O primeiro discurso de Tasso Jereissati (PSDB) no Senado, em 2003, e o último, em 2022, tiveram o mesmo assunto: Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No primeiro, o petista havia recentemente tomado posse no primeiro mandato de presidente. No último, havia sido eleito para retornar ao Palácio do Planalto, após dois mandatos e uma prisão.
A relação entre os dois foi permeada por momentos de aproximação até o conflito aberto. E, reconhece Tasso, a presença de Lula mudou a política no Ceará a partir de 2002.
"Aquela eleição é um ponto de inflexão aqui no Ceará, porque dali por diante o nome do Lula passou a ter muita força. Até hoje. Quem elegeu o nosso governador atual foi o Lula. Lula, Lula, Lula. Nessa eleição (2002) foi que nós conhecemos pela primeira vez a força do Lula aqui no Ceará, no Nordeste inteiro e que o nome dele e a presença dele faziam modificar alguns resultados das eleições aqui", disse o tucano.
Aquela eleição foi a mais disputada da história do Ceará. Candidato tucano, Lúcio Alcântara quase venceu no primeiro turno. Mas, no segundo turno, José Airton Cirilo (PT) foi empurrado pela "onda Lula". O petista perdeu por uma diferença de 3.047 votos, a menor já vista na eleição estadual. A força de Lula ficou evidente. "Quem desequilibrou aqui, até hoje desequilibra, é o Lula", reconheceu Tasso.
O senador sentiu ele próprio essa força na única derrota que teve na trajetória política, em 2010, para o Senado. "Tudo é um aprendizado, né?", conta, rindo. "Mas ali foi de novo: Lula".
Tasso disputava a reeleição no Senado era favorito. Lula entrou em campanha aguerrida por Eunício Oliveira (MDB) e José Pimentel (PT). Os dois foram eleitos.
"Foi um aprendizado de humildade. A gente aprender que tinha um adversário aqui que realmente eu não podia com ele nesse sentido", afirma Tasso.
Passada a eleição, o então governador reeleito Cid Gomes disse, em entrevista exclusiva ao O POVO, que houve precipitação de Tasso, ao romper a aliança e ir para a oposição no Ceará. Segundo Cid, ele ainda articulava para montar uma composição na qual fosse possível apoiar o tucano. Mas, Tasso disse que não é o que ele estava percebendo. "O Lula era forte, o Lula determinaria a eleição aqui e ninguém queria ficar contra o Lula aqui durante a eleição. Então a escolha naquele momento, oportuna, era para ficar do lado do Lula. E eu fazia oposição ao Lula no Senado Federal. Como disse o general lá: simples assim. E eu entendi, claro, o cara quer ganhar a eleição. Eu percebi claramente que ele não queria saber, queria uma aliança que tivesse o Lula".
Tasso retornou ao Senado em 2014 — eleição na qual a base de Lula se dividiu no Estado entre Eunício e Camilo Santana (PT), razão pela qual o hoje presidente da República não fez campanha no Ceará.