Manifestações por todo o país contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Blindagem colocam ainda mais pressão sobre os deputados e a Câmara Federal, que vêm sendo duramente criticados desde a votação da semana passada.
Neste domingo, dezenas de cidades brasileiras foram palco de protestos contra a proposta aprovada na Câmara dos Deputados, que agora tramita no Senado. A PEC visa blindar políticos e presidentes de partidos de uma série de sanções antes mais facilmente aplicáveis, permitindo que eles próprios decidam se as acusações contra seus colegas devem ou não seguir adiante. Uma medida que ameaçaria a transparência e o combate à impunidade.
Algumas das cidades receberam milhares de manifestantes, especialmente São Paulo e Rio de Janeiro, além de outras capitais como Salvador e Fortaleza. As imagens das ruas carregadas de cartazes, bandeiras de diversas cores, fantasias e rostos de deputados cearenses que votaram a favor da PEC ilustram a força do sentimento popular contrário à medida.
A repercussão social tem sido intensa, com uma enxurrada de críticas nas redes, cobranças aos parlamentares que apoiaram a PEC e uma maioria esmagadora de rejeição à proposta. Uma pesquisa Quaest revelou que mais de 80% dos brasileiros desaprovam a medida — um dado que demonstra que o tema conseguiu ultrapassar as fronteiras da polarização, atingindo diferentes espectros políticos e sociais.
Nas ruas, além de críticas ao governo Bolsonaro e ao PL da Anistia, a blindagem aprovada pelos parlamentares parece ter unido o povo brasileiro na adversidade.
Em Fortaleza, a Praia de Iracema virou palco de uma grande manifestação Popular. Bandeiras de várias cores, cartazes, rostos de deputados que votaram a favor da PEC e discursos políticos ecoaram por lá. Movimentos estudantis, sociais e representantes do campo progressista também marcaram presença. O presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, deputado Romeu Aldigueri (PSB), fez um discurso contundente contra a votação secreta, afirmando que a cidadania não aceita mais que políticos decidam secretamente sobre investigações e possíveis punições, numa afronta à transparência e ao respeito às leis.
"É um absurdo. O Brasil merece respeito. Não podemos aceitar, em pleno século XXI, que o Congresso dê as costas ao povo. A Constituição é clara: todos somos iguais perante a lei. Não faz sentido políticos decidirem, às escondidas, quem será investigado ou punido. O voto secreto, nesses momentos, é inadmissível", afirmou ao O POVO.
Desde a aprovação da PEC, muitos deputados que votaram a favor tentam se justificar ou negar sua participação, alegando confusão na hora do voto ou até mesmo negando a votação favorável, apesar das evidências. Com as eleições próximas, ninguém quer arriscar sua imagem e perder votos, principalmente quando o eleitorado demonstra uma clara rejeição à medida.
As manifestações de 21 de setembro reforçam que o povo brasileiro tem voz e capacidade de se mobilizar em defesa de seus direitos e do seu futuro. Essas ações mostram que a indignação é real e que a sociedade pode se organizar espontaneamente para exigir respeito e transparência por parte de seus representantes.
É improvável que o Senado, agora na posição de revisora da PEC, aprove a proposta. Os atos de domingo reforçam que a maioria da população não aceita medidas que beneficiam apenas os privilegiados do Congresso, colocando em risco a moralidade e a credibilidade do sistema político brasileiro.