza já estão, aos poucos, retomando as atividades, ainda não há sequer previsão de quando será o retorno deste mercado, de grande efeito multiplicador na economia, mas que depende da reunião de pessoas para funcionar. A aglomeração é considerada uma das formas de maior potencial disseminação da Covid-19. Embora lives e eventos virtuais tenham se popularizado nos últimos meses, o retorno financeiro do formato ainda é pequeno e concentrado.
Leonardo Sinfrônio, empresário da Sinfrônio Produções e sócio da cantora Kátia Cilene, explica que o efeito da pandemia está sendo devastador no setor. Mesmo entre os grandes artistas, a dificuldade é grande.
No caso da cantora Kátia Cilene, por exemplo, que tinha uma média de 15 a 20 shows por mês — e em junho tinha uma média de 35 shows agendados em função do São João — a execução da agenda caiu para zero. E mesmo as lives, que tanto se popularizaram no período — a de maio, por exemplo, teve mais de 510,3 mil visualizações — são, nas palavras dele, mais para manutenção de imagem, do que fonte de renda.
"As lives não eram um hábito dos artistas, foi todo um trabalho para se reinventar, ajustar-se. Mas, em termos de retorno, não é a mesma coisa. Até porque fazer live exige toda uma estrutura por trás. É como se fosse a gravação de um DVD novo. É preciso contratar cinegrafista, sonoplasta, horas de estúdio para fazer repertório, porque diferentemente de um show, que é preparado para ser executado em diferentes cidades, na live, a gente está tocando para um público que já te segue e espera novidades", afirma Leonardo.
Ele, que é fundador da União Nacional das Bandas e Empresa de Eventos (Unbe), reforça que, mesmo esse recurso, com patrocínio de empresas privadas, é algo que está mais restrito aos artistas maiores. "Um artista pequeno tem mais dificuldade, aquela banda que costumava abrir o show, não tem a mesma repercussão de uma live de uma Kátia Cilene, um Wesley Safadão ou Xand Avião".
A quantidade de profissionais contratados para este tipo de evento, em torno de dez profissionais, tampouco se aproxima do potencial de geração de renda dos eventos presenciais. Ele explica que um show costuma movimentar diretamente entre 30 a 40 pessoas. Porém, quando se acrescenta à conta a demanda indireta gerada para empresas de segurança, montagem de palco, iluminação, bar, fast-food, o efeito multiplicador de contratações chega a ser dez, 20 vezes maior.
"São várias as famílias que perderam a renda e estão sem previsão de quando vão poder retomar. Hoje, 99% das bandas no Estado optaram por fazer desligamento dos funcionários porque era a única forma de a empresa continuar a existir e de as pessoas que tinham carteira assinada poderem acessar o seguro-desemprego e ter alguma renda. Além disso, as empresas do setor cultural, mesmo sem ter faturamento, não tiveram o mesmo benefício de suspensão de impostos de outros setores", diz.
No último dia 6, empresários, músicos e prestadores de serviços ligados ao setor de eventos realizaram uma carreata em Fortaleza pedindo o retorno das atividades no Ceará. O movimento, intitulado SOS Entretenimento, cobra dos poderes públicos estadual e municipal protocolos e um prazo para iniciar a retomada gradual da realização de eventos no Ceará.
"A nossa principal queixa é a falta de diálogo, de previsão. Colocam todos os eventos como se tivessem o mesmo potencial de aglomeração de um Réveillon na Praia de Iracema, e não é assim", explica Raquel Parente, organizadora de eventos e cerimonialista.
Segundo ela, a categoria pleiteia o retorno inicial dos pequenos eventos, de 30, 50 pessoas, e, gradualmente, com os protocolos, ir avançando na capacidade. "Vamos aceitar a quantidade que vier, as regras que vierem, o que queremos é poder recomeçar. E o setor de eventos sabe seguir protocolos como ninguém", observa.
Por enquanto, ainda não há previsão de retorno. No último dia 7, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), anunciou que, no decreto que entrou em vigor em todas as regiões do Ceará, vai permanecer nas mesmas fases do plano de retomada econômica.
Mas afirmou em suas redes sociais que a equipe do Governo, amparada pelo comitê formado por profissionais da saúde, Ministério Público e demais Poderes, continua fazendo avaliações e mantendo contato com os setores ainda não autorizados ao funcionamento, como eventos, bares e cinemas, analisando caso a caso.
"Para que todas as decisões sejam tomadas de forma segura e responsável, e para que não haja piora do cenário, que vem apresentando avanços semana a semana. Nossa prioridade absoluta será sempre proteger vidas. É fundamental que todos colaborem, sempre usando máscara e evitando aglomerações", afirmou o governador.