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Governo prorroga auxílio emergencial de R$ 300 até dezembro
Reportagem

Governo prorroga auxílio emergencial de R$ 300 até dezembro

| Estratégia | Segundo especialistas, continuidade do auxílio emergencial, visto como tática de manutenção de popularidade do presidente Jair Bolsonaro, ainda será capaz de manter imagem positiva do governo
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PRESIDENTE Jair Bolsonaro anunciou prorrogação do auxílio ao lado de Paulo Guedes e outros ministros e parlamentares (Foto: Marcos Corrêa/Presidência da República)
Foto: Marcos Corrêa/Presidência da República PRESIDENTE Jair Bolsonaro anunciou prorrogação do auxílio ao lado de Paulo Guedes e outros ministros e parlamentares

Em anúncio realizado ontem pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o Governo Federal decidiu prorrogar o auxílio emergencial a trabalhadores informais, desempregados e beneficiários do Bolsa Família até o fim deste ano. Agora, serão mais quatro parcelas de R$ 300 (setembro a dezembro). Para mexer no valor, o governo pretende editar uma Medida Provisória (MP), que tem vigência imediata.

"Podemos dizer que não é um valor suficiente muitas vezes para todas as necessidades. Mas basicamente atende", afirmou o presidente. O auxílio emergencial foi criado originalmente para durar três meses (tendo como base os meses de abril, maio e junho). Depois, o governo prorrogou por duas parcelas (julho e agosto) por meio de um decreto. O valor de R$ 600 foi mantido em todo esse período e reduzido pela metade com a renovação anunciada ontem.

Linha do tempo auxilio emergencial

A estimativa é que a renovação do benefício deve impor à União mais 100 bilhões de gastos públicos até dezembro de 2020. Além disso, o auxílio emergencial é a medida mais cara do pacote anti-crise e demanda R$ 254,4 bilhões em recursos, considerando as cinco primeiras parcelas para mais de 67 milhões de pessoas.

Todavia, o recurso é visto como um dos fatores que fizeram o presidente atingir, em agosto, o maior índice de popularidade desde o início do governo.

Para o cientista político e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da UFC, Cleyton Monte, os indicadores positivos de popularidade em torno do auxílio justificam a manutenção até agora.

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"Os grupos de classe média que apoiaram o presidente se afastaram. Então ele encontrou um nicho muito importante que são os grupos muito impactados pelo lulismo. Acho difícil ele abrir mão dessa possibilidade de ter um grupo muito grande, ainda mais o governo olhando para o cenário de eleições municipais", avalia o cientista.

Segundo Cleyton, a redução no valor atrasará processo de recuperação econômica brasileira, já projetada apenas para o segundo semestre de 2021. "Acho que não foi o momento correto de reduzir. Já que o governo tinha autorização de extrapolar o teto, acho que haveria margem sim de manter o auxílio tal qual havia sido iniciado até dezembro e que se pensasse outras estratégias a partir de janeiro", diz.

A alteração dos valores pagos no benefício revela o embate entre a ala do governo que busca melhores estratégias de popularidade presidencial e a do setor econômico, ligado ao ministro da Economia Paulo Guedes, que defende um maior rigor fiscal.

PRESIDENTE Jair Bolsonaro anunciou prorrogação do auxílio ao lado de Paulo Guedes e outros ministros e parlamentares
Foto: Marcos Corrêa/Presidência da República
PRESIDENTE Jair Bolsonaro anunciou prorrogação do auxílio ao lado de Paulo Guedes e outros ministros e parlamentares

Segundo Cleyton, apesar da tensão - até agora negada pelo ministro - haverá dividendos políticos para o Governo Federal. "Ele vai tentar vender a tese que a culpa da estagnação econômica foi de governadores e prefeitos, que fez o possível com os 300 reais" projetou.

Também pesquisadora do Lepem-UFC, Monalisa Torres corrobora com a tese. Segundo ela, a preocupação neste momento do Planalto é de "manter a tendência de crescimento de popularidade", a qual não será tão impactada, mesmo com a redução do valor do auxílio.

"Não acredito que essa redução tem impacto significativo na queda de popularidade. Ele vai conseguir manter estáveis os índices de popularidade a partir da permanência desses recursos", afirma.

Em meio à crise no País, o potencial pragmático do auxílio em resolver dificuldades financeiras e manter certos padrões de vida da população ainda garante ao Governo Federal sustentação em camadas que, historicamente, não possuía capilaridade.

"É um momento onde se paralisam as atividades econômicas que já vinham numa sequência de crescimento tímido. Óbvio que aquele que recebe acaba vendo com bons olhos e acaba associando a melhoria da sua vida ao governo Bolsonaro", explica Monalisa.

 

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