Dois dias após o encerramento da votação presidencial nos Estados Unidos, o cenário na corrida pela Casa Branca tem mais forma. Vitórias de Joe Biden em Wisconsin e em Michigan colocaram o candidato democrata a um passo (seis delegados) de atingir a marca dos 270 votos no Colégio Eleitoral necessários para ser eleito. Nevada (seis delegados) e Pensilvânia (20 delegados) devem ter resultados divulgados hoje e até amanhã, respectivamente. Enquanto isso, o presidente republicano Donald Trump iniciou ofensivas judiciais em ao menos quatro estados para tentar reverter os quadros que lhe são desfavoráveis.
De acordo com projeções de veículos e agências de imprensa americanas como a Associated Press (AP) - referência na apuração eleitoral no país -, Biden venceu em Wisconsin (10 delegados), Michigan (16 delegados). Além disso, seguia liderando em Nevada (seis delegados) até o fechamento desta edição. Nos dois primeiros estados, ele virou o jogo em relação à primeira noite de apuração, quando Trump estava na frente. A chegada de votos por correio, contados depois em várias cidades, deu a Biden boa vantagem na corrida presidencial.
Nevada, que volta a contar votos na tarde de hoje (Horário de Brasília), é o cálculo perfeito para o democrata. Se vencer lá, Biden está eleito independentemente do resultado em qualquer outro estado ainda em aberto, pois atingiria exatamente os 270 delegados. Caso fique com esse número, seria a margem mais apertada no Colégio Eleitoral desde 1964, quando este passou a contar com 538 delegados. Em termos de voto popular, Biden já soma mais de 72 milhões, superando desempenho de Barack Obama em 2008 (69,4 milhões), e tornando-se a pessoa mais votada em uma eleição presidencial na história do país. Trump somava 68,5 milhões até o início da madrugada de hoje.
Com 98% de apuração na Geórgia, outro estado que pode ser definidor, Trump tinha vantagem de apenas 0,65% (pouco mais de 31 mil votos). Na prática, o voto por correio poderia dar a liderança para Biden e com isso, o triunfo.
TRUMP voltou a tentar emplacar discurso, sem apresentar provas, de que a eleição estaria fraudada e prometeu ir à Justiça
Enquanto o democrata caminha rumo à Casa Branca, Trump inicia ofensivas judiciais para tentar barrar o processo em estados-chave. O republicano submeteu pedido às Justiças da Geórgia, de Michigan, de Wisconsin e da Pensilvânia, para que a contagem fosse paralisada.
Pela regra de Wisconsin, como a diferença foi menor que 1% dos votos, a solicitação de recontagem é permitida. Ontem, a campanha republicana divulgou nota após as viradas de Biden justificando as ações pelo país. "Há relatos de irregularidades em vários locais do Wisconsin, que alimentam dúvidas sobre a veracidade dos resultados. O presidente está dentro do limite para solicitar uma recontagem, e assim o fará imediatamente", afirma o texto.
As contestações do presidente e a indicação de levar resultado para o Justiça começaram ainda na madrugada de quarta-feira, quando discursou na Casa Branca falando em fraude, sem apresentar provas. "Francamente, nós vencemos essa eleição. Está acontecendo uma enorme fraude neste país (...) Vamos à Suprema Corte. Queremos que todas as votações parem. Não queremos que eles (os democratas) encontrem cédulas às 4 horas da manhã e adicionem à lista", disse a apoiadores na Casa Branca.
Biden por sua vez, passou o dia incentivando a contagem de "todos os votos", sabendo que na maioria dos estados ainda a serem decididos os votos restantes tendiam a favorecê-lo. No fim da tarde, o democrata discursou para apoiadores sem declarar vitória, mas disse estar confiante de que poderá atingir a marca de delegados necessários para a vencer. Caso eleito, Biden seria também o presidente mais velho do país ao assumir com 78 anos.
Há meses, analistas previram o cenário que está se desenhando e alertaram para fenômeno classificado como "miragem vermelha" (em referência a cor do Partido Republicano). Nele, Trump terminaria a noite de eleição à frente em alguns locais, mas o grande volume de votos por correio poderiam fazer o democrata retomar a liderança.
Até a 1 hora de hoje, o placar de delegados indicava 264 a 214 para Biden. O número mágico é de 270. Trump liderava a apuração de Geórgia, Pensilvânia e Carolina do Norte, mas Biden tinha boa possibilidade de virar nos dois primeiros. Para ser eleito, Trump precisaria "gabaritar", sem exceção, Geórgia, Nevada, Carolina do Norte, Pensilvânia. Um cenário difícil para ele.