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Decisão de operar Termoceará com diesel aumenta em três vezes os custos
Economia

Decisão de operar Termoceará com diesel aumenta em três vezes os custos

A estatal emitiu nota afirmando que a transferência do navio de gás do Pecém para a Bahia permite atendimento das termelétricas a gás do Sul e Sudeste
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Primeira molécula de hidrogênio verde do Ceará foi produzida no Pecém (Foto: Divulgaçao)
Foto: Divulgaçao Primeira molécula de hidrogênio verde do Ceará foi produzida no Pecém

A decisão da Petrobras de manter a suspensão do abastecimento de gás natural liquefeito (GNL) e abastecer a Termoceará com diesel para produção de energia elétrica deve contribuir com aumento dos custos de produção em pelo menos três vezes. A companhia emitiu nota ontem respondendo às críticas sobre a retirada do navio de regaseificação do Terminal de GNL do Porto do Pecém para a Bahia. A estatal frisa que a suspensão do abastecimento foi uma estratégia da companhia e que está garantindo o abastecimento de diesel para operação da Termoceará, a usina termelétrica operada pela companhia no Estado.

Os critérios para operação da termelétrica com óleo diesel já foram estabelecidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) tendo como base preços de junho de 2021. O Custo Variável Unitário (CVU) será de R$ 1.551,12 MW/h. O valor deve ser reajustado mensalmente. De acordo com Bruno Iughetti, consultor das áreas de Petróleo e Gás e presidente do Sindicato das Agências de Navegação Marítima e dos Operadores Portuários do Estado do Ceará (Sindace), a operação da térmica com óleo diesel em detrimento do gás natural, além de poluir muito mais o ambiente, gera custos maiores, aproximadamente três vezes maior, estima.

"Houve uma precipitação por parte da Petrobras. Estamos enfrentando uma crise hídrica e por isso é necessário ativar as térmicas. A Petrobras não poderia preterir o Ceará", destaca.

Bruno ainda destaca que o maior custo na produção de energia na indústria deve refletir no preço dos produtos ao consumidor final. "Isso representa um custo muito alto para que a gente não tenha que sofrer as consequências nas contas de energia elétrica. E isso deve acarretar em mais aumento de custos para todos os consumidores, pois os custos extras na indústria serão repassados".

O navio regaseificador Golar Winter, da Petrobras, operava com exclusividade no píer 2 do Terminal de GNL. Esse abastecimento beneficiava não só a operação da Termoceará, mas permitia o fornecimento de gás natural que atendia à demanda das usinas termelétricas do Ceará, além do Piauí e do Rio Grande do Norte.

Ainda segundo a Petrobras, a decisão ocorreu para que fosse reforçada a capacidade dos terminais da Bahia (TR-BA) e do Rio de Janeiro (TR-RJ).

O TR-RJ até foi ampliado recentemente, de 20 milhões de metros (m³) por dia para 30 milhões de m³/dia. Ainda houve aumento da importação de GNL, agora chegando mais 14 navios por mês, e a flexibilização pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) da especificação do gás processado na unidade de tratamento de Caraguatatuba e a interligação das Rotas 1 e 2 de escoamento de gás do pré-sal.

Além das medidas em vigor, "a companhia ainda negocia um novo contrato interruptível com a Bolívia" e avalia alternativas para "disponibilidade de um terceiro navio regaseificador" para ampliar a capacidade brasileira em GNL.

Ao O POVO, o titular da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará (Sedet), Maia Júnior, externou no início do mês o descontentamento com a Petrobras e com o Ministério de Minas e Energia pela forma como a questão foi tratada.

Isso porque o navio deixou o píer 2 do Terminal GNL do Porto do Pecém em março e desde então a companhia se manteve em silêncio sobre a retomada após descumprir o prazo que havia dado ao Estado, ainda naquele mês. A resposta oficial do porquê somente vem agora, mais de cinco meses depois da saída.

