O governador do Ceará Elmano de Freitas (PT) disse que a chegada da ferrovia Transnordestina ao Porto do Pecém, em São Gonçalo do Amarante (a 55 km de Fortaleza), prevista para acontecer em 2027 deve acelerar a criação de um mercado de amônia verde voltado para a produção de fertilizantes.
A declaração se deu em meio à perspectiva da liberação de novos recursos (da ordem de R$ 811 milhões) para a empresa responsável pelo empreendimento, pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).
O foco é a região conhecida como Matopiba, termo formado pelas abreviaturas dos estados Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. A região é grande produtora de grãos (notadamente de soja).
O ramal Eliseu Martins-Pecém da Transnordestina liga justamente o porto cearense à cidade piauiense.
“Na nossa avaliação, com a produção de grãos dessa região, nós vamos dobrar a movimentação de cargas que temos hoje no Porto do Pecém. E, evidentemente, esse trem que traz grãos poderá voltar com amônia verde para oferecer essa amônia aos produtores”, projetou o governador.
O produto serve tanto como meio para transportar o hidrogênio verde como de base para a fabricação de fertilizantes. Vale lembrar que o Brasil é um grande importador desses insumos.
O adjetivo verde aplicado tanto à amônia quanto ao hidrogênio faz referência à produção com energias renováveis, portanto, sem a emissão de gases causadores de efeito estufa.
“Isso é uma coisa muito importante para o hidrogênio verde do Brasil: iniciarmos o processo de garantia de um mercado interno para o produto. O primeiro mercado surge com o oferecimento de amônia verde para o agronegócio brasileiro. O Matopiba é uma região que produz muitos grãos para o nosso País, o que nos permite dessa maneira viabilizar e discutir com o governo federal a exigência de um percentual de amônia verde na utilização de fertilizantes”, defendeu Elmano.
A ferrovia Transnordestina teve obras iniciadas em 2007 e sofreu com uma série de paralisações ao longo desse período.
O projeto também sofreu alterações. Inicialmente, estavam previstos dois ramais, um ligando o Piauí ao Porto do Pecém e outro ao porto de Suape, localizado nos limites dos municípios de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife. Durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) optou-se pela construção apenas do ramal Pecém.
Contudo, o governo Lula acenou por mais de uma vez com a ideia de construir também o ramal Suape. A Transnordestina Logística S.A (TLSA), contudo, afirmou ao O POVO que não mantém diálogo com órgãos governamentais e nem tem interesse em participar de eventuais obras para estender a ferrovia de Salgueiro à Região Metropolitana de Recife.
A empresa confirmou, porém, que “após manifestação favorável unânime do TCU, Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, Ministério dos Transportes, BNB e Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a Sudene deverá liberar nos próximos dias a última parcela (do financiamento da obra)”.
Com essa liberação, conforme a TLSA será possível contratar as obras iniciais de estruturas de três novos lotes, ligando Acopiara a Quixadá, um trecho de 151 km de ferrovia, e detalhou ainda, que “no Ceará, há 136 km totalmente executados e outros 100 km em obras de infraestrutura (lotes
MVP02 e MVP03, entre Lavras da Mangabeira e Acopiara)”.
Por sua vez, a Sudene afirmou por meio de nota que pagou R$ 3 bilhões em valores não atualizados à empresa responsável pela Transnordestina, via Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE).
“A TLSA solicitou à Sudene o pagamento da última parcela referente ao financiamento, no valor de R$ 811 milhões. Este desembolso havia sido suspenso pelos órgãos de controle”, explicou o órgão.