O deputado estadual André Fernandes (Republicanos) aproveitou o primeiro dos 30 dias da suspensão de mandato que lhe foi imposta na última quinta-feira, 20, pela Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE) para atacar a cobertura do caso dele pela imprensa local, alvo costumeiro das insatisfações que expõe.
"A imprensa tentou, desde o início, criar a narrativa de que eu tinha feito uma acusação sem provas", escreveu numa rede social. Então classificou os profissionais da área de "canalhas." O deputado propôs o desafio a jornalistas e políticos de encontrarem qualquer tipo de manifestação pública na qual tenha acusado Nezinho Farias (PDT) sem provas.
A imprensa tentou, desde o início, criar a narrativa de que eu tinha feito uma acusação sem provas.
— André Fernandes (@andrefernm) August 21, 2020
CANALHAS! O DESAFIO ESTÁ LANÇADO!
Quem acredita que fui suspenso por isso, não é capaz de entender 1% de como funciona o SISTEMA.
Eu não faço parte do sistema, e isso incomoda!
Alvo de uma sanção inédita na história do Legislativo cearense, ele deve aproveitar os dias de suspensão para intensificar nas redes sociais a defesa do pensamento de que a punição nada mais foi do que uma arbitrariedade conduzida pelo grupo majoritário no Parlamento, liderado pelos irmãos Ciro e Cid Gomes, do PDT.
Atacar a imprensa e os colegas deputados, então, é uma frente de natureza política da argumentação que seguirá utilizando nos dias de afastamento. O tom que usou na última sessão é sintomático disso. Afirmou que atravessava aquele processo tão somente por ser diferente da maioria dos colegas, ou seja, um opositor. "Eu não faço parte do sistema, e isso incomoda", disse.
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O ultradireitista também estampou o rosto dos 29 parlamentares que votaram a favor da punição a ele, de modo a pressioná-los, como disse ao O POVO que faria.
Outra frente de defesa que se soma ao enfrentamento político é a de que pediu sigilo ao encaminhar ao Ministério Público do Ceará (MPCE) denúncia que estabelecia vínculo entre Nezinho Farias (PDT) e uma facção criminosa. "Encaminhar uma denúncia para que o órgão competente apure os fatos não é acusar, é exercer meu papel parlamentar", sustentou em outro trecho da postagem.
Fernandes ainda buscou o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) um dia antes da votação para que a Corte anulasse a sessão que lhe puniu. Na noite de quinta-feira, com a situação já encerrada entre os deputados, o desembargador Inácio Cortez Alencar emitiu decisão indeferindo o pedido do bolsonarista.
Ex-assessor e braço direito de Fernandes, Inspetor Alberto (Pros) afirmou ser possível que o amigo divulgue nesse período o nome das pessoas que lhe encaminharam a denúncia para que ele levasse ao MPCE.
Em plenário, Delegado Cavalcante (PSL) afirmara que o aliado foi alvo de pessoas que entregaram denúncia sabidamente falsa. Fernandes, porém, não detalhou a denúncia em plenário, como cogitou fazer.
Para Alberto, que também esperava esse detalhamento, Fernandes deve ter sido orientado pelos advogados a evitar o tema. Procurado, Fernandes não respondeu às perguntas do O POVO.