O bom período chuvoso no Ceará que fez com que o nível do Açude Castanhão chegasse a 15% (alcançando a marca de 1 bilhão de metros cúbicos), anima empreendedores do agronegócios cearense. A recuperação das reservas hídricas motiva também investimentos. O POVO apurou que a Itaueira Agropecuária deve retomar a produção de melão e melancia no Estado após precisar ir ao Rio Grande do Norte por conta da insegurança hídrica.
O CEO da Itaueira, Tom Prado, destaca que a empresa cearense, que é uma das gigantes brasileiras que produz frutas, hortaliças e sucos, além de camarão, deve retomar a produção em solo cearense a partir de 2023, em Morada Nova. O que motiva a volta é o melhor cenário de segurança hídrica do Ceará.
"Vamos voltar a plantar melão e melancia em Morada Nova. Já estamos tomando todas as providências para ficar tudo pronto em 2023. O principal já temos (água), agora é só organizar a casa para trazer a produção de volta", destaca o empresário ao O POVO durante o 3° Seminário Agrosetores, realizado ontem no Centro de Eventos do Ceará.
Enquanto a produção de melão e melancia foi para terras potiguares, a Itaueira manteve bases no Ceará com a produção de pimentão. Ainda há a unidade industrial de produção de sucos, onde beneficia caju e acerola.
Foi no Agrosetores que o presidente da Federação da Agricultura do Estado do Ceará (Faec), Amilcar Silveira, lançou o programa Sementes do Futuro, que definiu metas ousadas para os próximos 10 anos do agronegócio cearense. O plano destaca seis cadeias produtivas: agroindústria, pecuária, pesca e aquicultura, agroeconomia do mar, agricultura irrigada e agricultura de sequeiro.
O Sementes do Futuro define temas estratégicos, como competitividade, tecnologia e inovação, além de estratégias. O plano ainda define três atividades com grande potencial de desenvolvimento e define metas de valor de produção e exportação.
A primeira das culturas é a bovinocultura de leite, que atualmente tem valor bruto de produção (VBP) de R$ 1,9 bilhão. A Faec prevê potencial de chegar a R$ 4,2 bilhões em dez anos, além de iniciar exportação e conseguir US$ 20 milhões de rendimentos. Outra cultura é a carcinicultura (camarão), com previsão de salto de R$ 580 milhões em VBP para R$ 2,3 bilhões, como também voltar a exportar e conseguir US$ 480 milhões no mercado externo.
Maior destaque no agronegócio cearense, a fruticultura é o terceiro setor desse plano de metas. A expectativa é ter salto de VBP de R$ 2 bilhões para R$ 5,5 bilhões ao fim da década. E aumentar o valor exportado de US$ 80 milhões para US$ 500 milhões.
Amilcar enfatiza que somente os três principais setores devem fazer com que haja aumento de VBP da ordem de R$ 7,52 bilhões, praticamente quadruplicando o resultado, além de saltar dos atuais US$ 80 milhões em exportações para US$ 1 bilhão.
"É difícil prever os próximos dez anos, mas vamos ousar. A princípio, nós falamos em dobrar e exportar mais de US$ 100 milhões. (E, puxados pelo desempenho da) Fruticultura, que tem potencial de exportar US$ 480 milhões, é possível chegar a essas metas", destaca.
METAS DO AGRONEGÓCIO DO CEARÁ
Sementes do Futuro - 2022/2032
BOVINOCULTURA DE LEITE
VBP (R$ bilhões)
Atual: 1,9
Previsto: 4,2
Produção
Atual: 870 milhões de litros
Previsto: 2 bilhões de litros
Exportação
Atual: 0
Previsto: US$ 20 milhões
CARCINICULTURA
VBP (R$ bilhões)
Atual: 0,58
Previsto: 2,3
Produção
Atual: 60 mil toneladas
Previsto: 240 mil toneladas
Exportação
Atual: 0
Previsto: US$ 480 milhões
FRUTICULTURA
VBP (R$ bilhões)
Atual: 2
Previsto: 5,5
Exportação
Atual: US$ 80 milhões
Previsto: US$ 500 milhões
TOTAL
VBP (R$ bilhões)
Atual: 4,48
Previsto: 12
Exportação
Atual: US$ 80 milhões
Previsto: US$ 1 bilhão
Fonte: Faec
Produção de tilápia e garoupa saltará nos próximos anos
Produtores cearenses passaram a investir na criação de garoupa. Esse movimento se junta ao desenvolvimento da tilápia em cativeiro, que deve ser ampliado no Ceará. O secretário executivo do Agronegócio do Ceará, Sílvio Carlos Vieira Lima, disse que a crise hídrica minimizou a criação de tilápia de gaiolas em espelhos d'água, mas foram adotados novos manejos e tecnologias.
O executivo ainda destacou que as novas criações em reservatórios demandam menos água, diminuindo os custos. Outro ponto positivo é a alta demanda. Lima diz que a produção local não abastece totalmente a demanda cearense.
Com relação ao preço, outro ponto positivo, existe uma mescla com a criação de tilápia e garoupa. "O quilo da tilápia é R$ 8 e da garoupa é R$ 30. Com praticamente a mesma água temos uma agregação de valor", sinalizou Lima.
Estendendo a análise sobre o ganho de espaço no PIB local, ele destacou que existe potencial de melhora no desempenho do agronegócio.
"Já fizemos uma simulação e podemos aumentar pelo menos 20% apenas com boa gestão de recursos hídricos e eficiência do uso da água no agronegócio", finalizou.