A pouco mais de três semanas das eleições 2020, o governador Camilo Santana (PT) e o candidato à Prefeitura de Fortaleza Capitão Wagner (Pros) voltaram a duelar pelas redes sociais. O pivô do atrito ainda é o envolvimento do concorrente ao Paço com a paralisação de policiais militares no início do ano.
Nessa terça-feira, 20, Wagner rebateu a acusação de Camilo, que lhe atribui papel de liderança no motim da PM em fevereiro passado. Para ele, a versão de que teria alimentado essa mobilização é "fake news".
A afirmação consta de ferramenta virtual, lançada pelo postulante, na qual promete rebater afirmações falsas contra ele. Entre essas supostas mentiras, está a de que teria encabeçado o ato.
No site, Wagner argumenta que "não tinha nenhum motivo para desejar uma paralisação de policiais, especialmente em ano eleitoral", e que "liderava as pesquisas de intenção de voto e não havia razão para estimular um movimento paredista".
O candidato conclui dizendo que, "por outro lado, o Governo do Estado deixou para enviar a proposta de aumento de salário dos policiais justamente em 2020", sugerindo viés político na ação.
Instantes depois, o governador Camilo Santana voltou à carga após ter dito, na semana passada, que o nome do Pros na corrida eleitoral havia se reunido com "encapuzados", numa referência aos policiais mascarados.
Camilo escreveu: "Fake news? As imagens de seus discursos inflamados para os grupos de encapuzados e amotinados? Sua luta pública para dar anistia aos envolvidos nos atos criminosos do motim contra a população? Capitão Wagner, se não se arrepende do que fez, pelo menos assuma os seus atos".
Como exemplo, o chefe do Abolição publicou imagens de Wagner no 18º Batalhão da PM, no bairro Antônio Bezerra, epicentro do motim da polícia.
Wagner treplicou. Em mensagem enviada à reportagem e depois veiculada nas redes, o candidato respondeu que Camilo fala em assumir atos, mas não se responsabiliza pelos números da violência no Ceará.
"Interessante o governador falar em assumir atos. Quando os índices de violência caem, é mérito dele. Quando sobem, a culpa é dos outros", contra-atacou.
"Enquanto isso", continuou o postulante, "o Ceará segue como um dos estados mais violentos do Brasil. Ele, que não dialogou. O cacique do seu grupo usou uma retroescavadeira contra as pessoas. No meu mandato, vamos escutar todos".
Interessante o governador falar em assumir. Qd os índices de violência caem, mérito dele. Qd sobem, culpa dos outros. E o CE segue no topo do ranking da violência. Ele ñ dialogou. O cacique do seu grupo jogou uma retroescavadeira nas pessoas. No meu mandato, vamos escutar todos.
— Capitão Wagner (@capitao_wagner) October 20, 2020
O episódio é mais um enfrentamento público entre o governador e o líder nas pesquisas de intenção de voto para a Prefeitura de Fortaleza. Sem poder manifestar-se politicamente a favor de qualquer candidatura, salvo a do PT, que lançou Luizianne Lins na disputa, Camilo tem tentado desgastar o deputado federal no pleito.
Dias atrás, também em reação a uma declaração de Wagner, Camilo afirmou que o candidato "tanto liderou o motim de 2012 como teve participação direta nesse último motim, que teve clara motivação política para desorganizar a segurança do Ceará".
O governador acrescentou: "Capitão Wagner participou ativamente de manifestações com encapuzados, discursou no Batalhão dos amotinados e teve seus aliados na linha de frente, todos integrantes de seu grupo político e candidatos ao seu lado. As notícias e imagens estão aí para quem quiser ver".
Se o deputado se manteve frio e não retrucou, a postura agora é outra. Em conversa com a reportagem, uma fonte ligada à campanha de Wagner disse que a orientação é não deixar mais críticas sem resposta. Não irão atacar, mas todo ataque terá revide à altura. Exemplo da nova postura foi o embate entre o candidato e o governador ontem.
Reservadamente, um aliado falou que a candidatura do PDT não pode se esconder atrás de Camilo o tempo inteiro. A leitura, disse, é que a participação do petista nas eleições tem limites impostos pela legislação eleitoral.