Os custos dos consumidores na hora de tomar crédito imobiliário devem ficar maiores no Brasil em breve. Nesta semana, a Caixa Econômica Federal fez um ajuste pontual nos juros das linhas de financiamento imobiliário com recursos da poupança (SBPE). Depois disso, no último dia 2, foi a vez do Comitê de Política Monetária (Copom) elevar a taxa básica de juros da economia (Selic) para 10,75% ao ano. Os dois movimentos neste início de fevereiro fazem com que os demais grandes bancos avaliem rever suas taxas.
No caso da Caixa , os juros desta linha de financiamento subiu de 8,3% ao ano para 8,7% anuais, sempre acrescidos de TR (Taxa referencial).
Rafael Scodelario, especialista em aquisição de imóveis e CEO da Escodelar Inteligência Imobiliária, explica que esse movimento influencia o patamar de juros no mercado como um todo e posiciona a Caixa próximo às taxas praticadas pelos bancos privados.
Vale lembrar que, diferente dos demais bancos, a Caixa não modificou suas taxas no reajuste anterior da Selic, quando chegou a 9,25%. E o presidente do banco, Pedro Guimarães, afirmou no mês passado que a Caixa não iria modificar as taxas de juros. Porém, com esse reajuste, a menor taxa no financiamento imobiliário pertence ao Banco do Brasil (7,99% ao ano + TR).
Ontem, em evento da Caixa, Guimarães destacou que o banco dobrou o volume de crédito para habitação em janeiro com recursos próprios. No mês passado, esses financiamentos somaram R$ 11,6 bilhões, ante R$ 5,8 bilhões em janeiro de 2021.
Segundo Guimarães, a projeção do banco de R$ 150 bilhões em crédito neste ano já foi revisada para R$ 155 bilhões. "Crescemos em janeiro 100,7% em crédito imobiliário na comparação com janeiro de 2021", afirmou ele, no evento 'Democratizando o Acesso ao Crédito', organizado pela Caixa.
Para a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), apesar da curva ascendente da Selic ter como finalidade a contenção do aumento da inflação, a expectativa é de que esse movimento não impacte o crédito imobiliário e a cadeia de construção. "É importante que a elevação da Selic não impacte muito as taxas de crédito imobiliário, pois dessa forma é possível manter o poder de compra de quem está em busca de financiamento habitacional, instrumento fundamental em um setor tão importante para o Brasil como o imobiliário", afirma Luiz França, presidente da Abrainc.
No Ceará, o vice-presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci-CE), Rodrigo Costa, destaca que nos últimos dois anos os constantes aumentos de índices como a Selic, a inflação e o IGP-M trouxeram reflexos para os negócios no setor imobiliário.
"Se há um aumento da Selic, o banco tem que repassar isso ao consumidor. E isso já vem acontecendo. Vemos uma curva de crescimento dos juros, ainda que pequena, mas ainda não tão relevante para o setor, pois está sendo refletido em alta de 1 p.p. a 2 p.p. ao ano, então sem grandes impactos nas vendas. O mercado observa isso com naturalidade", afirma.
Além da Caixa, outro banco público que oferece esse tipo de crédito de maneira relevante no mercado, o Banco do Brasil informa que segue com sua taxa de juros partindo de 7,99% ao ano mais a TR. O percentual pode variar conforme o perfil do cliente, prazo do financiamento e relacionamento com o BB.
Ao O POVO, o Itaú Unibanco informou que as taxas vigentes para a linha de crédito imobiliário tradicional (taxa de juros pré-fixada) segue a partir de 9,1% ao ano do início ao fim do contrato, com atualização do saldo devedor pela TR. Já o Santander informa que sua atuação no financiamento imobiliário residencial segue com a taxa de juros que parte de 9,99% ao ano mais TR, ajustado em janeiro deste ano. A empresa ainda destaca que, entre dezembro de 2020 até agora, o patamar dos juros variou a partir de 6,99% ao ano, o que representa uma alta de 3 pontos percentuais (p.p.) em pouco mais de um ano. No mesmo período, a Selic chegou ao patamar mínimo de 2% e agora bateu os 10,75%.
O Bradesco afirma que "está avaliando" a possibilidade de alterações nas taxas após a revisão da Selic. Atualmente, o banco pratica na linha tradicional taxa de juros a partir de 9,5% ao ano mais a TR. Há ainda a opção de financiamento poupança.
CRÉDITO
A expectativa do mercado para 2022 é de menor oferta de crédito pelos bancos. A Pesquisa Febraban de Economia Bancária e Expectativas mais recente, destacou que o saldo das operações de crédito em 2021 cresceu patamar na casa de 13,9%, enquanto a previsão para 2022 é de 6,7%.