A visão sobre os grandes répteis pré-históricos tem mudado muito desde o lançamento do clássico do cinema "Jurassic Park - Parque dos Dinossauros" (1993), do diretor Steven Spielberg. Nos últimos 30 anos, a paleontologia — área da ciência que estuda os animais do passado —, foi revolucionada por descobertas que têm desafiado o imaginário popular sobre os dinos.
Os antigos répteis marrom-acinzentados e pelados das telas de cinema foram substituídos por animais cheios de plumas com cores vibrantes, que tinham sangue quente e cuidavam de seus filhotes. E outra: os temidos tiranossauros possivelmente não tinham seus dentes expostos como se imaginava. O POVO reuniu as principais pesquisas dos últimos anos sobre esses animais tão fascinantes.
Uma das descobertas que podem mudar a ideia que temos dos dinos foi publicada recentemente, no dia 30 de março, na revista Science. O estudo afirma que os tiranossauros rex (T-rex), diferentemente de sua imagem popular, teriam lábios cobrindo os dentes afiados.
Segundo o estudo, os dinossauros terópodes (subordem de dinossauros bípedes, como o T-rex) foram historicamente retratados com dentes completamente visíveis devido à sua proximidade filogenética com os crocodilos, que têm a dentição exposta com a boca fechada diante do tamanho enorme dos seus dentes. Porém, de acordo com os pesquisadores, os T-rex provavelmente tinham lábios cobrindo a boca — tal qual os atuais dragões-de-komodo.
Os pesquisadores observaram, além de outras características, o desgaste do esmalte dos dentes de dinossauros e crocodilos. Segundo Thomas Cullen, um dos autores do estudo, o esmalte na parte externa da arcada dentária dos crocodilos vivos se desgasta mais rapidamente do que na parte interna, pois eles não têm lábios.
Os pesquisadores queriam saber se os dentes dos tiranossauros eram tão grandes que não cabiam na boca do dinossauro e os compararam com vários lagartos com lábios.
Alguns desses lagartos têm dentes tão grandes que “parece quase inacreditável que esses dentes possam estar completamente cobertos pelos lábios e, no entanto, estão”, afirmou Cullen. "E descobrimos que (...) essa relação de escala é quase idêntica nos dinossauros terópodes", acrescentou.
Uma das principais descobertas sobre dinossauros dos últimos 30 anos foi o achado de fósseis com penas na China, na década de 1990, reforçando a ligação dos dinossauros com as aves atuais.
Segundo a paleontóloga e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Aline Ghilardi, “nós já entendíamos que as aves possivelmente eram descendentes diretas dos dinossauros, mas depois dessas descobertas, hoje, indubitavelmente, podemos dizer que aves são um grupo de dinossauros que sobreviveu a extinção”.
Além da presença de penas, a coloração dos dinossauros tem sido foco de muitas pesquisas. Nos anos 2000, começam a ser descobertos melanossomos (estruturas que contêm melanina) em penas de dinossauros fossilizadas. A partir daí, foram descritos dinos até mesmo com cores iridescentes, semelhantes às penas dos beija-flores atuais.
Mas nem tudo em "Jurassic Park" estava errado. Embora antes se acreditasse que os dinossauros tinham comportamentos lentos parecidos aos dos lagartos de sangue frio dos dias de hoje, pesquisas mostram que muitos deles tinham metabolismo semelhante aos animais de sangue quente — o que os tornava mais ativos, como os retratados no filme.
Outro ponto no qual muitos dinossauros se diferem dos répteis atuais é o comportamento social complexo. “Eles podiam viver em grupos e alguns deles eram pais zelosos, faziam ninhos, cuidavam dos filhotes. No início dos estudos de dinossauros, se acreditava que eles se comportavam muito mais como alguns répteis atuais, que simplesmente largam seus ovos,” explica Aline.
Com o avanço da ciência, o futuro promete que cada vez mais novas descobertas revolucionem a paleontologia. Muitos fósseis que já foram descritos no passado, agora estão sendo reestudados com o surgimento de novas tecnologias.
"Nós temos o auxílio também de técnicas que hoje são usadas na engenharia para entender como era a biomecânica desses seres, como eles caminhavam, como eles corriam, como eles voavam, como nadavam, todas ferramentas que não estavam disponíveis no passado,” afirma a professora Aline Ghilardi.
A paleontologia tem evoluído também em relação ao etnocentrismo do hemisfério norte. Segundo Aline, por muito tempo, explorou-se muito os fósseis da América do Norte e da Europa, mas, proporcionalmente, ainda se sabe pouco sobre os dinossauros do hemisfério sul, principalmente na América do Sul e na África. “E o Brasil está desempenhando um papel maravilhoso nesse processo com as descobertas que têm sido publicadas aqui, principalmente nos últimos 20 anos,” afirma a paleontóloga.