Logo O POVO+
Glêdson Bezerra: sem líder de governo, sem base consistente e pressionado por três CPIs
Politica

Glêdson Bezerra: sem líder de governo, sem base consistente e pressionado por três CPIs

| Juazeiro do Norte | Prefeito da maior cidade do Cariri não conseguiu construir base de apoio sólida entre vereadores que lhe assegurasse tranquilidade política. Ele enfrenta três CPIs e imbróglios na Justiça Eleitoral
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
PREFEITO de Juazeiro do Norte tem início de gestão com relação turbulenta com o Legislativo
 (Foto: Reprodução)
Foto: Reprodução PREFEITO de Juazeiro do Norte tem início de gestão com relação turbulenta com o Legislativo

As relações de prefeitos de oposição ao governador Camilo Santana (PT) com as respectivas câmaras municipais variam, dependendo mais da realidade local do que o posicionamento dos gestores municipais em relação ao Executivo estadual. Três casos deixam essa realidade patente: Juazeiro do Norte, Caucaia e Maracanaú.

No município do Cariri, Glêdson Bezerra (Podemos) assumiu a Prefeitura após vencer o ex-prefeito, mas não construiu base sólida de parlamentares. Em Caucaia, o retrato é similar somente no aspecto que envolve a vitória eleitoral de um opositor de Camilo sobre um prefeito da base aliada.

A diferença é de que Vitor Valim (Pros) atraiu vereadores e, hoje, tem vida fácil na Câmara de Caucaia. Em Maracanaú, reina o grupo político de Roberto Pessoa (PSDB) há 17 anos. Somente um vereador move oposição contra ele (ver infográfico). 

Do conjunto dos 21 vereadores de Juazeiro do Norte, somente sete estariam de fato no campo de apoio a Glêdson. Ele já tentou mudar o quadro, como no almoço com dez vereadores no início de maio. Mas o que colhe mesmo é uma relação repleta de dificuldades.

A gestão tem contra si duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs). Elas investigam suspeitas de nepotismo e de contratos temporários supostamente irregulares. Seriam três, mas a CPI do Fura Fila ganhou desfecho nessa terça-feira, 15, com o pedido de afastamento da secretária de Saúde.

Ainda que se situe na base de Glêdson Bezerra, o vereador Beto Primo (PSDB) faz críticas abertas à condução política dele. "Admito que a base dele hoje deva contar, com certeza mesmo, somente com sete", ele disse. Questionado sobre como define a articulação política do governo Glêdson, Primo respondeu: "eu acho muito ruim”. À avaliação negativa se seguiu o motivo: "diálogo" No caso, a escassez dele.

Do grupo dos “independentes”, William Bazílio (PMN) afirma querer somar com a gestão, “só que a gestão não quer conversa com os vereadores.” O parlamentar destaca que o prefeito “não é uma má pessoa”, mas cogita a possibilidade de que seja mal assessorado.

Às vésperas do início do segundo semestre de 2021, o Executivo de Juazeiro do Norte ainda não definiu o líder do governo no Legislativo, um dos primeiros atos dos vencedores, pouco antes ou logo depois de tomarem posse. O parlamentar que exerce a liderança é o encarregado de defender os interesses da gestão no Legislativo.

É um exercício que demanda habilidade para a negociação e o convencimento. “Se amanhã tivesse uma sessão para votar (afastamento do prefeito)”, exemplifica Primo, “ele seria afastado”.

Das principais vozes da oposição, Capitão Vieira (PTB) oferece o mesmo diagnóstico. Fala em pouco diálogo. O adversário, presidente da CPI que investiga contratos fantasmas, também fala em “arrogância” e “prepotência”.

Uma paralisação de servidores municipais foi realizada em 15 de junho, em frente à sede da Prefeitura de Juazeiro, jogando mais pressão sobre Glêdson. As secretárias da Saúde e da Educação do Município receberam dois ofícios, um para cada, do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Juazeiro do Norte (Sisemjun).

Os documentos pedem, entre outros pontos, a criação de um adicional de insalubridade em razão do estado de emergência decorrente da crise sanitária. Também demandam a criação de gratificação extraordinária de combate ao Covid-19, entre outros tópicos.

Glêdson anunciou aumento do salário de médicos contratados, segundo ele há 11 anos congelado, para um valor igual ao dos concursados. De acordo com a gestão, de R$ 5,3 mil para R$ 10,4 mil, a partir de julho.

Um helicóptero, muitos problemas

A Justiça Eleitoral também é outro fator de complicação para Glêdson Bezerra desde a campanha em que venceu Arnon Bezerra (PTB), então prefeito que buscava reeleição. As contas de campanha do atual prefeito e do vice, Giovanni Sampaio (PSD), foram desaprovadas pela 119ª Zona Eleitoral.

Na decisão que desfavoreceu os dois, o juiz Francisco José Mazza Siqueira se concentrou principalmente no uso de um helicóptero do empresário Gilmar Bender. A aeronave sobrevoou uma carreata promovida pela campanha do então candidato. As imagens foram exploradas nas redes do então candidato do Podemos.

Os custos com o helicóptero não aparecem nas contas da campanha sob alegação de que aquele foi um gesto "espontâneo" do empresário, que queria vê-lo vencedor da disputa - e principalmente Arnon Bezerra derrotado.

O POVO procurou o prefeito Glêdson Bezerra por meio do seu telefone celular durante esta semana. A assessoria de comunicação dele também foi contatada. Os questionamentos foram sobre sua percepção da tumultuada relação com os vereadores. Não houve retorno até o fechamento desta reportagem.

Procurado, o presidente estadual do Podemos, Fernando Torres, afirmou ao O POVO que a relação com o Legislativo deveria ser discutida diretamente com o prefeito. Mas ele afirmou que o correligionário é um dos maiores prefeitos do Ceará.


O que você achou desse conteúdo?