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Desvendando a evolução dos dinossauros: o caso dos sacos aéreos
Reportagem Seriada

Desvendando a evolução dos dinossauros: o caso dos sacos aéreos

Paleontólogos brasileiros analisaram fósseis dos dinossauros mais antigos do mundo (encontrados no Rio Grande do Sul) para entender como surgiram os sacos aéreos, estruturas que hoje possibilitam as aves a voar
Episódio 25

Desvendando a evolução dos dinossauros: o caso dos sacos aéreos

Paleontólogos brasileiros analisaram fósseis dos dinossauros mais antigos do mundo (encontrados no Rio Grande do Sul) para entender como surgiram os sacos aéreos, estruturas que hoje possibilitam as aves a voar
Episódio 25
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Se hoje as aves dominam os céus é graças aos sacos aéreos, estruturas em formato de bolsa que ajudam os pássaros a reduzir a densidade dos ossos e a respirar melhor. Esses sacos aéreos são uma herança evolutiva dos dinossauros, os ancestrais dos animais alados modernos. Ocorre que não eram apenas os dinossauros avianos que possuíam a estrutura, como não-avianos também, além dos pterossauros, primos alados que não têm nada a ver com aves.

Reconstrução do dinossauro sauropodomorfo Buriolestes, um dos fósseis analisados. (Foto: Márcio L. Castro)
Foto: Márcio L. Castro Reconstrução do dinossauro sauropodomorfo Buriolestes, um dos fósseis analisados.

Por muito tempo, os paleontólogos questionaram como essas estruturas surgiram em saurópodes (os dinossauros pescoçudos), em terópodes (carnívoros bípedes) e em pterossauros, um mistério evolutivo difícil de se desvendar por falta de material e de tecnologia.

Agora, pesquisadores brasileiros descobriram parte da explicação analisando os fósseis mais antigos do mundo, encontrados no Rio Grande do Sul. Em artigo científico inédito, publicado nesta sexta-feira, 9 de dezembro, na revista científica Scientific Reports, a resposta que poderia estar em um “simples” ancestral comum se provou bem mais complexa e interessante.


 

 

Sacos aéreos surgindo independentemente

Para responder a origem dos sacos aéreos, a pesquisa liderada pelo paleontólogo Tito Aureliano "Doutorando na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e integrante do Laboratório de Diversidade, Icnologia e Osteohistologia (DINOlab/UFRN)" foi até os dinossauros mais antigos do mundo. Uma viagem internacional, quem sabe até a China? Não. Uma viagem ao Rio Grande do Sul, estado com redutos fósseis do período Triássico, de 233 milhões de anos atrás, os ancestrais dos dinos.

Ao O POVO+, ele explicou que a equipe escolheu três fósseis para análise: os sauropodomorfos Buriolestes e Pampadromaeus, e o herrerassaurídeo "Uma família de dinossauros que surgiu e se extinguiu no Triássico" Gnathovorax. Eles tinham a maior quantidade de materiais para a investigação, por isso foram os escolhidos.

Reconstrução do dinossauro herrerassaurídeo Gnathovorax, um dos fósseis analisados.(Foto: Márcio L. Castro)
Foto: Márcio L. Castro Reconstrução do dinossauro herrerassaurídeo Gnathovorax, um dos fósseis analisados.

Após estudos anatômicos, morfológicos e uma microtomografia, veio a resposta: nenhum deles tinha saco aéreo. Ou seja, o surgimento dessa estrutura não vem de um ancestral comum, mas de processos diferentes e independentes.

Significa que cada uma dessas famílias de dinossauros e pterossauros tinham alguma informação no código genético, uma “receita dormente”, com potencial para criar um saco aéreo. E por diversas pressões ambientais ― como extremos climáticos ― as bolsas evoluíram nos bichos, cada qual com uma função específica.

No caso dos saurópodes, foi o que os permitiu ficarem gigantescos, capturarem mais oxigênio e perderem mais calor. Para os terópodes, as estruturas também eram úteis para crescerem, mas definitivamente foi o que garantiu que eles, na modernidade, conquistassem os céus.

Já os pterossauros também aproveitaram os sacos aéreos para voar e crescer. Alguns deles tinham ossos tão leves quanto folhas de papel, comparam os paleontólogos Tito Aureliano e Aline Ghilardi, co-autora da pesquisa e professora na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

"É como se fosse um sucateiro", brinca Aline, ao explicar como a evolução é capaz de usar o mesmo design para demandas diferentes. “(Os sacos) podem até ter surgido com a mesma função entre esses animais, mas foram reaproveitados depois." Afinal, se algo funciona bem da maneira como está, para quê desenvolver um produto novo?

"Oie, eu sou a Catalina, repórter do OP+! Te convido a comentar o que achou sobre essa descoberta no fim da matéria. Vamos conversar! :D"

 

 

O poder da evolução

A compreensão das espécies e de como elas habitaram o mundo perpassa muito pela evolução. Enquanto para o universo científico a descoberta de Tito e equipe é uma comemoração paleontológica, para os curiosos e amantes da ciência ela é mais uma demonstração de como a natureza é interessante.

Reconstrução do dinossauro sauropodomorfo Pampadromaeus, um dos fósseis analisados. .(Foto: Márcio L. Castro)
Foto: Márcio L. Castro Reconstrução do dinossauro sauropodomorfo Pampadromaeus, um dos fósseis analisados. .

A mesma estrutura surgiu em bichos diferentes, permitindo-os sobreviver às adversidades de diferentes maneiras. Mesmo entendendo isso, ainda existem muitas perguntas a serem respondidas. Quem sabe, a novidade seja a chave para entender como alguns dinossauros dominaram o mundo.

Por exemplo, há milhões de anos o Brasil continuava bem quente. Os sacos aéreos ajudavam os dinossauros a se refrescarem, como se fossem ar-condicionados ambulantes. Mas dinossauros como os Tricerátops não tinham essa estrutura, e nem existiam em terras brasileiras. Será que as bolsas são uma resposta para o aparente insucesso de dinos como eles por aqui?

A pesquisa também serve para mostrar a força do Brasil no campo científico. Não apenas por guardar os fósseis mais antigos do mundo, mas também por demonstrar como a colaboração equitativa entre todas as regiões e pesquisadores brasileiros e a simetria de poder na ciência é a melhor estratégia para inovar. “Com a parceria tivemos trocas muito boas, uma diversidade de cabeças e pensamentos. As grandes ideias saem disso”, comemoram os pesquisadores.

"O que você acha? Que outros enigmas o solo brasileiro ainda nos ajudará a desvendar?"

 

 

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