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Tasso: o balanço de uma era
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Tasso: o balanço de uma era

| Percurso | Quando se encerra aquele que anuncia como o último mandato eletivo, Tasso Jereissati revisita a trajetória que transformou o Ceará e se transformou em uma era no Estado
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Tasso Jereissati (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Tasso Jereissati

Quando a nova legislatura tomar posse no Congresso Nacional, em 1º de fevereiro, estará encerrada não na vida pública, mas em mandatos eletivos, aquela que provavelmente é a mais relevante trajetória da história da política no Ceará. Tasso Jereissati (PSDB) conclui o segundo mandato de senador. "Eu acho que tudo tem um ciclo na vida da gente e assim meu ciclo se encerra".

Só ele e Nogueira Acióli, este na virada do século XIX para o século XX, tiveram três mandatos de governador do Ceará. Tasso acumula ainda dois mandatos de senador, somando 16 anos. Ninguém tem tanto tempo em postos desse peso na história do Estado — Acióli até foi senador, mas não concluiu nem a metade de um mandato.

Assista:

Há quem ame e quem deteste Tasso, mas é impossível negar a importância política dele. Nem negar que o Ceará era um antes de ele tomar posse, em 15 de março de 1987, e é outro agora, que ele abandona as disputas eletivas.

Tasso recebeu O POVO para uma conversa de quase duas horas ao longo da qual ele percorreu a própria trajetória, desde as raízes familiares, a carreira empresarial, a imprevista entrada na política, as alianças, os rompimentos, os aliados, os adversários e as perspectivas.

Ele vem de uma raiz política. O pai, Carlos Jereissati, foi o principal líder do PTB cearense. Aliado de Getúlio Vargas, foi deputado federal e depois senador. Morreu, porém, no terceiro mês de mandato. Na época, Tasso tinha 14 anos. O filho entraria na política mais de duas décadas após a morte do pai. Mas, não foi um herdeiro eleitoral. Muito tempo se passara, quase todo sob a ditadura militar.

O ingresso na política, ele define como acaso. Começou com a formação de um grupo de jovens empresários que se organizou no Centro Industrial do Ceará (CIC) e teve projeção pública. Mas, a intenção, ele assegura, não era de lançar candidato. Isso ocorreu em função de uma convergência de circunstâncias.

O governador era Gonzaga Mota, que havia rompido com os padrinhos políticos: os coronéis Virgílio Távora, Adauto Bezerra e César Cals. Filiado ao PMDB, o governador não tinha candidato e o nome apoiado pelo trio era tido como imbatível. Numa jogada ousada, Gonzaga Mota foi ao grupo do CIC.

Tasso tinha acabado de passar por uma grande cirurgia cardíaca, aos 36 anos. "Eu liguei para o meu médico, achando que ele ia dizer: 'Não faça essa loucura'. E ele disse ao contrário. Ele disse: 'Olha, na sua idade, é muito normal você ter depressão depois desse tipo de cirurgia. Isso (ser candidato) é a melhor coisa que pode lhe acontecer. Você vai ter tanto problema que não vai ter tempo de ter depressão'. Foi o que aconteceu".

A expectativas não eram grandes. "Eu comentei com esse grupo: vamos marcar uma posição. Não é para ganhar. A gente precisa mostrar que existem alternativas". Ele foi eleito para o primeiro de três mandatos de governador, de 1987 a 1991, 1994 a 1998 e 1999 a 2002. Teve ainda dois mandatos de senador, de 2003 a 2011 e de 2015 até agora.

Porém, considera que aquele início de trajetória foi o momento mais importante. "Eu acho que o meu melhor governo foi o primeiro. Porque foi o mais difícil. Esse foi o momento da ruptura de todo esse sistema", relembra. "(O Ceará) Saiu de estado mais endividado, mais caloteiro, mais devedor etc, para o estado que estava em melhores situações administrativas no país inteiro". 

Ele comemora que as conquistas se sustentaram nos governos desde então. "Acho que nós temos do ponto de vista administrativo um avanço gigantesco. sem querer ser presunçoso, não fui só eu, foram muitos. Fizemos uma escola de administração pública, que predomina até hoje".

Mas, destaca que foi difícil promover as mudanças e enfrentar as resistências. "Tinha de trincar os dentes e suportar tudo que vinha. E suportei muita coisa".

Mesmo destacando tudo que melhorou, vê ainda uma grande preocupação: "Temos problemas sérios na segurança". E aponta um risco de volta às práticas do passado. "Acho que nós estamos em um processo de retrocesso na política, o que é perigoso. Na maneira de fazer política, no clientelismo, na cooptação dos deputados através de favor do chefe. Isso é um retrocesso perigoso aqui. Para mim me frustra bastante. Esse retrocesso tem uma certa conexão com o retrocesso que está tendo no Brasil hoje".

Do ponto de vista dos mandatos políticos, a não ser que haja uma mudança de rota, a era Tasso chega ao fim. Porém, não significa aposentadoria. Ele afirma que seguirá fazendo política.

Leia a íntegra da entrevista

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