"Foi uma escolha (do Ministério de Minas e Energia) que nem foi comunicada ao Estado. O que eu vou dizer para esse investidor que investiu bilhões de dólares nessas termelétricas do Ceará?", reclamou Maia.

"Isso é uma insegurança! O que é que eu vou dizer aqui para a Mitsui, que comprou uma parte da empresa do Estado (Cegás) e em outros estados também. "Te vira, negão?". Porque a minha exigência como Estado é que você precisa garantir abastecimento de gás na indústria, residências. O que eu digo para os investidores que compraram automóveis a gás neste País se não tiver garantia de gás? O que eu digo para os investidores que operam termelétricas no Ceará? A Petrobras retira o seu navio de suprimento de gás do Porto do Pecém sem dizer nada ao Estado", afirmou.

Na nota desta quinta-feira, 19, a Petrobras explica que a transferência permite o atendimento da demanda do Sudeste e do Sul.

"A transferência do navio de Pecém para a Bahia permite o atendimento de UTEs do Sudeste e Sul (UTEs Arjona e Araucária, total de 650 MW), o que, juntamente à geração a diesel na UTE Termoceará (200 MW) mais que compensa as indisponibilidades temporárias no Nordeste (cerca de 750 MW), provendo capacidade de cerca de 100 MW a mais durante o período do reposicionamento."

Iughetti considera como única solução para retomada plena do abastecimento de GNL no Pecém a Petrobras buscar no mercado internacional um novo navio regaseificador que substitua o que está atualmente na Bahia. Ele ainda acrescenta que esse é um "problema estrutural" que deveria ter tido maior atenção prévia. "É um problema estrutural e todo problema é estratégico também. Isso já deveria ter sido previsto há tempos atrás, para ter tempo de desenvolver soluções. Não adianta realocar, pois seria cobrir um santo para descobrir o outro."

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Bastidores

A questão da retirada do navio regaseificador do Porto do Pecém e a "imprevisibilidade" que isso gera, já faz com que a diretoria do Complexo do Pecém já busque alternativas. O contrato de exclusividade da Petrobras na operação do píer 2 segue até 2023. Nos bastidores, Pecém já busca novos parceiros.

Consumo

O consumo de gás natural no Brasil cresceu 33,7% no primeiro semestre, em comparação com o mesmo período de 2020, alcançando o volume de 72,051 milhões de metros cúbicos por dia (m³/d), segundo a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás). A alta foi influenciada pela maior demanda no segmento de geração de energia em termelétricas, e pela recuperação do setor industrial.

Linha do Tempo

2009: Inicia a operação da Petrobras no Pier 2, de forma exclusiva, na formatação do Terminal de Regaseificação de GNL. Primeiro terminal flexível de regaseificação de GNL no Brasil tem capacidade de transferir até 7 milhões de m³/dia para o Gasoduto Guamaré-Pecém (Gasfor).

Fevereiro de 2021: Cegás, distribuidora de gás natural no Estado, deixa de ser atendida com o fornecimento vindo do Terminal de GNL do Pecém a partir do dia 28. Segundo a companhia, a não operação do Terminal a impede de atender à demanda das usinas termelétricas.

Março de 2021: No dia 6, o navio regaseificador Golar Winter deixou o Pier 2. Em carta enviada à direção do Complexo do Pecém, a Petrobras marcava o retorno da embarcação e abastecimento de GNL para o dia 17. Segundo o Complexo do Pecém, "a embarcação citada não retornou na data".

Julho de 2021: Petrobras permanece em silêncio. Já o Complexo do Pecém informa que já está em negociação com outros interessados para operação de GNL no terminal, após o fim do contrato com a Petrobras em junho de 2023.

Agosto de 2021: No dia 5, representantes da Petrobras afirmam que não há previsão de retorno do navio ao Terminal de GNL do Pecém. Em resposta, no dia 19, a Petrobras divulgou que a retirada do navio foi estratégica e que garante o abastecimento de diesel para que a Termoceará produza energia através de óleo diesel.

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